Estudo. 86% dos portugueses acharam as limitações justificadas

Estudo. 86% dos portugueses acharam as limitações justificadas


Em plena pandemia de covid-19, como é que os portugueses encaram os setores social, político e económico? Um estudo da FFMS espelha o seu pensamento entre os meses de março e maio.


A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) promoveu um abrangente estudo para medir os principais impactos da pandemia da covid-19 nas instituições democráticas nacionais, na política internacional, na economia e na sociedade. Três em cada quatro portugueses está “razoavelmente satisfeito” com as medidas do governo e 86% dos inquiridos afirmam que as limitações às liberdades públicas foram “completamente justificadas”. São estes os principais resultados preliminares – recolhidos entre 16 de Março e 20 de Maio – do trabalho. O projeto – que chegou a ser liderado pelo Prof. Nuno Monteiro, de Yale, subitamente desaparecido em Maio – reúne investigadores das principais universidades portuguesas e é comandado por Carlos Jalali. O seu resultado final será publicado na primavera de 2022.

Mais de 70% discordam com medidas da época festiva A estatística mais significativa a apontar no estudo do impacto da pandemia nas instituições democráticas nacionais – coordenada por Ana Maria Belchior, do CIES-ISCTE – é a de solidariedade e concordância com o governo na securitização da pandemia. Mais de oito em cada dez dos portugueses consideram que “as limitações às liberdades públicas foram completamente justificadas, ou pelo menos justificadas em certa medida”. Os restantes 14%, claro está, consideram-nas injustificadas. Houve, contudo, particular concordância na discordância quanto a uma das medidas: 75% avaliam as regras de circulação e atividades definidas para o Natal e Ano Novo como “más” ou “muito más”. Ainda 43% consideram que a democracia foi enfraquecida durante a pandemia, sobrepondo-se assim aos 15% que creem-na sair reforçada. Não obstante, 60% declaram-se satisfeitos com a forma como a democracia funciona no país. Por fim, subindo a lupa, três em cada quatro dos respondentes considera-se “razoavelmente” ou “totalmente satisfeito” com as generalidade das “medidas tomadas pelo governo no combate à pandemia”.

Mais de 50% culpam China pela pandemia Na área que destaca o impacto da pandemia na Política Internacional – coordenada por Bruno Cardoso Reis, também do CIES-ISCTE, a China é apontada como o país com “especial responsabilidade” negativa “na origem ou gestão da pandemia” – 53% dos inquiridos assim o acham. Segue-se-lhe os EUA (18%) e o Brasil (9%). Contudo, “surpreendentemente”, 20% dos inquiridos consideram que a mesma China teve o melhor comportamento em termos de liderança da resposta internacional, encabeçando assim esta estatística e sendo seguida pelos EUA (15%) e pelo Reino Unido (12%).

1 em cada 20 desenvolveu doenças graves Na área de Sociedade, coordenada por Maria Manuela Calheiros, investigadora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, percecionou-se que em cada 20 entrevistados, seis sentiram-se sozinhos durante o ano de 2020. À sua vez, quatro sentiram pouca intimidade com as pessoas com quem passam tempo e importa referir que “três reportaram distância face a pessoas que consideram importantes, e, já no espetro da patologia, 1 em cada 20 afirma ter desenvolvido doenças crónicas graves, incluindo doença mental”. Neste sentido, a satisfação com a vida reportada desce abruptamente devido ao novo coronavírus, pois na fase pré-covid-19, 71% dos entrevistados classificavam a sua vida como estando perto do que aquela que idealizavam para si. No primeiro confinamento, este valor desceu para apenas 22% e, aquanda recolha dos dados, no final do segundo confinamento, rondava os 30%.

É de mencionar que os dados provam que o isolamento social é a principal causa destas quebras, sendo os sentimentos de solidão fortemente reportados. Assim, conclui-se que são os indivíduos em regime de teletrabalho – 25% da amostra -, “de forma continuada ou durante alguns períodos, quem reporta um agravamento maior do seu volume de trabalho doméstico face ao período pré-pandemia”.

Naquilo que diz respeito à ligação entre o trabalho formal e o trabalho informal ou doméstico, a mesma torna-se mais complexa em agregados com filhos menores de idade, em idade escolar. Ainda nesta vertente é de destacar que 75% dos entrevistados é favorável à vacinação. Em contrapartida, 25% dos entrevistados assumem alguma espécie de reserva face à vacinação contra a covid-19.

64% reduziram despesas com restauração As conclusões da área de Economia, coordenada por Hugo Figueiredo da Universidade de Aveiro, mostram que os setores do comércio (-25,3%), indústria (-23,2%) e transportes (-16,4%) foram os mais afetados no segundo trimestre de 2020.

“Já a agricultura, embora um pouco menos afetada no segundo trimestre, acentuou as quebras no trimestre seguinte”, lê-se no estudo, sendo de referir que os setores financeiro e da construção foram aqueles que menos impactos negativos sofreram.

Os setores em que a maioria das famílias identificou ter reduzido as suas despesas são a restauração (-64% das respostas), cabeleireiros, beleza e bem-estar (-58%), viagens (terrestres e aéreas, -55% e -39%, respetivamente), cultura (-54%), vestuário (-54%) e alojamento temporário (-49%). Contudo, aumentaram o consumo de eletricidade, gás e água (44%), comércio online (34%) e retalho (34%).

Naquilo que concerne “a expectativa quanto à evolução da situação financeira dos agregados familiares, nos 6 meses seguintes à aplicação do inquérito, a maioria dos inquiridos (56%) respondeu que não espera qualquer variação no seu rendimento. Entre aqueles que esperam alguma variação de rendimento, boa parte dos inquiridos espera uma melhoria (26%) comparativamente com aqueles que esperam uma deterioração (15%)”. Ainda assim, quando questionados acerca das perspetivas de evolução da economia portuguesa no ano seguinte, 38% dos inquiridos respondem que o estado da economia estará melhor e 30% que estará pior, com 25% a considerar que permanecerá igual.