O povo questionava-se; afinal eles vêm ou não? Eles eram os Beatles. Dois dias antes, em Estocolmo foi um charivari: os Fab Four saíram do avião em passo de corrida e saltaram para dentro de um carro que partiu a toda a velocidade, frustrando os milhares de rapariguinhas que se juntaram nem que fosse para lhes dar uma rápida vista de olhos. Uma garota de 12 anos não foi de modas, saltou para cima do capot e manteve-se aí agarrada durante uns minutos gritando “Amo-vos”.
Era assim por toda a parte nessa digressão que estavam a fazer pela Europa. Um cordão fechava-se em seu redor – 16 homens, 6 carros, uma matilha de cães ferozes protegiam os quatro rapazes de Liverpool de serem desfeitos por multidões histéricas.
Numa conferência de imprensa entretanto realizada, mostravam o tipo de nonsense que fazia parte da sua forma de ser. “Por quanto tempo vão manter-se no topo?”, perguntava um repórter. E Lennon sem dúvidas: “Três anos, quatro meses, seis dias e 37 minutos… Depois virá o ténis». Outro ergueu o braço: “Como se conseguem ouvir durante os concertos com toda aquela gritaria à vossa volta?” Desta vez foi George Harrison: “Não conseguimos ouvir nada. Mas não faz mal porque temos os discos lá e casa e podemos ouvi-los quando quisermos”. De súbito, uma questão mais particular: “Nunca atuaram em Portugal. Quanto cobrariam por um concerto em Lisboa?”. Nenhum respondeu. Fixaram os olhos em Mr. Taylor, chefe da comitiva, braço direito do diretor comercial da banda, Brian Epstein.
Taylor viria a dar a resposta mais tarde, já depois de finalizada a conferência. O preço que exigiriam para uma deslocação a Portugal seria de duas mil Libras, algo equivalente a 160 contos da altura. Com todas as despesas de viagem e estadia a serem pagas pelo produtor português interessado. Mas Mr. Taylor também tratou de avisar: “Teríamos todo o interesse e prazer em levar os Beatles a Portugal mas temos a agenda tão cheia neste momento que tal só poderia acontecer lá para janeiro ou fevereiro de 1965. Neste momento iremos para os Estados Unidos de onde só voltaremos em finais de setembro. Depois temos uma série da concertos no Reino Unido e a rodagem de um filme. Na verdade, John, Paul, George e Ringo viriam a Portugal várias vezes, geralmente para o Algarve e raramente juntos. Nunca encontraram na agenda um data para cá tocarem. Também não eram muito bem vistos pelo regime.