Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas questões que tocam diretamente a muitas famílias, como é o caso do custo das creches, que não tem um peso assim tão pequeno num país com os salários médios de Portugal, exigem um pouco mais de sensibilidade. “Agora que já não tenho filhos nas creches é que vão ser gratuitas!”, ouvi ontem. Percebe-se que não pode haver retroativos infinitos para todas as políticas públicas. Neste caso, para todos os pais que algum dia pagaram creches virem reclamar o seu reembolso. Mas limitar a creche gratuita a crianças nascidas a partir de setembro de 2021 que vão para a escola pública pela primeira vez no próximo ano, podendo resolver no imediato o problema de algumas famílias, é uma “boa notícia” que cria mais uma injustiça e descredibiliza quem decide.
Sendo impossível (é?) o Estado garantir já a creche gratuita a todas as crianças em idade de andarem na creche no próximo ano – e não estamos propriamente a falar de um país em que os bebés abundem – não seria mais sensato manter a medida apenas para crianças de famílias de baixos rendimentos em vez de criar uma barreira artificial entre quem nasce em agosto ou setembro de 2021 para anunciar uma medida que vai beneficiar 30 mil crianças, não por serem as que mais precisam entre as que não têm atualmente apoios, mas porque os pais engravidaram num mês ou noutro? E trabalhar em mais vagas?
Também já não tenho filhos em idade de creche – o tempo voa – e felizmente tivemos os avós e a pandemia com os seus tempos loucos de casa-trabalho-creche-escola, mas vivi esta mesma perplexidade com a “folha de excel” que decidiu a comparticipação das vacinas da meningite B. Em julho de 2020 passaram a ser gratuitas para crianças nascidas depois de janeiro de 2019. Quem tinha bebés nascidos meses antes ou até irmãos um pouco mais velhos e quis vacinar os filhos, afinal a vacina passou a fazer parte do PNV por recomendação técnica – e as crianças andam todas nas mesmas escolas a passar viroses umas às outras independentemente do mês em que vieram ao mundo -, continuou a ter de pagar 90 euros (por dose!). Porquê? Porque sim. Nem os miúdos suportam este tipo de resposta, quanto mais os adultos que pagam os seus impostos.