Desiludidos e mal pagos


Um organismo chamado Comissão Nacional de Eleições não foi ainda capaz de apresentar um plano exequível. Naturalmente, não teve tempo para isso.


A confiança nas instituições, em Portugal, vem descendo com o decorrer dos anos. Não é um fenómeno meramente nacional, uma vez que, especialmente nos países do sul da Europa, o fenómeno vem ganhando uma expressão deveras preocupante.

Os últimos estudos divulgados apontam para uma confiança reduzida no Parlamento – 29%, ainda mais reduzida no Governo – 18% e reduzidíssima nos partidos – 11%.

Quase 90% dos portugueses acredita que há corrupção no governo e um número superior a 50% afirma que o executivo está a falhar na luta contra a corrupção.

Portugal desceu no Índice de Democracia publicado anualmente pela revista The Economist, perdendo a categoria de “totalmente democrático”, passando a “democracia com falhas”.

A diferença entre salário mínimo (705 euros) e a mediana salarial é a mais baixa da EU. Portugal tem o 11º salário mínimo mais baixo.

Cerca de 11% da população empregada vive abaixo do limiar de risco de pobreza. Estamos entre os cinco países da UE com maior risco de pobreza entre trabalhadores.

Ocupamos o sexto lugar dos países com menor produtividade, o que significa que produzimos menos riqueza por hora de trabalho.

Parece um rol de desgraças, mas este é um retrato realista do país.

Numa época de eleições, com debates diários entre os principais líderes partidários – os que têm representação no Parlamento – esperava-se, talvez, ingenuidade minha, ouvir algumas propostas para o futuro e, sobretudo, com futuro.

Engano meu. Discutiu-se muito a prisão perpétua, o rendimento social de inserção e as suas virtualidades ou defeitos, carpiram-se mágoas pelo desfazer da ‘‘geringonça’’, atribuíram-se culpas uns aos outros e pouco mais.

Na verdade, a maioria dos debates enquadrou-se no espírito infotainment, com o beneplácito dos jornalistas moderadores e sobretudo dos comentadores, que até atribuíram classificações.

Se queremos ouvir propostas com sentido de futuro, aconselho a que esperemos sentados.

De facto, num país onde a pandemia grassa há mais de dois anos, que já viveu eleições nesse período, ainda não se sabe bem como vai ser com os eleitores infetados e, por isso, confinados.

Um organismo chamado Comissão Nacional de Eleições não foi ainda capaz de apresentar um plano exequível. Naturalmente, não teve tempo para isso.

Não somos maus de todo a reagir. Mas somos péssimos a prevenir. E, sobretudo, a planear.

 

Jornalista