Não fui próximo de Jorge Sampaio, nem privei com o antigo-Presidente da República. Também não vivi as divisões internas no Partido Socialista entre "soaristas", "sampaístas" e "guterristas". A minha entrada no Partido Socialista foi posterior a isso, já Guterres era líder a caminho de se tornar Primeiro-Ministro, mas lembro-me bem do anúncio de Jorge Sampaio, ainda Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a candidato a Presidente da República e recordo-me como se fosse ontem a sua primeira campanha presidencial. Foi uma campanha durante um inverno rigoroso e de muita chuva no distrito de Aveiro e, se a memória não me falha, a campanha sob a égide do “MAIS” – Movimento de Apoio Independente a Sampaio, em que o logotipo era uma esfera armilar estilizada, muito bonita tinha uma pequenina sede de campanha no Largo dos Heróis da Grande Guerra em Estarreja, no prédio onde a hoje candidata do PS à Câmara Municipal do município, tinha o seu escritório de advocacia.
Sampaio era muito diferente daqueles políticos de comício. Prendia-nos a atenção não pelo modo como falava, mas pelo que dizia. Aliás, foi com ele que vi pela primeira vez em Portugal um político num comício sem púlpito, sem música, apenas ele, uma cadeira de apoio e um microfone de mão onde conversou com quem o foi ver e ouvir numa espécie de diálogo intimista de “town hall” americano.
Foi sempre um orgulho ter um Estadista como Sampaio, enquanto Chefe de Estado, mesmo nas vezes em que muitos socialistas (como eu) discordaram de decisões suas, como a sua decisão de não convocar eleições depois da saída de Durão Barroso.
Com o tempo, a minha identificação com Sampaio, as suas ideias e o que defendia, foram-se tornando cada vez maiores. Sampaio foi precursor no Partido Socialista da convergência da esquerda em prol do desenvolvimento da sociedade. Foi sempre um grande humanista com uma visão para lá dos tempos e das fronteiras e de uma empatia que hoje é cada vez mais rara.
Sampaio foi também o primeiro político que vi chorar em público. Muitos falavam da forma como se emocionava em público com algum desdém. Confesso que foi sempre nas situações em que lhe víamos lágrimas que tive a profunda certeza que estávamos perante alguém que, não obstante as altas funções de representação do Estado, era na verdade uma pessoa como nós, com emoções, com capacidade de se comover como cada um de nós e era precisamente isso que fazia dele um verdadeiro gigante da política.
O país democrático onde nasci e vivo vê, aos poucos, partir as suas grandes referências políticas e com isso fica mais pobre. Saibamos todos honrar as suas memórias e, muito em particular, a memória de Jorge Sampaio e do seu compromisso com os seus concidadãos. Obrigado, Jorge Sampaio. Até sempre!
Pedro Vaz