As filas de espera para as vacinas vão acompanhar-nos nas próximas semanas, avisam. Como também estive numa, vi que quando as coisas começam a correr mal rapidamente já metem gente a esbracejar e a polícia a ter de intervir. Há chicos-espertos que no meio do aperto tentam passar à frente, porque tinham a vacina marcada – não querendo perceber que todos tínhamos – e não gostei de ver que a solução para acalmar os ânimos, igualmente esperta, foi deixar entrar depois dos queixosos avançarem uns metros.
Aparentemente bastava que só pudessem entrar para serem vacinadas as pessoas que tinham aquela hora marcada, e não concentrarem-se todos, independentemente do horário, na mesma fila que subia a rua do pavilhão e ainda descia outra. Simples, mas difícil de concretizar quando de repente já se juntou uma multidão.
A espera prolongou-se pela hora de almoço e, a certa altura, já sentados nas bancadas para mais uma ronda de espera, quando um dos aspirantes à primeira toma protestou equivocado que tinha chegado primeiro, tivemos de nos virar com um olhar ameaçador, para nos rirmos que ninguém pensou nos efeitos secundários da fome. E do nervosismo inerente a ir fazer-se a vacina de que já se disse tudo e o seu contrário. Foram quase cinco horas entre chegar à fila e terminar os 30 minutos de recobro. É muito?
Um bocado, mas na tarde de domingo do último jogo da Seleção soube de centros de saúde que andaram à procura de pretendentes aos lugares. Arrisco que já todos esperámos por coisas menos e mais relevantes e que nunca estivemos em tantas filas como no último ano.
Quando tanto se investe na adesão, é importante corrigir os pontos de bloqueio e não premiar fura-filas, mas também nos cabe a todos não stressar à primeira – reclamar o que for para reclamar, com respeito por quem está a trabalhar e não tem culpa. Vacinar 150 mil pessoas num dia significa que neste momento se estão a fazer mais vacinas num ou dois dias do que se faz normalmente num mês nos centros de saúde.
Exige recursos, que infelizmente foram desviados de outras áreas em que também fazem falta, e uma logística que nunca se viu no país e pode melhorar – mas também civismo. Se podemos responder ao pedido de tolerância, tentar pelo menos, há coisas que se podem já antecipar, como eram expectáveis enchentes e podiam ter aberto mais locais de vacinação.
Em França, onde a campanha de promoção da vacina nos deixa com um sorriso, o que é meio caminho andado, anunciou-se há uma semana pontos de vacinação junto às praias, para garantir segundas tomas numa altura de férias. Cá a ideia de mudar o processo tem sido descartada. Logisticamente pode ser um desafio, mais um, mas será mais complicado pensar nisso no pico do verão.