FC Porto-Milan. “Ma che casino!”, José Francisco!!!

FC Porto-Milan. “Ma che casino!”, José Francisco!!!


Era apenas a quarta presença dos portistas na Taça dos Campeões e nunca tinham passado a primeira eliminatória. Fizeram tombar o Milan!


Duda era um jogador precioso e de uma qualidade inegável. Mostrou-o bem cedo em Portugal, quando alinhou pelo V. Setúbal, vindo do Sport Club do Recife, em 1971. Esteve quatro anos no Bonfim, numa equipa que, nessa altura, brilhava mais na Europa do que o FC Porto, para o qual se transferiu em 1975. O seu nome completo era José Francisco Leandro Filho e nascera em Maceió a 4 de agosto de 1947. Morreu meio esquecido, no passado mês de julho.

Para se perceber o estado das coisas nesse dia histórico de 4 de outubro de 1979, era apenas a quarta participação dos portistas na Taça dos Campeões Europeus. Nas três anteriores tinha sido eliminado na primeira eliminatória, e um ano antes tinha sido humilhado em Atenas, perdendo por 1-6 contra o AEK. Por isso, quando terminou a partida da primeira mão, no Estádio das Antas (19 de setembro) com um empate a zero, ninguém ficou com dúvidas de que poderoso adversário que calhara em sorteio aos portistas, o Milan, iria sentir-se confortável no momento de receber os azuis-e-brancos no Giuseppe Meazza.

Enganaram-se. E o FC Porto cometeu uma das maiores proezas da sua história europeia até então e que não era muito rica, como já se percebeu.

José Maria Pedroto, que acabara com o jejum de dezoito anos sem títulos nacionais nas Antas, soube tranquilizar os seus jogadores de forma a ignorarem a terrível pressão de um público numeroso e fanático, e montou um sistema defensivo de fazer inveja ao velho Helenio Herrera, rei do cattenacio.

Vamos lá ver… Basicamente, e perante a necessidade dos milaneses serem obrigados a marcar um golo para seguirem em frente (é claro que o mesmo acontecia com os portistas), a estratégia passava por controlar o ataque do Milan, composto pelos dois avançados mais fixos, Novellino e Chiodi, que tinham o apoio constante de Buriani, Antonelli e Bigon, e espreitar a oportunidade de um contragolpe que fizesse estragos na protérvia italiana que dava a eliminatória como decidida depois do jogo do Porto.

Firmes, Simões e Freitas formaram um bloco de cimento armado na frente de Fonseca, auxiliados por Teixeira e por Murça que se juntavam aos seus centrais sem que isso lhes fizesse cair os parentes na lama.

A luta pelo meio campo foi ganha em quantidade pelos campeões portugueses: eram muitos e batiam-se como poucos – Frasco, Romeu, Duda, Rodolfo e Albertino, cabendo a este tentar soltar-se para auxiliar o solitário Fernando Gomes.

Os italianos baralharam-se. E o seu futebol tornou-se confuso. Atacavam mais, mas sem ideias. Forçavam lances de contacto, à espera de um livre ou de um penalti, mas os portistas estavam demasiado atentos a essa manobra para caírem numa armadilha tão vulgar.

Na baliza do Milan não estava um qualquer. Albertosi ficou para a história como um dos grandes guarda-redes do futebol italiano. Nascido a 2 de novembro de 1939, estava quase a cumprir os seus 40 anos e viria a terminar a carreira no fim dessa época, suspenso por via do caso dos resultados combinados, uma investigação que ficou conhecida por Tottonero. O homem que defendera as redes da Itália que atingiu a final do Campeonato do Mundo de 1970, já não teve tendões para esticar quando o remate fortíssimo de Duda, na marcação de um livre direto, aos 60 minutos, fez a bola entrar como um foguete dentro da sua baliza. Se até aí, o FC Porto se sentira confortável no jogo, mais o ficou depois do golo, sabendo que o Milan teria, agora, de marcar dois. Não esteve nem perto disso. A barreira montada junto à área de Fonseca não abanou. Pela primeira vez, o FC Porto acedia à segunda eliminatória da Taça dos Campeões Europeus. Seria, em seguida, afastado pelo Real Madrid (2-1 e 0-1) noutra eliminatória bem renhida. Era tempo de já não estranhar a Europa…