Costa e a maioria de “más memórias”


Mas, como é sabido, a política e a memória são, na maioria das vezes, inimigas.


Em 2015, o então Presidente da República, Cavaco Silva, em vésperas de eleições, pediu “uma maioria absoluta que possa assegurar estabilidade política”.

Na altura, o PS, através do seu diretor de campanha, Ascenso Simões, garantiu que os socialistas estavam a trabalhar nesse sentido.

Mas, os resultados das eleições de 2015 não apontaram nesse sentido. O PSD, coligado com o CDS, ganhou com 36,8%, contra os 32,3% do PS. Só que, numa manobra política inédita, António Costa, juntou os seus 32% aos 10% do BE e aos 8,2% da CDU e acabou por somar a maioria que os vencedores das eleições não conseguiram na Assembleia da República. E assim nasceu a ‘‘geringonça’’, assim batizada por Vasco Pulido Valente.

Quatro anos depois, o PS vence as eleições com 36,3%, contra os 27,7% do PSD. Governou sozinho, mais uma vez com apoio parlamentar do BE e CDU.

Na altura, António Costa reconheceu que as maiorias absolutas eram de “má memória” para as oposições, quer à esquerda, quer à direita.

Certamente, referia-se às duas conquistadas por Cavaco Silva, em 1987 e 1991. Já a conquistada por José Sócrates, em 2005, teve já António Costa no governo.

No entanto, o líder do PS reconheceu, em 2019, que “os portugueses guardam más memórias das maiorias absolutas”.

Depois de ter, antes do Natal, falado de “maioria estável”, agora António Costa já não mede as palavras: pede uma maioria absoluta. A tal que, dois anos antes, era de “má memória”.

Mas, como é sabido, a política e a memória são, na maioria das vezes, inimigas.

Até porque, para Costa, “hoje em dia, maioria absoluta não é poder absoluto, é ter condições para governar”. Nada que, aqueles que a conseguiram no passado, não tivessem também dito.

Não estamos, portanto, perante nada de novo.

Novidades, isso sim, vamos ter certamente no dia das eleições, com a hora marcada para os infetados com covid-19 poderem votar. As últimas notícias apontam para a última hora, isto é, entre as 18h00 e as 19h00.

Será a hora dos infetados.

Calcula-se mesmo que estes eleitores sejam acompanhados por um toque de sino, à semelhança do que aconteceu com os leprosos na Idade Média.

A pandemia já dura há mais de dois anos. E é esta a solução encontrada.

Pergunto: Vai ser mesmo assim, ou é tudo uma brincadeira? Aliás, um tom muito presente nesta campanha eleitoral.

 

Jornalista