Os ‘comenteiros’ do ‘popular desporto’

Os ‘comenteiros’ do ‘popular desporto’


Para não exceder os limites bem tipificados desta “problemática”, fico-me pelo exemplo mais contundente da incompetência, incultura e paupérie intelectual de dois dos “comentadores” televisivos em cena…


Sabe-se, de ciência certa, que o raio equatorial da Terra é de 6.378.388 quilómetros e que a superfície total está calculada em 510.100.779 quilómetros quadrados. Sabe-se, ainda, de ciência irrebatível, que a putrefação deriva da destruição de proteínas, por culpa, digamos, da ação de bactérias. É igualmente de todos sabido, no país, que , segundo a teologia católica, só entra no Céu quem paga “impostos” nos balcões do purgatório. Concluindo: sabemos tudo, em Portugal, tudo, menos uma coisa: o porquê de tantos “comentadores” de futebol nas televisões cá do sítio. O porquê de tantas horas de futebol “comentado” nas televisões supostamente generalistas. O porquê de tantas pessoas sem competência versátil para a comunicação gregária.

Os “maus exemplos” deste forrobodó latejam, todos os dias, na tela da nossa inevitável hospitalidade.

Para não exceder os limites bem tipificados desta “problemática”, fico-me pelo exemplo mais contundente da incompetência, incultura e paupérie intelectual de dois dos “comentadores” televisivos em cena, juntos, após o desejável resultado obtido pela equipa de futebol do Benfica na sua deslocação “europeia” à Holanda. Fazer do rendimento (excelente) do guarda-redes “encarnado” uma espécie de cerne absoluto de quanto ocorreu em campo, e censurar a conduta verbal de Jorge Jesus a tal respeito, é apenas uma pedra mais no edifício do obscurantismo em gravitação – num país em que pensar “dá trabalho” e ser imparcial “é” um “ato de má fé”. Jorge Jesus teve, no final do jogo, o comportamento de quem realizou já um longo percurso na gestão, na propedêutica das relações humanas, das sensibilidades e peculiaridades pessoais e do “espírito de grupo”. Algo aplicável ao universo empresarial, onde o “trabalho em equipa” é de facto o resultado de pessoas em coesão permanente. De resto, o PSV Eindhoven-Benfica revelou-se fértil até em transformações metabólicas, dir-se-ia, de jogadores como, por exemplo, João Mário, o jogador das várias artes fotomecânicas, o tecnicista de súbito transformado em combatente das bolas divididas. “Fica-lhe mal”, sentenciava, gemebundo, um dos dois comenteiros, em alusão às certeiras demonstrações do técnico do Benfica. Na realidade, Odysseas (Vlachodimos), guardião de alta valia, não fez senão corresponder, em perspicácia, tenacidade, coragem, talento e concentração, o que era exigível e obteve resposta eloquente do “espírito de equipa” hasteado também pelos seus companheiros.

 

Antigo redator-principal do Mundo

Desportivo e colaborador de A Bola