O verão está a acabar. O que vai na cabeça dos portugueses?

O verão está a acabar. O que vai na cabeça dos portugueses?


Com o fim de férias à porta – para quem as teve – ouvimos diferentes gerações sobre as expectativas e preocupações para mais um recomeço. Há mais otimismo mas não é geral e a pandemia em que ia ficar tudo bem já dura há muito tempo. Quem volta à escola espera que haja mais abraços…


Madalena Oliveira

Estudante, 12 anos

Madalena Faustino tem aproveitado os últimos dias para se preparar para dar início a um novo ano escolar. A jovem de 12 anos vai entrar para o 8º e confessa-se entusiasmada para poder sair com os amigos de novo, tendo a esperança de que já possa “ir almoçar com eles ao café em frente à escola”. Madalena diz ainda que espera “estar mais à vontade para conviver com os amigos e poder dar um abracinho de vez em quando”.

“Também tenho muitas saudades de acampar com os escuteiros e ir a parques aquáticos por exemplo”, afirma a barreirense. Quando reflete sobre os cuidados que tem tido ao longo do último ano meio, a jovem reitera que não sabe “se eventualmente” algum dia vai “deixar de usar máscara, porque temos de estar todos protegidos, mas gostava que isso acontecesse”.

“Espero que as pessoas que não se querem vacinar mudem de ideias para nos podermos sentir mais seguros, se toda a gente estiver vacinada vai ser muito menos provável apanhar o vírus”, conclui.

Inês António

Estudante e professora, 22 anos

Inês António soube há poucas semanas que entrou no mestrado. Dias depois assinou contrato para se tornar professora de atividades extracurriculares numa escola primária. No meio de tantas novidades, a jovem de 22 anos confessa-se “entusiasmada com o regresso às aulas”, uma vez que no último ano optou por fazer uma pausa nos estudos.

“Sinto-me, no entanto, um pouco receosa, uma vez que vou trabalhar ao mesmo tempo que estudo. Vou entrar no mestrado de ensino, tendo começado no passado dia 1 a dar aulas numa escola primária. As atividades já começaram e os alunos parecem bastante entusiasmados com o novo ano escolar que aí vem. Têm saudades dos amiguinhos e dos cadernos novos, tal como eu”, conta.

Inês explica que o facto de dar aulas a crianças tão novas (entre os 5 e os 10 anos) lhe dá “uma espécie de “escape” porque, para elas, a pandemia não tem a mesma dimensão e é como se, por umas horas, o vírus não existisse”. A professora acredita que este ano vai ser o início de um novo ciclo, “em que daremos um passo a caminho da normalidade”.

José Silva

Vendedor de gelados e castanhas, 72 anos, Queluz

José Silva aguarda os clientes com um guia de inglês nas mãos. Depois da venda de gelados, virão as castanhas e afina a conversa para os turistas. No tempo quente, está no jardim de Queluz ou na estação da Damaia e no outono vai para o Cabo da Roca. Depois de um 2020 parado, este ano confessa otimismo, que também nota nos fregueses que chegam a vir de propósito a Queluz para os seus gelados coloridos. “As pessoas dizem que não veem a hora de tirar as máscaras”, conta. Ao mesmo tempo, sente que há muita gente com dificuldades e é por isso que não mexe nos preços: duas bolas são um euro. “É barato e bem aviado”, garante. E é assim há mais de 35 anos, quando veio do Algarve para Lisboa à procura de uma vida melhor. Foi para a escola hoteleira e trabalhou no setor, mas um dia disseram-lhe “olha que os gelados dão dinheiro!”. Arranjou o primeiro carrinho para os tempos livres e nunca mais parou. Agora os gelados são uma ajuda para a reforma e para alma, sobretudo desde que enviuvou. “Podia largar isto, mas faz-me sentir bem”.

José Marinho

Livreiro, 22 anos

Para José Marinho, este não é propriamente um regresso de férias. Se ligou para o apoio ao cliente da Bertrand, a querer saber quando chegavam os livros escolares dos miúdos, talvez tenha sido ele a atender. “Não aproveitei muito, só fui à praia uma vez”, admite. “Acho que muitos portugueses começaram a ler mais, talvez até por causa da pandemia”, acrescenta, soando cansado mas ainda assim entusiasmado. É que este ano antevê continuar a dedicar-se ao seu pequeno negócio de pintar ténis à mão por encomenda, que começou em conjunto com um primo. “No fundo, qualquer ténis que seja branco nós personalizamos. É uma questão de dar uso à nossa arte”, explica. Foi um passo lógico, sempre foi doido por ténis – já era nos tempos em que corria atrás do sonho de ser jogador de futebol, até ser rasteirado por problemas de saúde. Não é fácil conjugar o negócio com um full-time, mas as perspetivas são boas, José já sonha expandir a sua página no Instagram, Costumise_stor3, ganhar seguidores com ofertas, criando um site próprio. “Há muito receio de investir na arte, temos de lançar-nos”.

Neuza Silva

Empresária, 31 anos, Vila Nova de Santo André

Para Neuza Silva, o início deste novo ano letivo vem com uma esperança renovada de que tudo será melhor do que o ano passado. A empresária recomeça com os olhos postos em melhores sentimentos coletivos e novos comportamentos cívicos. “Desejando que os nossos filhos se mantenham saudáveis e que todos continuem, no espaço escolar, a zelar pela sua segurança e pela prevenção do contágio do vírus que veio alterar a conduta de todos nós”, explica.

Profissionalmente, Neuza Silva acredita que 2021 continuará a ser um ano desafiador e, sem dúvida, “transformador em toda a visão de gestão e programação de objetivos para as empresas”.

A empresária sublinha também a importância das próximas eleições autárquicas afirmando querer ter “fé que os nossos líderes políticos sejam localmente eleitos com clareza para o bem da nossa população”, diz. “Sejamos responsáveis e olhemos mais para dentro do que para que fora. Só assim conseguimos ser melhores a cada dia”, frisa.

Ana Carvalho

Gestora, 51 anos, Vila Nova de Santo André

A organização da logística familiar é sempre a maior preocupação no regresso das férias de Ana Carvalho. A gestora tem três filhos adolescentes e, entre o regresso às aulas e às atividades desportivas, diz haver muito para gerir. Para além disso, Ana encontra-se expectante por saber como vai decorrer o novo ano letivo “porque os períodos de confinamento e isolamento profilático foram muito prejudiciais para alunos, professores e encarregados de educação”. Dividindo o tempo entre Vila Nova de Santo André, onde vive, e Setúbal, onde os filhos estudam e treinam, outra das suas preocupações constantes é conseguir gerir o tempo de forma a conseguir acompanhá-los. Gestora em duas empresas da família, o abrandamento da atividade económica com a Covid-19 teve, naturalmente, impacto. Contudo, a sua expectativa é que a recuperação se concretize no curto/médio prazo. Com eleições à porta, Ana considera a campanha para as autárquicas importante e diz esperar que “as energias dos nossos políticos de concentrassem na efetiva resolução dos problemas das populações”.

José Pedro Simões

Estudante, 22 anos, Salreu 

Para José Pedro, o fim das férias este ano vem com várias preocupações. Regressar a Águeda para retomar os estudos em Gestão Comercial, mudar de casa, encontrar trabalho para sustentar a vida de estudante universitário. No entanto, já vacinado, o jovem natural de Salreu espera pelo menos retomar o estilo de vida e a normalidade que tinha antes da pandemia. “Espero que superemos esta situação de pandemia que tem vindo a alterar os nossos comportamentos, quer individuais, quer coletivos”, diz. “Acredito que agora comece a existir uma abertura maior no que toca a convívios sociais e um relaxamento das restrições”. Ainda sobre as possibilidades que abre a vida pós-covid, José Pedro espera retomar uma atividade que era uma das suas grandes paixões: ir a concertos e festivais de música. “Já nem me lembro da última vez que estive num concerto sem máscara”, recorda o estudante. “Espero que no próximo ano os festivais voltem acontecer sem restrições para poder voltar a ir ao Primavera Sound ou ao Sonic Blast”.

Miguel Cardoso

Estudante, 22 anos, Aveiro

Miguel Cardoso, de 22 anos, é natural de Aveiro, mas rumou para Lisboa na altura de iniciar os estudos. Licenciado na Escola Superior de Comunicação Social, está prestes a dar os seus primeiros passos no ISCTE, onde começará o programa de Mestrado em Business Administration. Após as férias de Verão, as suas principais preocupações e expectativas estão relacionadas, como não poderia deixar de ser, com o regresso às aulas, com grande foco na pandemia da covid-19. “Preocupado porque, sendo estudante de Mestrado, espero que as medidas de restrição não afetem negativamente o meu proveito da vida escolar e das atividades escolares”, diz o jovem, que lamenta já ter vivido os últimos tempos da sua Licenciatura em Audiovisual e Multimédia através de um ecrã, longe do convívio e da vida académica associada a esta fase. “A minha expectativa é que a vida regresse, lentamente, à normalidade, agora que estamos quase a atingir a imunidade de grupo e o Estado a levantar as medidas mais restritivas”, conclui, de sorriso na cara, e esperançoso que o futuro lhe sorria de volta.

José Neves

Pintor, 56 anos, Monte Abraão

Trabalho não tem faltado felizmente”, diz José Neves, pintor de profissão, a pôr como novo um prédio no Monte Abraão. Ele nas varandas e outros colegas no rapel, que também já fez como pintor, até na refinaria da Galp em Sines muitas dezenas de metros acima do chão.  Brasileiro, este outubro faz precisamente 20 anos que está em Portugal. E se trabalho na construção civil foi havendo sempre, mesmo no tempo do confinamento em que se fizeram muitas remodelações, conta, os salários é que são baixos e sem perspetivas de subir, enquanto o custo de vida foi aumentando. “Quando cheguei ainda apanhei os escudos. Até os portugueses estavam a reclamar. Lembro-me de ir ao supermercado com 5 mil escudos e enchia-se um carrinho. Hoje com 25 euros trazemos o quê? Um saco de compras nas mãos”, diz. 

Aos 56 anos, com os filhos criados e sete netos, sente que está a chegar a altura de partir de novo à procura de melhores condições de vida e é nisso que também vai pensando. 
Tirou o curso de soldador. Custou 1700 euros, um investimento pessoal, mas em Portugal pode esperar um salário de 800 euros, quando “lá fora”,  pagam 2500 e na Bélgica 5 mil, conta. “Cá pagamos de renda 700 euros, só com o salário mínimo não dava, é preciso trabalhar muito para conseguir viver.” 

Antónia Lopes

Empregada de limpeza, 37 anos, Queluz

Vim para Portugal em outubro de 2018 e, desde aí, nunca mais vi a minha família. Infelizmente, não consegui ter a autorização de residência antes da pandemia e, por isso, não vou ao meu país há três anos”, começa por explicar Antónia Lopes, empregada de limpeza num restaurante da linha de Cascais. Há uma semana, o jornal Público noticiou que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) começou a chamar duas mil pessoas que fizeram pedidos de autorização de residência anteriores a 2019, e a marcação de entrevista para formalizar o processo será realizada por ordem cronológica, isto é, terá prioridade quem deu entrada primeiro. Como a cabo-verdiana, da ilha do Fogo, Antónia tinha apresentado a sua manifestação de interesse nessa época, conseguiu ir ao SEF e ver o seu processo desenvolver-se após muitos meses de espera.

“Quero que os números da pandemia continuem a descer para viajar e ver os meus filhos de 15 e 17 anos. Tenho muitas saudades deles, assim como do meu marido e da minha restante família”, explica a imigrante que já se sente “um bocadinho portuguesa” e espera ter a oportunidade de trazer os filhos adolescentes para o país e vê-los concluírem o percurso académico em território nacional. “Costumo dizer que a covid-19 adiou a minha vida, mas ainda tenho esperança de que tudo melhore”. 

Luís Carvalho

Operador de loja, 28 anos, Rio de Mouro

Tenho uma grande expectativa em relação à aprovação do próximo Orçamento de Estado. Quero saber que medidas serão tomadas, principalmente, para combater a precariedade laboral e salarial, assim como naquilo que diz respeito às rendas sociais”, diz Luís Carvalho, formado em Jornalismo e aspirante a jornalista político, atualmente a trabalhar numa loja. “E, claro, espero ver os efeitos das medidas de natalidade”.

“Para mim, é muito importante saber se o salário mínimo será aumentado. O Governo tem uma meta e tem de se entender se, em 2022, o valor se situará nos 750 euros estipulados. É uma grande questão, mas esperemos que, se este aumento se concretizar, não seja acompanhado da subida do preço dos bens essenciais”, sublinha o jovem que, na rede social Instagram, através do perfil @oluis.carvalho, analisa o cenário político europeu diariamente.

“Estou muito interessado em saber o resultado das eleições autárquicas. Que impacto terá tido o Russia Gate na campanha de Fernando Medina? O que acontecerá no Porto?Rui Moreira manterá a liderança apesar do escândalo do Caso Selminho?”, questiona, acrescentando que está também curioso para perceber os resultados do PAN. “Não tem uma grande implementação no interior, será que conseguirá, pelo menos, manter os votos?”. 

Carla Alves

Dona de quiosque, 48 anos, Cacém 

Não está fácil o negócio da venda de imprensa escrita. “Está péssimo”, resume Carla Alves, dona de um quiosque no Cacém há 13 anos. Vêm ainda os clientes fixos, “mas as pessoas vão envelhecendo”. E hoje vende sobretudo tabaco e raspadinhas, “muitas raspadinhas”, diz a comerciante, que passa os dias na companhia da sua caturra Biscoitinho e admite que a maior dificuldade é ir organizando as contas, quando há dias em que a despesa é maior que o ganho. “Já havia um declínio com a internet e cada vez menos leitura de jornais, mas parece que é um novelo que a pessoa vai puxando o fio e não para. A pandemia veio piorar.”  

Ainda assim, insiste e continua a abrir todos os dias do ano, por isso este mais uma vez não deu para férias: só fecha no Natal e no Ano Novo. “Vou resistindo, tem de ser. Não quero desistir”, diz.  

Com o verão a terminar, não está otimista que o negócio anime e dá com ela a pensar que as marcas que a pandemia tem deixado não são boas, mesmo quando ao início havia movimentos de entreajuda e tudo parecia que podia ficar ficar bem. “Não se foi pelo tempo que durou, se as pessoas se cansaram de ir ajudar os outros com as compras até à porta, mas parece que estão mais fechadas, mais egoístas, olham para os outros mas não veem ninguém. Há muito egoísmo”.

Catarina Damil

Estudante, 18 anos, Odivelas

Catarina Damil está dividida entre expectativas positivas e negativas, uma vez que se está a candidatar ao primeiro ano de faculdade. “Por um lado, as minhas expectativas são positivas porque acho que vou conseguir entrar e, como tal, vou deixar a minha família e amigos orgulhosos”. Mas os pensamentos negativos também lhe passam pela cabeça e o medo de não conseguir entrar existe. Ainda ontem, voltou a fazer o exame nacional de Português para subir as notas. Ainda à espera dos resultados confessa: “Esforcei-me  bastante para chegar a esta nova etapa”, no entanto, admite que não sabe se vai conseguir fazer novos amigos nesta nova fase. “Mas estas são preocupações que todas as pessoas têm ao longo do seu percurso de vida”. Enquanto aguarda o resultado para saber se consegue o primeiro passo para a profissão de sonho – educadora de infância – Catarina vai estando atenta ao dia a dia desta nova realidade que apanhou a sua vida – e a de muitos – numa fase ainda tão jovem. Mas se a pandemia veio alterar um pouco a forma como viveu o seu ensino secundário, com o avanço da vacinação, talvez o ensino superior possa ser vivido com a normalidade – ou parte dela – com que viveu até março de 2020. Por isso, não pede muito: “Só gostava que a pandemia passasse o mais rápido possível para poder de novo abraçar a minha família e, principalmente, os meus avós”.

Adriana Ferreira

Estudante, 20 anos, Vila Real

A vida para Adriana Ferreira, estudante (ou ex-estudante, vá), em Vila Real, é ainda incerta. Residente em Tarouca, está de férias em Lisboa e aguarda os resultados da candidatura a um mestrado. Se entrar, perfeito. Se não entrar, lança-se de cabeça no mercado de trabalho. Ficar parada é que não. “Nas férias acabamos por nos ‘esquecer’ um pouco do dia a dia e aproveitamos a família”, começa por dizer. “Agora que voltamos à realidade, é tempo de perceber se entro em mestrado ou no mercado de trabalho”, acrescenta. É exatamente a decisão da UTAD –faculdade para a qual concorre – que vai determinar o futuro desta jovem. Mas, para já, só espera que o futuro seja bem diferente do passado. “Ambas as opções são desafiantes mas penso que, nesta altura em que a pandemia vai passando, será mais fácil”. Isto porque, ser estudante durante uma pandemia não foi ‘pera doce’. “Foi horrível ter que fazer metade do período de faculdade em casa, ainda por cima num curso tão prático como o meu: teatro e artes performativas”, lamenta. Por agora, vai aproveitando para estar com a família – uma vez que parte dela está em Lisboa – e alcançar alguns objetivos que tem traçados. Para o futuro, independentemente do rumo que o seu destino tomar, não tem dúvidas: “O país não pode ficar parado pela pandemia mas a responsabilidade não é só do Governo, nós também temos que fazer pelo nosso futuro”, finaliza.  

José Couceiro da Costa

Jurista, 24 anos, Porto

José Couceiro da Costa terminou agora duas licenciaturas na Universidade Católica Portuguesa do Porto. Uma em Direito, outra em Gestão. Não obstatnte os cincos anos seguidos a estudar, segue-se agora outro: irá, para a Nova Law School, fazer um mestrado em Direito e Mercados Financeiros. Para tal, teve de se mudar do Porto para a capital, onde acaba de chegar. Pelo meio, teve férias. Paradoxalmente, para José, agora que estas terminaram é que chegou a “altura para descansar”. A seu ver, “uma pessoa normal, que saiba viver a vida, volta de férias sempre ou mais gordo ou mais cansado – sendo que a maioria das vezes as duas”. Ao i, confessa ter voltado de férias de “ambas as formas”, pelo que neste “regresso à vida” espera “descansar, repor os livro em dia e aproveitar para viver novas experiências”. Contudo, por estar “conscienete” de que “estamos impedidos de viver”, demonstra-se “preocupado”. Referindo-se às medidas da Covid-19, desabafa achar que “a vida com limite de velocidade é um cruise control de monotonia”. Apesar de admitir não ser “especialista”, admite também estar indubitavelmente “farto”. E conclui: “Se esta condição atual me tira o sono? Infelizmente, no estado atual do país – em verdadeiro estado vegetativo –, dormir é mesmo a única coisa que resta”. 

Maria Canestro

Pensionista, 71 anos

“Férias tenho eu todo o ano”, brinca Maria Canestro, modista reformada. Mas não é que esteja 100% de férias, atenção: desde que entrou na reforma que se dedicou à universidade sénior, na Universidade Intergeracional de Benfica. Só parou no primeiro ano da pandemia, quando a incerteza era maior e as aulas foram suspensas, A reabertura, “foi com toda a higiene, com todos os cuidados”, conta. Ainda assim, “faltou lá muita gente, via-se aquilo muito vazio”, lamenta Canestro. Agora, aguarda com vontade o regresso às aulas, tendo no passado apostado em cursos de informática – “não percebia nada de computadores” – e de práticas mais modernas de modelismo. Mas modelismo era quando trabalhava: começou aos 12 anos como costureira, a adaptar roupa de senhora italiana e alemã aos tamanhos portugueses. “Foram muitos anos”, desabafa. Agora a vontade é sobretudo de ter aulas de artes, desenho, aguarela. “Quando era mais jovem os meus pais nunca tiveram possibilidade de me pôr nas artes, a vida era mais difícil naquela altura”, explica Maria, que insistiu em receber-nos em sua casa e mostrar as suas peças. “Isto foi tudo feito por mim”, diz, enquanto aponta para as paredes cheias de quadros, cerâmica e azulejos coloridos. Também serve para espantar as preocupações: o receio de ver o neto de 15 anos voltar às aulas e estar fechado numa sala cheia de gente, de temer os impactos da pandemia na economia. “Estamos sempre com o coração nas mãos”, admite. 

Francisco Magalhães

Mestrando, 22 anos, Guimarães

Francisco Magalhães, de 22 anos, terminou agora a sua licenciatura em Direito na Universidade Católica Portuguesa. Natural de Guimarães, aproveitou as férias para regressar à sua cidade. Findas estas é agora tempo de voltar ao trabalho: Francisco irá começar um Mestrado em Direito de Trabalho, também na Universidade Católica Portuguesa. O jovem mestrando conta que “o fim de férias e o início de aulas” é sempre um período “que lhe agrada”. Em particular “este ano”, pois o semestre passado correu-lhe “especialmente bem”, razão pela qual teve “praticamente três meses de “férias”. Considera, por isso, “importante voltar a ter uma rotina e objetivos” para se concentrar. Desabafa ainda não ter “nem grandes expectativas, nem grandes preocupações em relação ao regresso às aulas”, notando ainda assim que gostaria caso “fosse possível voltar a ter um regime totalmente presencial”, visto que o acha “muito mais produtivo”. No que toca à pandemia, “principalmente nesta fase de avanço para outra fase de desconfinamento”, demonstra-se importado em “saber como como vai funcionar a vida universitária para além da universidade, seja através da praxe, da possibilidade de convívios maiores, ou da abertura de discotecas”. Francisco voltará nas próximas semanas para o Porto, onde recomeçará os estudos – sempre com diversão à mistura.

Daniela Rodrigues

Estudante, 15 anos, Estarreja

O final deste verão significa que Daniela Rodrigues vai começar uma nova fase da vida, o décimo ano. A jovem estudante de Estarreja, aos 14 anos, teve que decidir que ia ingressar no curso de Humanidades na Escola Secundária de Estarreja, uma decisão que pode parecer muito simples, mas que pode influenciar todo o seu futuro. É isso que sente. Apesar de ainda estar mais focada na praia e em aproveitar os últimos cartuchos das férias do que na língua portuguesa e em História, Daniela já começa a sentir o nervoso miudinho. “Estou um bocado ansiosa por começar este novo ano escolar, foi uma grande decisão, mas acredito que foi a mais acertada, não me imaginava a continuar a estudar matemática ou fisico-química”, diz.  Apesar da ansiedade de, Daniela também está entusiasmada pela possibilidade de as restrições para a covid-19 serem aliviadas para poder ver o regime de telescola pelas costas e para poder ter a oportunidade de estar com os seus amigos e amigas com mais liberdade. “Foram tempos muito estranhos, mas espero que agora tenhamos a possibilidade de estar mais à vontade na escola”, diz, acrescentando que no intervalo entre as aulas ela e os seus colegas eram obrigados a utilizar máscara. ”Compreendo que fosse necessário, mas não era mesmo nada confortável”, confessa a jovem estudante.

Frederico Gonçalves

Engenheiro, 34 anos, Guimarães

Frederico Gonçalves, vimaranense, engenheiro de 34 anos, casado e com um filho, nota que, “nos últimos meses”, tudo tem mudado “num curto espaço de tempo” – sendo tal “comprovado”. Para si, como para “tantos outros jovens portugueses, está, há já largos anos, totalmente vedada a possibilidade de fazer planos a longo prazo”. Razão pela qual acredita que nos “cingimos, hoje e sempre, a preocupações imediatas”. Estas, desabafa, “pouco ou nada diferem nos períodos pré ou pós férias”, desvalorizando assim o seu eventual regresso ao trabalho e às rotinas. Referindo-se ao que o apoquenta, independentemente de ser “pré-férias ou pós-férias”, explica ter uma “inequívoca preocupação” com a saída que estes jovens portugueses terão de encontrar para fugir da “bolha de instabilidade económica e financeira”. A isto, soma-se, claro está, o facto de a bolha ter sido “agravada pela crise sanitária”.

João Medeiros

Youtuber, 22 anos, Águeda

Se há um mundo que se desenvolveu e floresceu com a pandemia da covid-19 foi a internet, que passou a ser – ainda mais – a casa de milhões e milhões de pessoas, um pouco por todo o mundo. Para João Medeiros, isso significou boas notícias, já que o seu trabalho como criador de conteúdo nas redes sociais beneficiou. Ainda assim, “conforme o país e o mundo voltam à atividade neste quarto trimestre”, João Medeiros pensa “no bem-estar geral”, desejando “que todos consigamos manter uma mentalidade coletiva saudável e positiva”.

O objetivo para os próximos meses, define, está em conseguir manter o bom espírito, o sentido de comunidade e de partilha e uma visão positiva perante os desafios que possam trazer. “Num período em que é mais fácil que nunca identificar problemas, faltas, escassez e restrições; torna-se também fácil esquecer o bem que podemos fazer tanto a nível comunitário como pessoal. Que nesta retoma da atividade económica procuremos também honrar o nosso capital social, ecológico, e espiritual”, continua, deixando ainda uma mensagem final para quem se encontra ainda a questionar o que virá nos próximos meses.

“Espero que, coletivamente, consigamos reunir forças para fazermos a coisa mais bela – e que o resultante aumento de bem-estar seja palpável e duradouro.”, conclui.