O Teatro Nacional D. Maria II tem desde há poucos dias um novo diretor. Ao tomar posse, Pedro Penim revelou que pertence “orgulhosamente” à comunidade LGBT.
É legítimo. Não creio, porém, que tenha sido um arranque auspicioso – a vários títulos. Logo para começar porque, tendo sido a atual ministra da Cultura a primeira governante a assumir a homossexualidade, fica no ar a dúvida se a escolha de Penim terá alguma coisa a ver com isso. Se foi favorecido por ‘pertencer ao mesmo clube’.
Depois, porque importa esclarecer qual o peso que essa pertença à comunidade LGBT vai ter no futuro da instituição. Tratando-se de um Teatro Nacional, o D. Maria não deve representar o gosto de um grupo, de uma fação ou de um lóbi. Por muito que esse grupo, fação ou lóbi esteja na moda ou na mó de cima.
As declarações do novo diretor a esse propósito não são completamente tranquilizadoras. Se por um lado garantiu, e bem, “não quero programar para aqueles que comigo partilham afinidades eletivas”, por outro também disse que “é nesse setor da sociedade, que é o meu, que se encontram linhas de pensamento e vetores de ação que neste momento me parecem os mais relevantes e os mais inspiradores”.
Pedro Penim sucede a Tiago Rodrigues, que criou e levou à cena Catarina ou a Beleza de Matar Fascistas. O nome da peça suscitou então controvérsia. Seria uma metáfora? Seria para levar à letra? Outros questionaram: será que os fascistas não têm direito à vida? Poderá haver beleza em matar alguém por causa das suas convicções políticas?
Na altura lembrei-me de algo que escreveu o grande historiador de Itália Christopher Duggan sobre o período tumultuoso que se seguiu à queda de Mussolini: «A guerra civil […] continuou até muito depois de maio de 1945: nos dois anos seguintes, pelo menos vinte mil fascistas foram caçados e mortos por grupos de vigilantes». Uma caça às bruxas que se saldou em vinte mil pessoas mortas. Dá que pensar, não dá?
Durante o consulado de Tiago Rodrigues, parece claro que o Dona Maria teve uma orientação política. Será que agora, com Pedro Penim, vai ter uma ‘orientação sexual’?
Esperemos para ver. Almeida Garrett fundou o Teatro Nacional em 1836 sobre os escombros do Palácio da Inquisição, no lugar onde se encontrava a sede dessa instituição de má memória. Seria um enorme retrocesso, quase 200 anos depois, vê-lo tornar-se um instrumento de propaganda ao serviço de uma ideologia.