Em meados da década de 80, uma nova geração de ativistas de extrema-direita irrompe nos subúrbios dos grandes centros urbanos – onde o fenómeno da imigração tinha uma expressão crescente –, levando a que jovens com um gosto comum pela cultura skinhead, na sua maioria oriundos da zona de Almada, se juntasse ao Movimento de Ação Nacional (MAN), por volta de 1987. Foi neste contexto que Mário Machado tomou contacto pela primeira vez com a extrema-direita. Ainda adolescente, na década de 1990, tornou-se militante desta associação nacionalista. Hoje é uma das principais figuras do movimento neonazi em Portugal, contando com um pesado historial criminal.
A noite de 10 de junho de 1995 já deixava adivinhar um futuro condenável. Alcindo Monteiro, português nascido em Cabo Verde, tinha 27 anos e foi encontrado sem sentidos na rua Garrett, depois de ter sido violentamente agredido por um grupo de 17 skins. Entre os agressores de cabelo rapado, que atacaram mais seis negros naquela noite no Bairro Alto, estava um militar: era Mário Machado, 2º Cabo da Polícia Aérea da Força Aérea Portuguesa.
Foi nos anos que se seguiram, entre 1995 e 2001, que nas prisões de Lisboa e Caxias, Mário Machado, em conjunto com outros skinheads – muitos dos quais cumprindo pena pela violência racial que levou à morte de Alcindo Monteiro –, criou o rastilho português da organização internacional de supremacia branca e crime organizado denominada Irmandade Ariana.
É dessa ligação à Irmandade Ariana que, em 2001, alguns neonazis portugueses, liderados por Mário Machado, iniciam um movimento português da Hammerskin Nation, uma das principais organizações neonazis e supremacistas brancas dos Estados Unidos. Funda ainda a Frente Nacional, um movimento nacionalista com vista à intervenção política.
O momento de viragem são mesmo os anos 2004 e 2005. Já pai de dois filhos, líder da Frente Nacional, fundador da Hammerskins Portugal e na mira das autoridades por promover encontros neonazis, o ativista de extrema-direita começou a ganhar protagonismo.
Em 2006, apareceu numa reportagem da RTP intitulada “A extrema-direita existe?” empunhando uma shotgun e afirmando que os nacionalistas, se necessário, estavam preparados para a luta armada. Essas imagens estariam na origem da primeira das várias detenções que se seguiram.
Um ano depois, a 18 de abril de 2007, aquando de um encontro em Lisboa dos partidos europeus nacionalistas e organizações de extrema-direita, organizado pelo Partido Nacional Renovador (PNR), a Direção Central de Combate ao Banditismo da Polícia Judiciária (DCCB), sob a direção do Ministério Público, levou a cabo uma vasta operação, que envolveu cerca de sessenta buscas em várias zonas do país. Na operação foram detidos vinte a trinta elementos da extrema-direita, alguns em flagrante delito na posse de armas. Mário Machado foi detido pela Polícia Judiciária (PJ), juntamente com outros nove elementos de extrema-direita, por suspeita de discriminação racial. A operação policial tinha sido motivada pelas atividades criminosas desenvolvidas pelo Hammerskins Portugal.
Os dez detidos foram interrogados no Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa no dia seguinte, sendo Machado o único que ficou em prisão preventiva, aguardando julgamento.
A operação permitiu, em setembro desse mesmo ano, após meses de investigação com vários meios de prova – entre eles escutas telefónicas –, acusar o líder da Hammerskins Portugal de 17 crimes, entre os quais por violência, discriminação racial e ameaças. Responderia ainda por crimes de posse ilegal de armas, insultos, sequestros e distribuição de propaganda nazi.
A 29 de novembro de 2007, Mário Machado, e outros trinta e cinco arguidos igualmente conhecidos dentro do movimento skinhead, foram pronunciados culpados pelo crime de discriminação racial e outras infrações, incluindo agressões, sequestro e posse ilegal de armas. Machado foi libertado da prisão preventiva, em 2008.
Depois disso, envolveu-se em outros casos controversos. Em 2009, teve de comparecer em tribunal para responder a um processo relacionado com ameaças à procuradora do Ministério Público, Cândida Vilar, que conduziu a investigação, por ter apelado aos companheiros nacionalistas que não se esquecessem da magistrada que coordenou as investigações contra os skinheads em 2007.
Foi absolvido do crime de ameaça, mas não escapou a uma condenação a oito meses de prisão efetiva por difamação agravada da procuradora.
Em 2012, o Tribunal Criminal de Loures fixou em dez anos o cúmulo jurídico das penas de prisão aplicadas a Mário Machado, tendo cumprido grande parte dessa pena na prisão de Alcoentre.
Para este cúmulo jurídico foram consideradas as condenações de prisão efetiva em três processos: de discriminação racial, coação agravada, detenção de arma ilegal, danos e ofensa à integridade física qualificada; de difamação, ameaça e coação a uma procuradora da República; e de posse de arma de fogo.
No início de 2014, ainda na prisão de Alcoentre, afirmou o desejo de se distanciar do PNR, que havia apoiado enquanto líder do movimento de extrema-direita Frente Nacional, por considerar que o partido tinha abandonado a linha nacionalista em prol de uma ideologia de direita patriótica, manifestando na mesma altura a vontade de criar um novo partido político, que denominou Nova Ordem Social (NOS). O primeiro encontro deste novo movimento aconteceu a 26 de abril desse ano num hotel na zona de Peniche, quando Machado teve autorização para uma saída da cadeia de Alcoentre. Marcaram presença cerca de cinquenta pessoas, entre elas representantes dos partidos nacionalistas grego, Aurora Dourada, e alemão, Partido Nacional Democrático da Alemanha.
Dois anos depois, foi novamente condenado a dois anos e nove meses de prisão por um crime de extorsão dos quais cumpriu pouco mais de um ano.
A 3 de janeiro de 2019 esteve envolvido numa nova polémica por ter sido convidado a participar no programa Você na TV!, da TVI, apresentado por Manuel Luís Goucha, num debate que tinha como tema “Precisamos de um novo Salazar?”. A presença do líder de extrema-direita como convidado foi alvo de várias críticas, tendo sido participadas várias queixas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
Mário Machado é ainda assistente no julgamento do processo Hells Angels, que envolve crimes de associação criminosa, tentativa de homicídio qualificado agravado pelo uso de arma, ofensa à integridade física, extorsão, roubo, tráfico de droga e posse de armas e munições. Em causa está o incidente de 24 de março de 2018, em que membros do grupo motard decidiram invadir um restaurante no Prior Velho. Machado terá sido um dos alvos dos Hells Angels, tendo revelado que se refugiou, juntamente com outras pessoas, no armazém do estabelecimento para evitar ser agredido.
Na terça-feira, Mário Machado foi mais uma vez detido, em casa, em flagrante delito por posse ilegal de arma, durante uma busca da Polícia Judiciária, no âmbito de uma investigação por suspeitas de crimes de ódio e incitamento à violência através de comentários feitos na internet, que apelavam à detenção de um suspeito de um homicídio, de raça negra.
“Procura-se assassino! Não o entreguem às autoridades, se souberem do seu paradeiro enviem-nos mensagem privada”, lia-se na publicação que deu origem à detenção de Mário Machado.
O seu advogado, José Manuel Castro, salientou, em declarações à Lusa, que “nessa publicação não vinha referida a cor de pele ou etnia de ninguém”.