Luis Montenegro, terminou a sua longa intervenção na rentrée de Verão, garantindo que o PSD não ficaria de plantão no Pontal e iria para o terreno fazer oposição ao Governo de acordo com a missão que lhe foi atribuída pelos eleitores. As palavras de Montenegro, levou-as o vento do fim de tarde algarvio, mas a mensagem subliminar não.
Essa mensagem definiu o discurso e toda a encenação que o rodeou. Montenegro não deixou o partido, mas deixou Passos Coelho de Plantão no Pontal como penhor para a sua liderança, destronando Francisco Sá Carneiro, um estadista e um liberal moderno para a sua época, do papel que normalmente lhe tem sido reservado como memória e primeira referência do PSD.
A clareza com que Montenegro abraça a herança de Passos e reforça o “Passismo” como modelo de ação é importante para a clarificação da paleta política e programática na nossa democracia. A retoma da linha neoliberal, cuja prática concreta os portugueses já experienciaram entre 2011 e 2015, ocorre num momento em que um livro elaborado pela SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) conjuga a perspetiva social e a abordagem liberal num interessante programa de renovação do potencial de crescimento e desenvolvimento, visando a duplicação do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 20 anos. O documento da SEDES, além de constituir um bom referencial para o debate construtivo, desmonta a ideia de modernidade do neoliberalismo retomado pelo PSD ou dos liberalismos radicais que vão tentando ganhar tração no nosso cenário político.
É sobre este terreno já semeado de ideias, requentadas umas e inovadoras outras, que o Governo terá que redesenhar e adaptar o seu programa de ação e a sua estratégia de comunicação, para dar resposta aos desafios colocados pelo novo quadro económico e político que está a emergir com os impactos da guerra.
Vamos viver, na arrancada do novo ano político, a um dos mais importantes momentos para a democracia e para a sua sobrevivência, com consequências diretas nas condições de vida dos cidadãos. Estão no terreno múltiplas medidas para ajudar as famílias e as empresas mais vulneráveis. Outras medidas estão em preparação e deverão ser anunciadas em breve. Vários investimentos estão em curso e muitos outros, privados, públicos e em cooperação, estão aprovados e preparam-se para arrancar.
Não há boa comunicação se não houverem boas medidas e factos para comunicar. Havendo, como sabemos que há, em resultado da conjunção da atratividade crescente do País com o esforço da sociedade civil, dos empresários e dos empreendedores e do Governo através da aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência e de vários pacotes de medidas conexas, será essencial dar à mobilização coletiva um sentido sistémico, integrador e motivador, resistente à fragmentação e à descoordenação.
O período estival gera sempre um certo vazio de debate e contraditório que abre espaço para o tiro ao alvo, muito praticado mais uma vez este ano com desvelo e pouco critério. A resposta do Governo tem que ser forte, agregadora, promovendo energias e sinergias com as pessoas e a bem delas, esteja quem estiver de plantão ou de faroleiro de barcaças soltas nos rumos da oposição.
Eurodeputado do PS