Baixou o nível de alerta, mas os incêndios continuam sem dar tréguas e ontem voltaram a matar. Dois idosos morreram a tentar fugir da aldeia de Penabeice, em Murça. Segundo os relatos no local, o casal na casa dos 70 anos tentou fugir pelos próprios meios e despistou-se de carro numa altura em que os acessos à localidade estavam cheios de fumo. A viatura caiu numa ravina. “Encontrámos a viatura completamente carbonizada, casal que morreu dentro da viatura”, afirmou o presidente da Câmara de Murça em declarações à SIC Notícias. “É uma situação completamente dramática que está a acontecer no concelho de Murça, com mais de metade do concelho a arder. Os meios são insuficientes”, constatava o autarca.
Depois de a Proteção Civil adiantar que as causas do acidente estavam a ser analisadas no terreno, o presidente da República lamentou as mortes. “Independentemente do contexto em que ocorreu e das causas o que terão motivado, não posso deixar de lamentar profundamente o acidente de viação que motivou duas mortes no concelho de Murça e de apresentar os meus sentimentos aos familiares das vítimas”, declarou o chefe de Estado à agência Lusa. No briefing da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o comandante André Fernandes admitiu preocupação com os fogos de Murça, Guarda e Vila Pouca de Aguiar, que mobilizavam o maior número de meios para o concelho de Vila Real, garantindo que seriam despachados reforços para a região Norte. “Estamos numa situação de grande complexidade do ponto de vista meteorológico, os incêndios têm grande progressão. É necessário ter cuidado e adequar comportamentos face à grande expansão que ganham”, alertou.
Quatro mortes desde a semana passada O acidente trágico na aldeia de Penabeice eleva para quatro as mortes provocadas pelos incêndios desde a semana passada, depois de o corpo de uma mulher ter sido encontrado carbonizado na freguesia da Lagoinha, na Murtosa, onde os bombeiros combatiam um incêndio, e do acidente que vitimou o piloto André Serra em Foz Côa. Ainda assim, no balanço, a Proteção Civil referiu apenas três mortes.
No balanço da Proteção Civil, os incêndios que se multiplicaram no país nos últimos dias já obrigaram a retirar de casa cerca de 900 pessoas.
Ontem, contabilizou o i, foi passada a barreira dos 50 mil hectares consumidos, mais de metade desde a semana passada, em que ardeu tanto como em todo o ano passado.
Com o verão pela frente e a hipótese de uma nova onda de calor atingir o interior no final da semana, o cenário agrava-se e 2022 já não ficará entre os anos com menos fogos, com as críticas à desordenação da floresta e dispositivo de combate a voltarem a emergir.
O ano passado, com 28.360 consumidos pelas chamadas, tinha sido o melhor registo dos últimos anos. O pior remonta a 2017, com 539.921 hectares queimados.
Até este domingo tinham já ardido, segundo a monitorização agora feita em tempo real pelo Instituto de Conservação de Natureza e Florestas, 46.766 hectares, balanço que os fogos que lavraram ontem empurram para os mais de 50 mil hectares.
O fogo voltou ontem a obrigar ao corte da A25 entre Guarda e Celorico da Beira, num incêndio que atingiu pelo menos três viaturas. Em termos de dados, o Governo garante que o levantamento está a ser feito. “Dos mais de 40 mil hectares que arderam este ano, metade é floresta, um terço é mato e 10% é área agrícola”, afirmou ontem a ministra da Agricultura Maria do Céu Antunes, adiantando que, à medida que os incêndios sejam considerados extintos e o levantamento feito a nível local pelas direções regionais, o Governo poderá “acionar medidas de estabilização de emergência e de restabelecimento do potencial produtivo”.
Reunião da seca na sexta-feira Com as temperaturas elevadas e os termómetros a poder voltar aos 40ºC em algumas zonas do país esta semana, a situação de seca no país, que já era severa a extrema em boa parte do território, vai-se agravando. Segundo o i apurou, a próxima reunião interministerial da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca está marcada para esta sexta-feira.