Quando se fez o anúncio dos 18,5 milhões de euros investidos na Missão portuguesa em Tóquio, estimava-se que os atletas portugueses conseguiriam duas medalhas. O objetivo estava já alcançado, e Fernando Pimenta veio aumentar o número, com o bronze alcançado em K1 1.000 metros, a única categoria onde participou nesta edição dos Jogos.
Quem mais vibrou com a vitória do canoísta foram os seus amigos e familiares, da vila de Ponte de Lima, a Norte do país. Foi ali que Pimenta iniciou a sua carreira como canoísta, e é agora um dos seus “cartões de visita”. Assim o descreve ao i o padre João Lima, que partilha os deveres religiosos em Arcos de Valdevez, não muito longe, com a gerência do restaurante Açude, nas margens do rio Lima, que partilha o espaço com o edifício do Clube Náutico da vila.
“Tenho uma grande admiração pelo Fernando, é nosso cliente. Costuma vir cá com a família. Aliás, antes de ele ir para Tóquio, fizemos aqui uma homenagem junto dele, da mulher, e da filha”, referiu João Lima, que definiu Pimenta como uma pessoa “muito alegre, que merece os parabéns”. “Uma pessoa simples e humilde, que dá tudo pela canoagem, e é bom para a vila”, continuou, abrindo caminho para uma das consequências mais interessantes dos feitos do canoísta. “Aqui, os miúdos divertem-se e treinam para ser futuros campeões, e para essa pequenada é bom ocupar o tempo com isso”, afirmou, antes de associar o recente investimento camarário – de mais de meio milhão de euros – nas instalações do Clube Náutico às conquistas de Pimenta.
“Esse investimento está ligado [ao feito do Fernando Pimenta], e a Câmara aproveitou o sucesso dele e tem conseguido apoios do Governo”, continuou o responsável pelo Açude, que deixou uma mensagem de agradecimento: “A vila e a gente de Ponte de Lima está muito agradada pelo seu sucesso, até porque, assim, a vila tem nome, não só nas pessoas da terra que ficaram ligadas [à televisão] e gostam de o ver, como as crianças e jovens, mas também pessoas de longe que vêm para visitar. É um cartão de visita”.
Também a Casa do Concelho de Ponte de Lima, em Lisboa, celebrou a vitória do “filho da terra”, como o define Ana Pinto, membro da direção da Casa, em declarações ao i. A ligação à vila, apesar de ter nascido em Lisboa, filha de limianos, mantém-se forte, e Ana Pinto é uma das muitas pessoas que vibrou com a vitória de Pimenta em Tóquio. “[Fernando Pimenta] é um filho da terra, toda a gente o conhece. Vibramos sempre que vai aos Jogos ou outras competições. Para nós é sempre um orgulho”, começou por explicar, lamentando não poder assistir em direto às competições, porque “os horários são diferentes, e é muito difícil ficar acordado para depois ir trabalhar no dia seguinte”. Ainda assim, as redes sociais são a escolha para “manter-se sempre ligados, e sempre orgulhosos dos seus feitos”.
Ana Pinto realçou também a melhoria da qualidade das águas do rio Lima, e o investimento no Clube Náutico, como as razões – aliadas às vitórias de Fernando Pimenta – que fomentam a prática da modalidade na vila. “Há muita motivação nos últimos anos dos mais jovens. É uma terra com menos atividades do que Lisboa, e dedicam-se mais. Então se veem alguém que é da terra a ganhar essas medalhas todas, claro que é um incentivo”, concluiu a mesma.
Quase, mas bom o suficiente “Este é um dos sonhos. Faltou o outro, de ser campeão olímpico”, começou por declarar Fernando Pimenta à RTP, confessando a frustração por falhar o ouro. “Dei o meu melhor neste ciclo olímpico, muito longo, com muita regularidade. De 2017 a mostrar que o Pimenta de 2016 era candidato à medalha, não consegui por coisas que não podia controlar. Só tenho de estar feliz”, referiu. O canoísta mostrou-se também pronto “para as curvas”, a pensar nos Jogos de Brisbane, em 2032.
O canoísta demorou 3.22,478 minutos a completar o percurso em Tóquio, ficando atrás dos húngaros Balint Kopasz, novo recordista olímpico, com 3.20,643, e Adam Varga (3.22,431). É a segunda medalha olímpica do atleta de Ponte de Lima, depois da prata conseguida nos Jogos de Londres, em 2012, em K2 1.000 metros, junto de Emanuel Silva.
Os dois húngaros que bateram Pimenta foram “mais fortes e mais rápidos”, mas o canoísta defende também ter sido “o mais regular em todos os Mundiais e Europeus nesta distância”.
Évora fora, Pichardo na final A manhã de terça-feira foi, ainda assim, um momento triste para o atleta português Nelson Évora, que tinha já anunciado que estes seriam os últimos Jogos Olímpicos da sua carreira, e que acabou por falhar a final do triplo salto, não indo além dos 15,39 metros, contando dois saltos nulos, após lesionar-se no primeiro. Évora, no entanto, não hesitou em lançar uma farpa a Pedro Pablo Pichardo, campeão nos Europeus de Atletismo de Pista Coberta no triplo salto, que chegou à final da modalidade em Tóquio (que decorre na madrugada de quinta-feira), após conseguir a melhor marca na prova de qualificação: 17,71 metros. O atleta que acabou eliminado da modalidade disse acreditar que, se Pichardo estivesse simultaneamente na mesma pista, não o teria cumprimentado. “Não sei porquê, não por mim, mas não teria de ser eu a abraçá-lo. O Pichardo há de aprender com a vida. Espero que tudo lhe corra muito bem”, concluiu. Voltou assim a sentir-se a tensão entre Évora e Pichardo, que vem já dos tempos do processo de naturalização do luso-cubano, fortemente criticado por Évora. Em janeiro de 2019, o luso-cabo-verdiano criticou o processo de naturalização de Pichardo, acusando-o de ser “um ataque pessoal”. “Foi – e continua a ser – para mim e para muitos outros algo de muita luta e um processo bastante longo. Todos têm o direito de mudar de nacionalidade. Somos cidadãos do mundo. Acho é que não temos o direito de passar por cima de muitas coisas, de uma história. Por interesses clubísticos fizeram-se coisas inacreditáveis”, atacou, na altura, Évora, em entrevista à Sporting TV.
Fim da linha para Francisco Belo A esperança na manhã de terça-feira estava ainda viva para Francisco Belo que, no lançamento do peso, esteve perto de alcançar um lugar na final da prova. No fim, no entanto, a marca dos 20,58 metros alcançada não foi o suficiente para garantir a continuidade.
Prova equestre de qualidade Portugal brilhou ainda, na manhã de terça-feira, quando Luciana Diniz garantiu um lugar na final de obstáculos, hoje (11h00), em equestre. Uma prova perfeita, sem falhas, desenhou um sorriso na cara da atleta, que vai lutar pelas medalhas.