Num mundo que cada vez mais se desenvolve em torno do binómio informação/energia, não é de estranhar que seja também em torno destes dois grandes vetores que se vai desenhando com maior nitidez o impacto económico e social da invasão perpetrada pela República Russa no território ucraniano.
Na energia em particular, confluem sob o teatro geopolítico múltiplas variáveis pesadas tendo em conta que o gás é a principal exportação da potência invasora, que vários países e em particular a União Europeia dependem dele para suprir as suas carências de abastecimento e que na equação existem centrais nucleares que são alvos de enorme perigosidade, numa guerra que se tenta a todo o custo que não escale para a dimensão dos átomos.
A centralidade da energia no impacto do conflito tem duas faces. Isolar o invasor nas suas exportações para os seus principais mercados provoca-lhe um dano económico muito relevante, mas ao mesmo tempo dele decorrerão danos colaterais no mercado importador com reflexos nos orçamentos das famílias e das empresas e na sociedade em geral.
As opiniões públicas europeias que foram decisivas no suporte democrático ao apoio à Ucrânia vão sofrer agora um forte assédio pelo exacerbar da contaminação da guerra, de que os preços da energia serão um forte indicador e a base de outros impactos em cadeia que é preciso controlar.
Na sequência de uma pergunta oral do Parlamento Europeu, que também subscrevi, sobre o aumento dos preços da energia e a manipulação dos preços do gás e ouvindo o clamor da sociedade e das empresas, a Comissão Europeia apresentou dia 8 de março a comunicação “REPowerEU”, que integra medidas para controlar preços, garantir fornecimentos e criar um mercado energético menos dependente do exterior e mais transparente.
São medidas ambiciosas que exigem coragem e eficácia na sua aplicação, designadamente na eficácia da regulação, na robustez dos apoios aos consumidores e às empresas, na gestão de abastecimentos e reservas e na consolidação de políticas que conduzam mais depressa á autonomia estratégica da união com base em energias sustentáveis e acessíveis.
A aposta na diversificação de abastecimentos, no investimento no Hidrogénio verde e nas infraestruturas de armazenamento e transporte, atribui um papel relevante à Península Ibérica em geral e a Portugal em particular, criando uma forte plataforma sudoeste de produção e abastecimento de energia renovável e reforçando também o seu papel como plataforma complementar de aquisição, constituição de reservas e abastecimento do mercado europeu. Para que isto aconteça os projetos de interligações tantas vezes adiados por mesquinhez política têm que ser retomados, atualizados e concretizados.
A “economia de guerra” em que vivemos tem na energia uma das suas principais armas de arremesso. A ameaça é inequívoca. Aproveitemos a oportunidade para regular melhor o mercado, torná-lo mais fluido, reduzir a dependência externa e liderar o combate ao desperdício e ao aquecimento climático. Na energia também há “guerras” que valem a pena! Que fiquemos depressa só por essas.