Gerar a convergência


Como pode Portugal tirar partido da sua geração mais qualificada de sempre para convergir de forma robusta com a União Europeia e melhorar os seus índices de produtividade, crescimento e desenvolvimento?


Como tinha previsto na crónica da passada semana, o XXIII Congresso do Partido Socialista que decorreu em Portimão não foi marcado por qualquer confrontação geracional ou luta sucessória, não obstante o suspense, alimentado pelos media, na leitura de silêncios e sinais de alguns potenciais candidatos que se vão posicionando naturalmente para o momento em que ocorrer o ciclo de renovação das lideranças.

Sucessivamente adiado devido à pandemia, o conclave serviu para fazer um balanço da ação governativa do Partido no plano europeu, nacional e local e projetar um futuro pautado pelos desafios próximos das eleições autárquicas e da viabilização do Orçamento do Estado para 2022, bem como para expressar uma visão estratégica de médio prazo, associada à aplicação do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) e do Quadro de Financiamento Plurianual (QFP 2021/2027).

De entre as múltiplas questões estratégicas debatidas e abordadas pelos congressistas e em particular por António Costa nas suas intervenções, emergiu uma questão geracional chave, não no plano interno, mas no plano do nosso futuro coletivo. Como pode Portugal tirar partido da sua geração mais qualificada de sempre para convergir de forma robusta com a União Europeia e melhorar os seus índices de produtividade, crescimento e desenvolvimento?

Costa anunciou medidas concretas e no sentido adequado, designadamente a prorrogação do apoio ao regresso de jovens qualificados obrigados a emigrar pela falta de opções viáveis em Portugal, em resultado da aplicação da política de empobrecimento e salários baixos preconizada pela Troika e aplicadas pelo Governo Passos/Portas, e o aumento dos incentivos fiscais para aqueles que entram pela primeira vez no mercado de trabalho. Anunciou também novas políticas de habitação, designadamente a promoção de um parque habitacional de arrendamento acessível em todo o território, como instrumento fundamental para a fixação de quadros e famílias jovens e para a melhoria do tecido económico, empresarial e social.

Estes exemplos de boas políticas públicas, que se complementam com outras medidas do PRR para tornar atrativa a fixação dos jovens quadros qualificados e criar condições para que possam transformar essas qualificações em riqueza coletiva e boas condições de vida pessoal, só terão sucesso se o pacote de apoio e o seu uso pelas empresas e os fundos para a modernização da administração pública permitirem uma efetiva melhoria das remunerações que lhe são pagas, que em muitas zonas e setores são escandalosamente baixas e desmobilizadoras.

Temos a geração mais qualificada de sempre e um Governo que aposta na convergência através da inovação, da valorização do conhecimento, da modernização da economia, da liderança nas novas tecnologias e da energia eficiente e limpa e descarta a tentação facilitista e injusta da concorrência pelos baixos salários. Dispondo de uma dotação financeira muito significativa para nos reequiparmos e reorganizarmos, temos que ser capazes de mobilizar essa geração para ser cada vez mais uma alavanca da nossa convergência com os índices de desenvolvimento da União Europeia. Em coerência, temos que garantir também a convergência dos seus estatutos remuneratórios com essa média.

 

Eurodeputado do PS