Ucrânia. Zelensky quer novas sanções enquanto se prepara para violento confronto no Este

Ucrânia. Zelensky quer novas sanções enquanto se prepara para violento confronto no Este


Numa altura, em que a Ucrânia se prepara para um dos maiores confrontos desde o início da invasão da Rússia, o Presidente Zelensky instigou a Europa a preparar a sexta ronda de sanções ao Kremlin.


A Ucrânia pediu uma nova onda de sanções contra Moscovo e mais reforços para o seu arsenal militar, numa altura em que o país enfrenta uma grande ofensiva na zona Este. Durante o discurso de sábado à noite, o Presidente ucraniano afirmou que as agressões da Rússia não são, e nunca foram, limitadas à Ucrânia, declarando que toda a Europa é um alvo do Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

O uso da força por parte da Rússia é “uma catástrofe que, inevitavelmente, chegará a todos”, afirmou Zelensky, que apelou ao Ocidente a impor um embargo total aos produtos energéticos russos e voltou a reforçar a importância de fornecer mais armas à Ucrânia.

Este comentário do Presidente ucraniano aconteceu um dia depois de, pelo menos 52 pessoas, terem sido mortas num ataque na estação de comboios e, numa altura, em que imagens do satélite Maxar, divulgadas no domingo, mostram uma caravana militar a ir para o Sul, para Donbass, através da cidade ucraniana de Velykyi Burluk.

O assessor da Presidência ucraniana Mykhailo Podoliak disse que o país está preparado para travar uma “grande batalha” no Este do país, um alvo que considera prioritário para a Rússia e onde a retirada de civis continua, mesmo com  o receio de uma ofensiva iminente. Segundo as Nações Unidas, mais de 4,5 milhões de pessoas já fugiram da guerra.

O Estado-Maior do exército ucraniano disse também que “o inimigo russo continua a preparar-se para intensificar as suas operações ofensivas no Leste da Ucrânia e assumir o controle total das regiões de Donetsk e Lugansk”, em Donbass. “Esta será uma batalha árdua, acreditamos nesta luta e na nossa vitória. Estamos prontos para simultaneamente lutar e procurar meios diplomáticos para pôr fim a esta guerra”, disse Zelensky. 

“Ninguém quer negociar com uma pessoa ou pessoas que torturaram esta nação. É tudo compreensível. E como homem, como pai, entendo isso muito bem”, disse Zelensky em entrevista à Associated Press. “Não queremos perder a oportunidade de alcançar uma solução diplomática, se a tivermos”. O negociador ucraniano Mykhailo Podolyak disse que Zelensky e Vladimir Putin não se encontrarão até que a Rússia seja derrotada no este, escreve o Guardian.

Zelensky quer mais sanções

De forma a enfraquecer a ofensiva russa, Zelensky revelou no Twitter que esteve a falar ao telefone com o chanceler alemão Olaf Scholz sobre a possibilidade de novas sanções adicionais, assim como um novo reforço nos setores da defesa e apoio financeiro ao seu país. Hoje os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia vão discutir um sexto pacote de sanções contra a Rússia, no entanto, a suspensão das compras de petróleo e gás divide os 27.

“É necessária a unanimidade para a adoção de sanções. Podemos ver claramente as dependências face à Rússia em vários Estados-membros”, sublinhou Josep Borrell, acrescentando que a UE não irá “apresentar algo que não vai passar” e que “as propostas devem ser feitas na hora certa”.

Caso o desejo de Zelensky se concretize, esta será a sexta ronda de sanções aplicadas contra a Rússia, que incluem um embargo ao carvão russo, o encerramento de portos europeus, a proibição de exportações para a Rússia, em particular de bens de alta tecnologia, até 10 mil milhões de euros, e novas sanções contra os bancos russos. E esta será a primeira vez que os europeus atingem o setor energético russo, do qual são muito dependentes. 

A União Europeia importa 45% do seu carvão da Rússia por um valor de quatro mil milhões de euros por ano. O embargo irá entrar em vigor no início de agosto, 120 dias após a publicação do novo pacote de sanções.

As sanções foram também estendidas a uma larga lista de apoiantes do Kremlin, uma lista negra que inclui mais de dois mil nomes, incluindo oligarcas russos e as duas filhas de Putin, Maria Vorontsova, de 36 anos, e Katerina Tikhonova, de 35, de acordo com um documento analisado pela agência de notícias AFP.. A Rússia “vai sofrer uma longa descida ao isolamento económico, financeiro e tecnológico”, escreveu no Twitter a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Visita surpresa de Boris

Sem anúncios prévios, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, fez uma viagem surpresa para a Ucrânia onde se encontrou com Zelensky e promoteu dar uma grande ajuda ao país. Mas apesar de esta ajuda ainda estar sujeita à aprovação do Parlamento, Johnson revelou que irá entregar a Kiev 120 veículos blindados e mísseis antinavio, bem como 800 projéteis antitanque, para fazer frente às forças invasoras russas. “A Ucrânia desafiou todas as probabilidades e afastou as forças russas dos portões de Kiev, alcançando o maior feito de armas do século 21”, disse o primeiro-ministro britânico, citado pelo Guardian. 

“É por causa da liderança resoluta do presidente Zelensky e do heroísmo e coragem invencíveis do povo ucraniano que os objetivos monstruosos de Putin estão a ser frustrados. Deixei claro que o Reino Unido está inabalavelmente com a Ucrânia nesta luta contínua, e estamos envolvidos a longo prazo”, confessou.

Durante o encontro, os dois líderes falaram ainda sobre ajuda económica e Johnson anunciou uma nova rubrica de financiamento de 500 milhões de dólares (cerca de 450 milhões de euros) para a Ucrânia através do Banco Mundial, o que eleva o montante total de fundos comprometidos por esse meio para mil milhões de dólares (cerca de 910 milhões de euros).

Depois desta viagem, Johnson tornou-se, o primeiro líder de um país do G7 – grupo que reúne as maiores economias mundiais – a visitar a Ucrânia desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro.