Os resultados preliminares já conhecidos dos Censos 2021 em Portugal confirmam o que todos pressentíamos. Temos um grave desequilíbrio demográfico. Somos um país envelhecido e com manchas de território em risco de crescente desertificação humana.
Precisamos de apostar forte nas políticas de fixação e de apoio à natalidade, mas necessitamos também que se juntem a nós pessoas vindas das quatro partidas do mundo e que aqui queiram prosseguir o seu projeto de vida, tanto mais que também somos um povo maturado na diáspora e na vontade de fazer do globo o nosso espaço vital.
O desporto é um espelho onde se projeta a matriz demográfica do país. No futebol, somos competitivos com uma seleção com muitos expatriados e clubes de topo recheados de jogadores de outras paragens. Dificilmente esta realidade poderia ser muito diferente noutras modalidades individuais ou coletivas e os recentes Jogos Olímpicos de Tóquio foram disso uma prova marcante. Como realçou Marcelo Rebelo de Sousa, 3 dos 4 medalhados têm raízes africanas, mas não senti nas suas reações e nas suas emoções, que fossem menos portugueses do que eu. As partidas e as chegadas fazem parte da nossa identidade coletiva.
Quando decorrem as grandes competições ou quando as nossas equipas ou atletas fazem subir o nome ou a bandeira de Portugal nos mastros da glória, sentimos uma ligação umbilical entre os feitos dos que nos representam e a o sentimento de pertença que temos ao nosso país. Também vibramos quando atletas lusos vencem ao serviço de emblemas internacionais, tomando para nós uma fatia desse sucesso. No desporto de alta competição aceitamos como normal que os nossos clubes se reforcem no mercado global e, ainda que por vezes com tristeza e frustração, compreendemos que os alguns dos nossos melhores atletas, em múltiplas modalidades, também acabem por ter que competir em emblemas estrangeiros, com mais poderio financeiro ou maior atratividade competitiva.
Que lições poderemos tirar do desporto para o dia a dia e para o futuro próximo da nossa sociedade? Parece-me claro que há duas linhas de trabalho indiscutíveis. Precisamos de atrair para Portugal gentes com vontade e qualidade para prosseguirem aqui o seu projeto de vida, em condições dignas e capazes de valorizar os seus contributos, e temos que melhorar as condições para que aqueles que aqui nascem e se formam, encontrem no nosso país as condições para se realizarem e serem felizes.
Quanto mais gente, nascida em país ou vinda de fora, se sentir integrada e dignificada em Portugal, mais provável é que deseje aumentar a sua descendência e arriscar empreender e arriscar em territórios menos povoados, ajudando a criar as células de massa crítica que serão determinantes para a recuperação social, económica e demográfica sustentável, que os indicadores dos Censos 2021 vieram assinalar como ainda mais urgente do que já a percecionávamos.
A abordagem tem que ser sistémica, mas há uma pedra de toque. Enquanto a remuneração ou o apoio aos jovens altamente qualificados, no momento da entrada no mercado, não se aproximar das ofertas exteriores, será muito difícil fixar e atrair o sangue novo e criativo de que precisamos na sociedade e no desporto. É um exemplo premente do que temos que fazer para “reforçar o medalheiro”.
Eurodeputado do PS