O bacon e o abade


Com uma população reduzida a cerca de 340 espécimes na Grã-Bretanha, o Tam é também conhecido por bacon pig, o que lhe dá uma certa primazia entre aqueles que não dispensam um verdadeiro English breakfast. 


LONDRES – De repente deu aos ingleses uma febre de casa. Querem tudo em casa, a começar pelo futebol – “Football is Coming Home!”, mas ontem o Sun caiu no exagero, se a palavra exagero cabe no léxico dos nossos camaradas do Sun, de fazer uma primeira página com um pedido ligeiramente mais fácil de satisfazer: “Bring Home the Bacon, Lads”. Ora, o bacon tem uma longa história em Inglaterra e não queiram resumi-la a ovos estrelados com feijão. Há uma raça de porcos muito famosa, aqui na Grande Ilha para cá da Mancha.

Chama-se Tamworth Pig e é uma das mais antigas espécies suínas do planeta, um animal conhecido pelo seu tom de pele avermelhado, pelo seu pelo de cor ruiva, uma cabeça oblonga e corpo estreito. Há quem queira, pelas suas características, encontrar-lhe antepassados escoceses. Para os mais íntimos, ganhou a alcunha de Tam.

Com uma população reduzida a cerca de 340 espécimes na Grã-Bretanha, o Tam é também conhecido por bacon pig, o que lhe dá uma certa primazia entre aqueles que não dispensam um verdadeiro English breakfast. Não se resume, no entanto, a tão pouco a sua participação na História de Inglaterra.

Uma vara de porcos de Tamworth ficou registada como tendo sido deixada à solta pelo reverendo Edward Drax Free, responsável pelo vicariato de Sutton, dedicando-se à alegre escavação da terra ainda fofa dos mais recentes túmulos do cemitério local, muito provavelmente em busca das sempre tão apreciadas turfas, e à utilização da nave principal da igreja para exercícios de defecação e práticas sexuais.

As autoridades eclesiásticas não apreciaram o descuido do reverendo com os bens da Igreja. Por muito ínvios que estes possam ser, o reverendo viu-se privado dos seus privilégios. Barricou-se no presbitério com uma das suas amantes e recusou terminantemente entregar-se à Justiça dos homens.

Acompanhado por uma moçoila do Bedfordshire e por um cevado do Staffordshire, podia estar à míngua de alimento espiritual, mas munira-se de uma dose de carnes capaz de o manter inflexível durante dias a fio. Infelizmente para o reverendo Edward Drax Free, o porco não se conservou indefinidamente e a natureza não o fizera homem de uma mulher só. Expulso da Igreja, tornou-se um pedinte.

E, porque Londres é a grande fossa onde vão desaguar todos os vadios e deserdados do império, foi aí que a Justiça de Deus o apanhou, dormindo, na forma de uma roda de tipoia numa rua qualquer entre Kensington e Hammersmith. Diz-se que o cadáver exalava um estranho cheiro a bacon.

O bacon e o abade


Com uma população reduzida a cerca de 340 espécimes na Grã-Bretanha, o Tam é também conhecido por bacon pig, o que lhe dá uma certa primazia entre aqueles que não dispensam um verdadeiro English breakfast. 


LONDRES – De repente deu aos ingleses uma febre de casa. Querem tudo em casa, a começar pelo futebol – “Football is Coming Home!”, mas ontem o Sun caiu no exagero, se a palavra exagero cabe no léxico dos nossos camaradas do Sun, de fazer uma primeira página com um pedido ligeiramente mais fácil de satisfazer: “Bring Home the Bacon, Lads”. Ora, o bacon tem uma longa história em Inglaterra e não queiram resumi-la a ovos estrelados com feijão. Há uma raça de porcos muito famosa, aqui na Grande Ilha para cá da Mancha.

Chama-se Tamworth Pig e é uma das mais antigas espécies suínas do planeta, um animal conhecido pelo seu tom de pele avermelhado, pelo seu pelo de cor ruiva, uma cabeça oblonga e corpo estreito. Há quem queira, pelas suas características, encontrar-lhe antepassados escoceses. Para os mais íntimos, ganhou a alcunha de Tam.

Com uma população reduzida a cerca de 340 espécimes na Grã-Bretanha, o Tam é também conhecido por bacon pig, o que lhe dá uma certa primazia entre aqueles que não dispensam um verdadeiro English breakfast. Não se resume, no entanto, a tão pouco a sua participação na História de Inglaterra.

Uma vara de porcos de Tamworth ficou registada como tendo sido deixada à solta pelo reverendo Edward Drax Free, responsável pelo vicariato de Sutton, dedicando-se à alegre escavação da terra ainda fofa dos mais recentes túmulos do cemitério local, muito provavelmente em busca das sempre tão apreciadas turfas, e à utilização da nave principal da igreja para exercícios de defecação e práticas sexuais.

As autoridades eclesiásticas não apreciaram o descuido do reverendo com os bens da Igreja. Por muito ínvios que estes possam ser, o reverendo viu-se privado dos seus privilégios. Barricou-se no presbitério com uma das suas amantes e recusou terminantemente entregar-se à Justiça dos homens.

Acompanhado por uma moçoila do Bedfordshire e por um cevado do Staffordshire, podia estar à míngua de alimento espiritual, mas munira-se de uma dose de carnes capaz de o manter inflexível durante dias a fio. Infelizmente para o reverendo Edward Drax Free, o porco não se conservou indefinidamente e a natureza não o fizera homem de uma mulher só. Expulso da Igreja, tornou-se um pedinte.

E, porque Londres é a grande fossa onde vão desaguar todos os vadios e deserdados do império, foi aí que a Justiça de Deus o apanhou, dormindo, na forma de uma roda de tipoia numa rua qualquer entre Kensington e Hammersmith. Diz-se que o cadáver exalava um estranho cheiro a bacon.