As doenças da coluna vertebral são a maior causa de incapacidade a nível mundial, afetando mais de 500 milhões de pessoas. Num inquérito telefónico realizado em Portugal em 2009, 72,4% dos inquiridos afirmou sofrer ou já ter sofrido de dores nas costas e 32,6% referiram ter dores diárias.
Felizmente, em mais de 80% dos casos as dores nas costas não resultam de nenhuma situação grave, mas sim do desgaste “normal” das estruturas que constituem a coluna vertebral, não compensado por mecanismos de adaptação. A propósito do Dia Mundial da Coluna, que se assinala a 16 de outubro, é importante saber mais sobre este problema tão comum e quais as soluções para o tratar.
Quando surgem dores nas costas, a prioridade é otimizar os mecanismos que visam compensar o desgaste e a sobrecarga sobre a coluna vertebral. Entre as principais medidas a adotar com este objetivo estão a correção de posturas, evitar cargas excessivas, reduzir o excesso de peso, deixar de fumar e melhorar os músculos de suporte da coluna vertebral.
Quanto mais precoce for a adoção destas medidas, mais rápidos e duradouros serão os resultados, pelo que quando surgem dores ou outros sintomas relacionados com a coluna vertebral, é importante referi-los ao médico assistente.
Para além destas medidas, dependendo da duração e intensidade das queixas, pode ser necessária medicação ou orientação para um médico fisiatra para a realização de um programa de reabilitação estruturado e supervisionado. Na maior parte dos casos não há necessidade de realizar qualquer exame para além da avaliação clínica e exame físico feitos pelo médico. Os exames de imagem, como a TAC ou a Ressonância Magnética, são necessários quando há suspeitas de uma situação mais grave ou quando o doente não melhora com o tratamento efetuado.
São frequentes as dúvidas sobre que médico procurar, quando é necessária uma cirurgia à coluna e se esta é realmente segura. A grande maioria das situações relacionadas com a coluna vertebral são e devem ser tratadas no âmbito da Medicina Geral e Familiar e da Medicina do Trabalho. A Reumatologia e a Fisiatria são outras especialidades médicas que tratam doentes com problemas na coluna vertebral, relacionados com doenças específicas ou porque necessitam de um tratamento de reabilitação.
Quando o tratamento conservador não conduz aos resultados esperados, o doente deve procurar ou ser referenciado para um especialista com experiência na avaliação clínica e tratamento destas situações, que disponha de um leque alargado de opções terapêuticas, adaptadas a cada caso concreto.
A cirurgia da coluna vertebral é realizada por neurocirurgiões ou ortopedistas que se dedicam a esta área e que, para além da cirurgia, habitualmente realizam um conjunto de outros procedimentos não cirúrgicos. A Medicina da Dor é outra área médica com especialistas em intervenções não cirúrgicas para tratamento de doenças da coluna vertebral e outras patologias. Mas quando é necessária uma cirurgia? Menos de 5% dos doentes necessitam de cirurgias ou outros procedimentos invasivos para tratar problemas da coluna vertebral e, exceto em situações graves, que felizmente são raras, estes procedimentos só devem ser considerados quando o tratamento conservador não foi suficiente para o alívio das queixas.
Nos últimos anos temos assistido à proliferação de tratamentos propostos com o argumento de serem menos invasivos e evitarem uma cirurgia, geralmente com promessas enganosas e indicações erradas. É muito importante alertar que só deve recorrer a tratamentos adequados e validados cientificamente.
A cirurgia à coluna é segura? Um conjunto de desenvolvimentos técnicos e a especialização crescente dos cirurgiões têm permitido à cirurgia da coluna vertebral tornar-se progressivamente mais precisa, menos invasiva, mais segura e com resultados mais previsíveis. As cicatrizes menores, para além do melhor resultado estético, traduzem habitualmente uma menor lesão dos músculos subjacentes e permitem uma recuperação mais rápida, um internamento mais curto e menos dor no pós-operatório. Em cirurgias mais complexas, métodos avançados de imagem e navegação intraoperatória e de monitorização de estruturas nervosas permitem aumentar a precisão na colocação dos implantes e reduzir o risco de complicações.
O mais importante é consultar um especialista e saber o que deve fazer. Mais vale prevenir do que remediar.
Paulo Pereira é neurocirurgião no Instituto CUF Porto