António Canteiro. “Temo dar ao meu leitor menos que rosas”

António Canteiro. “Temo dar ao meu leitor menos que rosas”


“Nocturno” é o seu mais recente romance e venceu o Prémio Ferreira de Castro de ficção narrativa 2020. Tem o selo da Gradiva e a marca forte do pianista António Fragoso e da pandemia que há cem anos viveu. Literatura e música juntam-se, envolvem-se, (con)fundem-se.


Escreve sob pseudónimo e vive atualmente em Febres, Cantanhede. Com Carlos de Oliveira partilha essa geografia cultural e literária que é a sub-região da Gândara e um modo discreto de estar na literatura.

Os muros do estabelecimento prisional onde trabalha saltam-lhe para os títulos dos livros; assim aconteceu como o romance “Ao Redor dos Muros” (2009). Os reclusos, antes mesmo de terminarem a pena, deixam as celas para habitar o xadrez narrativo: a prisão pode pouco diante da liberdade criativa. A de António Canteiro, tão atenta aos movimentos mais íntimos do mundo interior como à detida contemplação do mundo exterior, não dispensa o tempo lento, tão contrário às dinâmicas de hoje. Nem o que de mais humano e complexo há em nós e nas dores que nos habitam e nos cercam. O ritmo editorial, pouco apressado, sugere, desde logo, um modo de estar na literatura avesso a correrias, a frenesins criativos e a “dias triunfais”. O trabalho de escrita segue de perto esse ritmo. Talvez por isso também, não há romance ou livro de poesia que lhe tenha saído das mãos que não tenha obtido um prémio literário – todos instituídos por municípios ou por organizações próximas. Depois de “A Luz Vem das Pedras”, Prémio Alves Redol 2015 (publicado pela Gradiva em 2017), surge agora este “Nocturno”, que tem como protagonista o músico António Fragoso. A capa, que exibe uma tragédia sobreposta, é um óleo imponente assinado pela pintora Dina Lopes (1972, Anadia).

 

Vive na Gândara, que é, mais do que uma região, uma geografia literária, cultural…

Uma região de areias, uma zona muito pobre e que Carlos de Oliveira tratou muito bem. Mas não me vejo noutro sítio e não gostaria muito do movimento, da agitação de uma cidade grande. Mesmo Coimbra, onde vivi durante 7 anos, era para mim pouco inspiradora. Foi aqui que me tornei escritor e é aqui que quero ficar. Gosto desta acalmia, desta planura, de cuidar da minha horta. Gosto do cheiro das lagoas, dos lodos, desta terra húmida, o som dos pássaros, das cigarras, do bater das folhas dos choupos à noite, muito parecido com o som do mar. Todos os sentidos do ser humano funcionam aqui. E eu não prescindo disso.

Chegou a conhecer Carlos de Oliveira?

Sou vizinho do Carlos de Oliveira, moro a dois quilómetros da casa onde ele viveu. Não o conheci de perto, mas lembro-me de o ver na praça em Febres, onde ainda hoje vou, a fumar o seu cigarro, com aquela camisola de gola alta, a travessar a estrada. Eu teria pouca idade, não imaginava sequer vir a ser escritor, e já o admirava. Via-o com frequência na rua, aos fins de semana, que era quando ele vinha a Cantanhede, já com 50 e tal anos. Mas nunca falei com ele, embora tenha contactado, e ainda hoje, com amigos seus de infância. Ainda há dias falei com Denis de Ramos, que terá hoje uns 90 anos, e que conhecia bem a família. Vinha de lambreta a casa de Carlos de Oliveira trazer-lhe poemas para ele ver.

De onde lhe veio o pseudónimo?

António Canteiro foi o meu primeiro pseudónimo. Com ele, e o romance “Parede de Adobo”, concorri ao Prémio Carlos de Oliveira e adoptei esse pseudónimo para sempre. António era, aqui, o nome dado ao filho mais velho de uma prole de dez. E assim a homenagem à Gândara, que é em Cantanhede metade do concelho. A outra parte, Canteiro, tem que ver com partir pedra, dos canteiros de Ançã. Sempre considerei que João Carlos Costa da Cruz não dava para ser um nome diferente na escrita; parecia-me pouco literário. Daí que tenha adoptado o nome do concelho onde vivo; reúne as duas partes mais significativas.

Os seus romances moram longe da cidade grande e do chamado “realismo urbano”.

Sim. E parece-me que o romance “A Luz que Vem das Pedras” (2017), uma história feita de acasos, retrata bem a região da Gândara, mas não apenas. As pessoas aqui da Gândara passavam a Bairrada, entravam no Caramulo, onde iam para tratar a tuberculose. O romance é a história de uma família que sendo abonada – terras, casa grande com criados, pinhais – foi perdendo os bens porque a matriarca ficou tuberculosa e teve de se ir tratar para o Caramulo, onde esteve dois anos. Naquela altura, não havia SNS… a família foi vendendo, vendendo, até ficar completamente despida de bens. É uma história de retalhos.

Como tinha sido já o romance “Ao Redor dos Muros”, que venceu o Prémio Alves Redol?

Sim, esse romance é composto por retalhos de reclusos, cada um com a sua história. Daí os capítulos Cela Um, Cela Dois… É o meu primeiro romance publicado na Gradiva.

Profissionalmente, move-se longe do meio literário…

Sim, sou técnico superior na Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais. A minha formação original é em Serviço Social. Na altura, era o Instituto de Reinserção Social, também um serviço do Ministério da Justiça, e eu candidatei-me através de concurso público. Depois de entrevistas, testes vários, consideraram que tinha perfil para o lugar e fui tomar posse na cadeia de Paços de Ferreira, onde estive três anos. Muitas histórias também são daí.

Boas histórias? Os reclusos e a vida prisional alimentam bem a escrita?

Histórias muito curiosas, porque a cadeia em Aveiro, onde trabalho agora, tem noventa e cinco por cento de preventivos e só cerca de cinco por cento de condenados. A de Paços de Ferreira é ao contrário: muitos condenados com penas longas, porque é uma Central, e uma pequena percentagem de preventivos, sobretudo da região, até para nem criar grande dificuldade à família, por causa das visitas. São indivíduos com histórias de vida fantásticas. Ia tirando notas e escrevendo pequenas coisas sobre um ou outro recluso com histórias interessantes. Na altura, havia bastantes reclusos de Leste e houve uma história de um certo Nicolau que deu um capítulo ao romance “Ao Redor dos Muros”. Ele tinha uma companheira cá fora, que arranjou outra pessoa e só me pedia que fosse ver se os miúdos eram bem tratados; e eram. A história de um cigano deu outro capítulo. Um outro foi-me inspirado por um indivíduo com problemas de alcoolismo, que teve depois um acidente com um papa-reformas e acabou preso; não foi inocentemente que se jogou com o veículo para cima da vizinha: não gostava dela … [risos]. Foi um homicídio tentado.

Quando termina o dia de trabalho, a população prisional fica ou acompanha-o?

Não, nem pensar. Fica. Eu chego à esquina dos correios, logo a seguir ao meu serviço, e já estou a pensar no livro que vou ler no regresso a casa. A partir do momento em que, no computador, dou o clique nas horas, acabou; desço as escadas, saio à rua e já estou em processo de transição. Não se trata de agir friamente, quase como os psicóticos. Enquanto lá estou, estou lá inteiramente, cumpro o meu dever, dou o meu melhor. Ainda há dias percorri uns dois quilómetros a pé para acompanhar um indivíduo ao Centro de Alcoólicos Recuperados. Ele poderia ter ido sozinho, mas temia que se desorientasse. Enfim, vou a todo lado, a acampamentos de ciganos, mas quando saio do serviço, saio. Não trago trabalho de casa. O meu trabalho de casa é ler, estar em família, também toco flauta transversal (fiz Conservatório), ouço música. Faço esta higiene bem feita ao serviço, para no outro dia, às nove horas, estar de novo disponível.

Os reclusos sabem que é escritor?

Há quem até já me tenha pedido para escrever a sua história. Mas inicialmente era uma coisa que me preocupava e eu não queria que soubessem. Não me sentia bem desnudar-me como escritor, principalmente no meio profissional. E parecia-me que era necessário distinguir o João Carlos Costa da Cruz, que assina os relatórios para julgamentos, liberdades condicionais, do António Canteiro, que tem um trabalho fora do trabalho. Mas esse meu receio, ou esse meu pudor, tenho vindo a perdê-lo, mesmo porque já tenho feito apresentações com reclusos, lá dentro, já estive na cadeia de jovens de Leiria… Por outro lado, sempre receei vir a ter fama, ser muito conhecido. Não gostaria.

E os reclusos, de início, como é que receberam o escritor?

Eles apreciaram bastante: o livro foi lido, fizeram-se trabalhos. Houve até pessoas que tinham condições económicas e que quiseram ficar com o livro. Foi o caso de Manuel Godinho [o sucateiro de Ovar], que estava preventivo em Aveiro.

E por que razão receia a fama?

Gosto de estar na penumbra, ou de ir sendo descoberto. Como aconteceu com uma professora polaca que dava aulas de Erasmus em Lisboa e viu o meu livro no Porto, comprou-o na livraria Lello. Chegou a mim através da Gradiva, depois contactou, ela própria, uma editora inglesa, porque gostaria de dar aquele livro a ler aos seus alunos e queria vertê-lo para inglês. E nós não fizemos nada. E eu gosto assim, prefiro assim. Uma vez, ainda na minha fase pré-revelação, uma das professoras da cadeia abeirou-se de mim e disse que tinha encontrado, num manual do 12.º ano, um texto fantástico de António Canteiro. Abriu o livro na secretária e mostrou-me. Eu fiquei sem fôlego… Ela nem desconfiava que era eu. Foi o clique para o escritor António Canteiro ser apresentado aos alunos, lá dentro. Foi o abrir um pouco esse anonimato. Pensei: mas por que é que tenho de andar escondido, guardado? Mas continuo a preferir que as coisas surjam naturalmente.

Acha que certos expedientes, alguns de uso comum, acabam a engrossar o número dos que, julgando estar a apontar aos céus da literatura, acabam depois a engrossar o chamado lixo editorial?

Li “A Louca da Casa”, da Rosa Montero, um livro que cruza o romance com o ensaio, e ela distinguia muito entre a fama e a glória. Aparecer num manual, para mim – eu que sempre ia ver os textos que apareciam nos manuais dos meus filhos – foi um momento de glória, se calhar o melhor prémio que tive. Se tivesse usado de outros meios, desses expedientes que se usam agora, não lhe teria dado tanto valor. E depois tenho a noção de que aquelas coisas que se procuram muito na juventude, fama incluída, não existem para um escritor. É claro que há um Saramago, há um Lobo Antunes, há a Sophia, o Herberto Helder e esses são conhecidos. Mas quem é que lê, por exemplo, Carlos de Oliveira? No seu centenário, a nível local, houve várias iniciativas; de resto, o centenário passou quase silencioso. Se calhar, nos próximos cem anos não se falará mais de Carlos de Oliveira. Eu, num patamar cá muito em baixo, não espero ser lembrado.

O António já concorreu a diversos prémios instituídos por municípios – e acabou muitas vezes a ganhá-los. O que é que o move a enviar originais para mãos estranhas?

Concorro aos prémios para sentir mais segurança, porque isto é um processo de aprendizagem: vamos crescendo. Gosto de ser apreciado por um júri, e nada melhor do que provas cegas para isso ser feito. Se um júri analisa um original e o premeia, em princípio é porque tem qualidade. E aí, sim, sinto que devo avançar para a publicação. Ainda hoje – não sei se é insegurança, se é receio, e também estou naquela fase em que não sei se haverá próximo livro… – acho que não devemos destruir a natureza por coisas que não valem a pena vir a público. Acontece-me muitas vezes estar diante de livros, folheá-los e sentir que foi ali desperdiçado dinheiro, e foi dada uma machada forte na natureza – para nada.

Machada forte é uma expressão que poderia descrever bem o efeito que as primeiras páginas do seu mais recente romance, “Nocturno”, causam no leitor. Mas não apenas as primeiras, o que fica a dever-se, em boa parte, a um ritmo imagético intenso, praticamente sem quebras.

Talvez isso se deva ao modo como escrevo. Nunca começo um livro pelo princípio. Começo um livro pelo fim, ou pelo meio. O romance pode estar escrito na minha cabeça, mas é por etapas que ele vai sendo construído, como se tivesse sacos-capítulos que vou enchendo. É uma técnica um pouco esquisita, mas sempre foi assim. É um processo lento, que reclama leituras e releituras. Até o livro seguir para a editora, nunca me dou por satisfeito, leio do início para o fim, do fim para o início. Prefiro, por vezes, tirar um todo, enviá-lo para o lixo que sentir que essa parte não me satisfaz, que fica ali a destoar de um todo.

É o próprio tempo que faz com que as coisas se esclareçam?

Justamente. E enquanto isso não acontece, não me é possível estar limpo par uma nova aventura. Preciso de limpar. Falta-me a disponibilidade mental para avançar noutro projecto. Vou escrevendo pequenos textos, sempre na perspectiva de que não vou escrever um romance de um fôlego. Como em causa própria há sempre dificuldades em avaliar, deixo repousar.

E na poesia (que também escreve), as coisas processam-se de modo semelhante?

Na poesia é um pouco assim também. Vou metendo coisas em arquivo. Tenho um arquivo de poemas revistos, outro de poemas novos, outro de poemas de segunda classe, que provavelmente nunca serão publicados, por vezes são só devaneios. O Saramago tinha uma frase que dizia: “A quem alguma vez deste rosas, nunca dês menos que rosas”. E eu dei aos meus leitores coisas que eu sinto que foram boas. Estou cada vez mais exigente e temo isso. Temo dar ao meu leitor menos que rosas, no futuro. Não quero.

Mas voltemos a “Nocturno”. O romance decorre no tempo da gripe pneumónica e centra-se na figura do músico António Fragoso, vítima dessa pandemia, aos 21 anos. Debaixo do mesmo tecto, aliás, morrem, numa única semana, 6 pessoas unidas por laços familiares. O resultado final poderia ter sido o que chamamos um dramalhão. Temeu que isso pudesse acontecer?

Inicialmente, achei que era um empreendimento difícil de conseguir. Duvidei muito. Se desistisse, não ficaria bem comigo porque comecei a entrevistar e a estar com frequência com o sobrinho do músico, o Dr. Eduardo Fragoso, que me deu imensos Cds de António Fragoso. Ia ouvindo e ia escrevendo, fazia pequenos textos, mas sempre sem a garantia que dali sairia um romance. Se eu escrevesse uma biografia simples, ela em si já seria suficientemente trágica. Mas mais do que contar a vida de António Fragoso eu queria contar a história de uma aldeia e de um tempo. Não surgem por acaso as canções da catequese, as toadas da aldeia, o coro dos peregrinos sobre a ida à Senhora de Vagos… Começo por dar um soco no estômago do leitor. Primeiro a morte, depois a vida. Foi essa a estratégia. O sobrinho do músico gostou do resultado final, e tendo sido o Dr. Eduardo Fragoso editor, primeiro na Bertrand, depois na Lello, durante mais de 30 anos, sossegou-me um pouco.

Cada capítulo recebe o título de uma obra musical do genial António Fragoso. São fortes, naturalmente, as relações que o romance estabelece com a música. Mas essa relação ultrapassa a mera referência. O que temos aqui são interferências entre as artes, como se a palavra, por vezes, se convertesse num duplo da música. Foi difícil alcançar esta relação intensa, estrutural?

Fiz cinco anos de teoria musical e mais três ou quatro de flauta transversal no conservatório de Coimbra. E isso já me dava alguma tranquilidade, embora não toda, para poder aventurar-me sobre a escrita. Mas o meu ouvido educado para a música ajudou bastante, sim. Ouvi repetidamente, por ex., “La mort d' Ase” do Grieg; parava a música e escrevia. Estava ali a sentir por um lado o que o Grieg sentiu quando escreveu aquilo, por outro o que o Fragoso terá sentido quando tocou pela última vez aquela música, toda aquela revolta do calcar no teclado do piano, as falanges…. Queria transpor isso para a literatura com a mesma intensidade. Também foi fundamental neste processo o impacto de ter convivido com o Dr. Eduardo Fragoso, que me contou tanto, e com a pintora Dina Lopes, que também pinta por transposição e que desafiei a fazer a capa do livro, um óleo imponente de um metro e meio de altura que foi composto à medida que eu ia escrevendo o livro. Para mim, o livro foi escrito a seis mãos.

Chegaram a fazer encenações em casa do próprio músico.

Sim, com a pintora Dina Lopes, o fotógrafo, um músico. O Dr. Eduardo abriu-nos as portas e fez nossa aquela casa, com muita abertura e generosidade. Do mesmo modo que antes tinha disponibilizado livros, pautas, Cds… A primeira vez que fui a casa dele, encheu-me o porta-bagagens com livros, manuscritos, actas de colóquios, teses sobre António Fragoso. Fui um privilegiado.

Ter convido tão de perto com a pneumónica ajudou-o de algum modo a lidar a actual pandemia?

Eu diria que entrei na pandemia já um tanto preparado para ela: a quantidade de bibliografia que eu tinha lido, as histórias que eu sabia, o contacto com as máscaras negras… Foi todo um sofrimento a dobrar e ainda bem que fui atrasando a publicação do romance. É que a pandemia foi-me ensinando a fazer o termo de comparação: aquilo que estava a viver no momento e a vivência das pessoas há cem anos.

Pareceu-lhe que recolhemos ensinamentos úteis?

Eu tenho a sensação de que, primeiramente, perante uma pandemia, ficamos indefesos, sem armas. E, no fundo, nada de há cem anos para cá foi transmitido que nos levasse a viver melhor esta pandemia. Em cem anos tudo esquece. O facto de a pandemia nos deixar desarmados, baralhados, desorientados (a Dr.ª Graça Freitas dizia hoje uma coisa e amanhã o seu contrário) manteve-se. Aquela gente, há cem anos, também andava assim, um pouco às cabeçadas. E há um outro aspecto interessante. Hoje, viaja-se incomparavelmente mais; e mesmo durante o dia e durante a semana, fazemos um raio de quilómetros muito maior. Os transportes eram as charretes e pouco mais, só as classes ricas é que apanhavam o comboio para ir a Lisboa ou ao Porto.

Tudo muito mais circunscrito.

Aquilo que foi feito, por exemplo, em Ovar, a cerca comunitária, já existia naturalmente no país. Apesar de ter morrido muito gente em Cantanhede (e eu andei a ver os jornais locais), teria morrido muito mais se houvesse a mobilidade de hoje. Há trajectos que fazemos hoje que na altura eram inconcebíveis. E há pessoas que durante toda a vida não foram além de Cantanhede ou Coimbra. Viram o mar porque ficava a dez quilómetros. A menos que fossem emigrantes, viveram uma vida de 70, 80 anos com um curtíssimo raio de mobilidade.