Mesmo com a trágica situação na Ucrânia, perante a guerra com a Rússia, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirma que “não há nenhum sítio na Terra” onde as pessoas estejam mais em risco do que em Tigray, uma das nove regiões da Etiópia.
O diretor-geral da OMS incitou todas as pessoas a não esquecerem a crise humanitária que existe neste país, referindo-se aos confrontos entre as forças leais do Governo federal, em Adis Abeba, aos combatentes da Frente de Libertação do Povo de Tigray, enquanto, ao mesmo tempo, as reservas de alimentos essenciais para crianças subnutridas se esgotam.
Durante uma conferência de imprensa, Tedros, que viveu em Tigray, expressou preocupação perante a fúria do Governo etíope e acusou este país de colocar a região em bloqueio. Face a estas acusações, o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, acusou o líder da OMS de ser “tendencioso” e de espalhar desinformação.
“Sim, sou de Tigray. Esta crise afeta-me pessoalmente, a mim, à minha família e aos meus amigos muito pessoalmente”, confessou Tedros. “Mas, como diretor-geral da OMS, tenho o dever de proteger e promover a saúde onde quer que esteja ameaçada. E não há nenhum lugar na terra onde a saúde de milhões de pessoas esteja mais ameaçada do que em Tigray”, afirmou o diretor-geral da organização, citado pelo Guardian.
Tedros comparou a situação vivida em Tigray com o que se está a passar na Ucrânia e a invasão russa e pediu ao mundo para não se esquecer desta região africana. “Assim como continuamos a pedir à Rússia que faça a paz com a Ucrânia, continuamos a pedir à Etiópia e à Eritreia que coloquem um fim ao bloqueio e ao cerco e que permitam o acesso seguro das forças humanitárias, do equipamento e trabalhadores de saúde para poderem salvar vidas”.
Apesar de nas últimas semanas equipamentos médicos terem começado a chegar a esta região, depois de um hiato de seis meses, a OMS e os médicos no local disseram que não é em quantidades suficientes para responder às necessidades da população.
Em janeiro, o Programa Alimentar Mundial (PAM) já tinha alertado que tinham sido feito os últimos fornecimentos de cereais, leguminosas e petróleo em Tigray, onde se estima que mais de cinco milhões de pessoas necessitam de assistência alimentar.
No início deste mês, os funcionários do maior hospital de Tigray avisaram que muitos dos seus pacientes estão a morrer devido à falta de equipamento médico, avançou o jornal inglês
Esta quarta-feira, Tedros informou que não existia material para cuidar, por exemplo, pelo menos 46 mil pessoas com HIV. “O programa foi abandonado. Pessoas com tuberculose, hipertensão, diabetes e cancro também não estão a ser tratadas e podem morrer”, acrescentando ainda que a falta de comunicação sobre o que se está a passar em Tigray torna esta situação “uma crise esquecida”. “Fora de vista, fora da mente”, concluiu.