Na exata semana em que a União Europeia apresentava o “road map” para o European Green Deal (EGD) o planeta resolveu manifestar-se de forma dramática, tendo arrasado várias povoações do centro da Europa, em especial na Alemanha, onde se lamentam milhões de euros de prejuízos materiais, mas acima de tudo vidas humanas. Se o destino tem ironias esta seria a mais sublime de todas.
De entre as imagens dramáticas, que todos pudemos constatar nas televisões, houve uma, particularmente surreal, onde se vê um carro praticamente todo submerso com um autocolante no vidro onde se lia a infame frase dos negacionistas das alterações climáticas “F*** You Greta”.
Obviamente que, apesar de tudo isto, continuará a haver quem diga que estes eventos climáticos sempre ocorreram e que não significa nada. Se quanto a esses nada se pode fazer, o mesmo não se aplicará a quem, com responsabilidades a nível político e económico no mundo, têm o poder de decidir o nosso presente e, por isso mesmo, o nosso futuro.
Saúda-se o esforço que na Europa se está a encetar para combater as alterações climáticas, mas este esforço de nada valerá se não houver um claro compromisso à escala planetária e isso está muito longe de se atingir. Mais, de acordo com as principais organizações ambientais europeias, as metas que agora foram apresentadas para 2030 e 2050 são claramente insuficientes para atingir o objetivo do Acordo de Paris de conter o aumento da temperatura global.
Terá de haver muita coragem para implementar medidas que abrandem a destruição da vida humana neste planeta, pois só um novo paradigma de desenvolvimento poderá estancar o cataclismo ambiental.
A humanidade já deu provas de se saber reinventar quando se encontrou à beira do desastre e, nesse sentido, querer, ainda que de forma mitigada, manter o padrão de consumo, o mesmo modelo económico, continuar a criar “megatrópoles”, exaurindo os recursos naturais, os ecossistemas e a biodiversidade em prol de uma falsidade de melhoria de condições de vida para todos (o que comprovadamente é falso, pois o fosso entre ricos e pobres não pára de aumentar) revela-se uma clara quadratura do círculo.
Estamos todos a favor do combate às alterações climáticas, mas na escala local e nacional achamos que não devemos pagar impostos por combustíveis fósseis, que a água deve ser gratuita e os nossos resíduos têm de continuar a ser tratados ao custo de 2 tostões furados. Contraditório, não?
As organizações multilaterais têm aqui um papel relevantíssimo, mas os Estados (enquanto comunidades de povos) têm um, ainda, mais fundamental e precisamos urgentemente de líderes que não tenham medo de fazer o correto, mesmo que isso, no imediato, acarrete custos de popularidade e de poder. Devemos isso às crianças e jovens do planeta.