A arte da diplomacia ou o “menor preço a pagar”?


No mês de março, Espanha reconhece, surpreendentemente, o direito de Marrocos sobre o Saara Ocidental. Este conflito que perdura desde 1975, onde 500.000 saarauis reclamam o direito à autodeterminação, foi sempre apoiado pela Argélia, que viu aqui a possibilidade de ter um corredor para o Atlântico.


Felizmente, a diplomacia no mundo vai conseguindo, muitas vezes, fazer a “arte” de conjugar o impossível, mantendo a paz, se bem que nunca sem algum preço, esperando sempre que se pague o menor. Ao invés da “barbárie” e posições extremadas, onde o “maior” preço se paga na Ucrânia. 

No mês de março, Espanha reconhece, surpreendentemente, o direito de Marrocos sobre o Saara Ocidental. Este conflito que perdura desde 1975, onde 500.000 saarauis reclamam o direito à autodeterminação, foi sempre apoiado pela Argélia, que viu aqui a possibilidade de ter um corredor para o Atlântico. Surge, assim, um ponto e vírgula nas relações entre o Rei de Marrocos e o de Espanha, que tinham piorado recentemente, refletindo-se nos episódios que assistimos com a entrada desenfreada de migrantes nas duas cidades do Reino de Espanha, no continente Africano, Ceuta e Mellilla, onde o “baixar de braços e o olhar para o lado” das autoridades fronteiriças marroquinas foram um claro aviso de como precisamos uns dos outros.

Marrocos, que há séculos reclama, e na minha opinião com justiça, estes dois territórios (bem como Espanha o rochedo de Gibraltar), consegue ganhar algo em troca em manter os bons serviços a Espanha e a toda a Europa, também esta complacente com a “moeda de troca”. O Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros defende que esta mudança de posição da Espanha não vai contra a resolução da ONU nem contra a posição da UE, sendo que esta sempre defendeu que o conflito deve ter uma solução no quadro da ONU, que desde 1963 coloca a situação do Saara Ocidental na lista dos territórios não autónomos, mantendo-o num “limbo”.

A Espanha mudou de posição, reconheceu o direito de Marrocos sobre os mesmos, mas aos “olhos” da UE, está tudo na mesma. Fantástica, a arte da diplomacia!

A UE recupera um parceiro importante e fiável no controlo das fronteiras com África. Espanha, que sofre como ninguém esta pressão, respira de alívio mas afasta também um problema com Marrocos (até ver!) que é a negociação dos territórios de Ceuta e Melilla; a Argélia mostra-se muito irritada, mas acredito que será compensada pelo aumento da venda de gás à Europa; os sarauís aguardam: são o “preço a pagar”!

Na melhor das hipóteses divide-se o território, que na verdade já foi geograficamente dividido com o maior muro, só menor que a Muralha da China, podendo ficar com a parte interior, sendo a outra metade pertencente ao Reino de Marrocos, que nos últimos 47 anos, muito investiu no território e transferiu mais de 350.000 marroquinos num movimento que ficou conhecido como Marcha Verde.

É o equilíbrio possível, bem à porta do nosso vizinho.

E voltando à Ucrânia, qual a solução? o combate até ao último Homem e Mulher; a negociação da parte do seu território, sendo que a Crimeia fora desde 1783 até 1954 território da Rússia e até 1991 da União Soviética? ou o Donbass de maioria russa cuja independência é reivindicada desde 2014?

Não tenho respostas certas, apenas pretendo promover a reflexão, dando um exemplo mais próximo, com o qual ficamos mais tranquilos, claro que a moeda de troca foram os sauuris: o menor preço a pagar!

Presidente da Câmara Municipal de Olhão e presidente da AMAL

A arte da diplomacia ou o “menor preço a pagar”?


No mês de março, Espanha reconhece, surpreendentemente, o direito de Marrocos sobre o Saara Ocidental. Este conflito que perdura desde 1975, onde 500.000 saarauis reclamam o direito à autodeterminação, foi sempre apoiado pela Argélia, que viu aqui a possibilidade de ter um corredor para o Atlântico.


Felizmente, a diplomacia no mundo vai conseguindo, muitas vezes, fazer a “arte” de conjugar o impossível, mantendo a paz, se bem que nunca sem algum preço, esperando sempre que se pague o menor. Ao invés da “barbárie” e posições extremadas, onde o “maior” preço se paga na Ucrânia. 

No mês de março, Espanha reconhece, surpreendentemente, o direito de Marrocos sobre o Saara Ocidental. Este conflito que perdura desde 1975, onde 500.000 saarauis reclamam o direito à autodeterminação, foi sempre apoiado pela Argélia, que viu aqui a possibilidade de ter um corredor para o Atlântico. Surge, assim, um ponto e vírgula nas relações entre o Rei de Marrocos e o de Espanha, que tinham piorado recentemente, refletindo-se nos episódios que assistimos com a entrada desenfreada de migrantes nas duas cidades do Reino de Espanha, no continente Africano, Ceuta e Mellilla, onde o “baixar de braços e o olhar para o lado” das autoridades fronteiriças marroquinas foram um claro aviso de como precisamos uns dos outros.

Marrocos, que há séculos reclama, e na minha opinião com justiça, estes dois territórios (bem como Espanha o rochedo de Gibraltar), consegue ganhar algo em troca em manter os bons serviços a Espanha e a toda a Europa, também esta complacente com a “moeda de troca”. O Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros defende que esta mudança de posição da Espanha não vai contra a resolução da ONU nem contra a posição da UE, sendo que esta sempre defendeu que o conflito deve ter uma solução no quadro da ONU, que desde 1963 coloca a situação do Saara Ocidental na lista dos territórios não autónomos, mantendo-o num “limbo”.

A Espanha mudou de posição, reconheceu o direito de Marrocos sobre os mesmos, mas aos “olhos” da UE, está tudo na mesma. Fantástica, a arte da diplomacia!

A UE recupera um parceiro importante e fiável no controlo das fronteiras com África. Espanha, que sofre como ninguém esta pressão, respira de alívio mas afasta também um problema com Marrocos (até ver!) que é a negociação dos territórios de Ceuta e Melilla; a Argélia mostra-se muito irritada, mas acredito que será compensada pelo aumento da venda de gás à Europa; os sarauís aguardam: são o “preço a pagar”!

Na melhor das hipóteses divide-se o território, que na verdade já foi geograficamente dividido com o maior muro, só menor que a Muralha da China, podendo ficar com a parte interior, sendo a outra metade pertencente ao Reino de Marrocos, que nos últimos 47 anos, muito investiu no território e transferiu mais de 350.000 marroquinos num movimento que ficou conhecido como Marcha Verde.

É o equilíbrio possível, bem à porta do nosso vizinho.

E voltando à Ucrânia, qual a solução? o combate até ao último Homem e Mulher; a negociação da parte do seu território, sendo que a Crimeia fora desde 1783 até 1954 território da Rússia e até 1991 da União Soviética? ou o Donbass de maioria russa cuja independência é reivindicada desde 2014?

Não tenho respostas certas, apenas pretendo promover a reflexão, dando um exemplo mais próximo, com o qual ficamos mais tranquilos, claro que a moeda de troca foram os sauuris: o menor preço a pagar!

Presidente da Câmara Municipal de Olhão e presidente da AMAL