E se o Engenheiro não sabe o que é o Engenho?


O processo de ensino, pese embora o diálogo entre emissor e recetor, tem particularidades que extravasam a individualidade de cada um dos atores. O mesmo é dizer que se o emissor é único, com a sua terminologia, método e técnica pedagógica, os recetores são vários e diferentes.


Passados dois, cinco ou até sete anos de academia, seria de esperar que, com a proximidade do fim do percurso escolar, o degrau seguinte estivesse a uma passada alcançável, após anos e promessas de conteúdos necessários para vingar no mundo laboral. Qual não será o espanto ao perceber que esse degrau foi mal dimensionado de raiz?

Dir-se-ia que a academia perde o passo perante a passada da praxis.

Tudo o que a sociedade conquistou é colocado, por intermédio da escola, à disposição dos seus futuros membros. Pressupondo que todas as descobertas e evoluções sustentam os conteúdos programados para a aprendizagem dos jovens, havendo uma reflexão contínua do que está ou não adequado ao caminho que o futuro traça.

No entanto, sempre que se discute a possibilidade de inclusão de um novo movimento educacional, os argumentos pecam por defeito em toda a construção social e contexto traçado. Mudanças ao nível das Instituições parecem ser abordadas como atentados à integridade tradicional, ao status quo que as constitui quando, na verdade, deveria ser um esforço para acompanhar as necessidades da nova sociedade que se espera construir.

O aprendiz e o mestre, o que procura saber e o sabedor. Um fio de duas pontas esticado, aparentemente, sem interferências. Mas só aparentemente.

O processo de ensino, pese embora o diálogo entre emissor e recetor, tem particularidades que extravasam a individualidade de cada um dos atores. O mesmo é dizer que se o emissor é único, com a sua terminologia, método e técnica pedagógica, os recetores são vários e diferentes. Cada aluno é um recetor único condicionado pelas suas capacidades linguísticas, percetivas, de compreensão e de abstração. Daí a primeira complexidade do processo pedagógico: um mestre, vários discípulos. Contudo o ensino condicionado por todas as suas valências, necessidades e exigências tem ainda uma finalidade comum: dotar a sociedade de indivíduos capazes de a compreenderem e descobrirem o seu papel no interesse comum. E esse papel pode ser ilustrado, representado pela solidez do saber teórico, porém capaz de resolver questões práticas e concretas.

A tarefa é árdua apenas porque com tamanha complexidade o foco fica perdido. Os alunos entram num concurso de competições e ambições e a vontade de aprender fica pelo caminho. Tudo porque a valorização do trabalho não é tida em conta nem é aplicada num problema real, autêntico, que motiva o entendimento profundo de um determinado campo do conhecimento.

O ensino prático deve aparecer como o chapéu de toda a evolução tecnológica e, pelo menos nas suas características mais gerais, como inevitável. A ideia de responsabilidade, de utilidade, de cooperação em prol de ideias concretas não substitui a teoria clássica, pelo contrário, complementa-a, comprova-a constantemente, torna-a útil para a produtividade do indivíduo.

Tudo isto começa pelas brincadeiras de criança com a contagem de legos e paus para aprender os primeiros números e perceber quantos bombons se podem comprar com dois euros, para uma dimensão alargada e adaptada aos projetos desafiadores de engenharia.

Na verdade é pela observação e manuseamento do brinquedo ou engenho que nasce a curiosidade para o compreender, construir, modificar, melhorar.

É a praxis que abre caminho para a academia e não o inverso.

Por isso é desejável um novo modelo de ensino académico permeado pela realidade prática dos tecidos empresariais da indústria de modo a que os estudantes mantenham o fio condutor que os motivou a procurar conhecer o engenho.

Não há dúvida que seremos melhores profissionais errando no protótipo de avião que construímos. Lançá-lo ao ar, vê-lo cair e trabalhar até que voe sem nunca cair. É um sentimento de valorização, de confirmação para com o que ambicionamos, é um conforto pela utilidade do nosso esforço.

E tal como a qualidade do desempenho prático será seguramente melhorada com a presença dos princípios que enformam a teoria, a Universidade reduzirá os riscos de formar Engenheiros de pontes incapazes de propor soluções para uma ponte em vias de ruir.

E assim entraremos no Ano Letivo 2021/2022 no Instituto Superior Técnico, com o compromisso de uma aprendizagem contínua focada no ensino prático, partilhada e conjunta pelas várias valências que a escola oferece nas áreas da Engenharia e Arquitetura. Para podermos olhar para a Instituição como uma escola que nos prepara para a inovação, para a nossa própria realização profissional.

É o desejo dos alunos que tudo isto se concretize num paradigma novo capaz de dar sentido à maneira como se aprende. Refletir se o fio tem apenas um início e um fim, um professor a narrar uma aula para um aluno sentado, ou se permite uma flexibilidade à construção do saber.

Sempre na convicção de que o “aprender fazendo” estará no eixo principal das atenções do Técnico: importa aprender fazendo, aprender errando, mas sobretudo aprender.

 

 Aluna do Instituto Superior Técnico, Vice Presidente Aluna do Conselho Pedagógico.


E se o Engenheiro não sabe o que é o Engenho?


O processo de ensino, pese embora o diálogo entre emissor e recetor, tem particularidades que extravasam a individualidade de cada um dos atores. O mesmo é dizer que se o emissor é único, com a sua terminologia, método e técnica pedagógica, os recetores são vários e diferentes.


Passados dois, cinco ou até sete anos de academia, seria de esperar que, com a proximidade do fim do percurso escolar, o degrau seguinte estivesse a uma passada alcançável, após anos e promessas de conteúdos necessários para vingar no mundo laboral. Qual não será o espanto ao perceber que esse degrau foi mal dimensionado de raiz?

Dir-se-ia que a academia perde o passo perante a passada da praxis.

Tudo o que a sociedade conquistou é colocado, por intermédio da escola, à disposição dos seus futuros membros. Pressupondo que todas as descobertas e evoluções sustentam os conteúdos programados para a aprendizagem dos jovens, havendo uma reflexão contínua do que está ou não adequado ao caminho que o futuro traça.

No entanto, sempre que se discute a possibilidade de inclusão de um novo movimento educacional, os argumentos pecam por defeito em toda a construção social e contexto traçado. Mudanças ao nível das Instituições parecem ser abordadas como atentados à integridade tradicional, ao status quo que as constitui quando, na verdade, deveria ser um esforço para acompanhar as necessidades da nova sociedade que se espera construir.

O aprendiz e o mestre, o que procura saber e o sabedor. Um fio de duas pontas esticado, aparentemente, sem interferências. Mas só aparentemente.

O processo de ensino, pese embora o diálogo entre emissor e recetor, tem particularidades que extravasam a individualidade de cada um dos atores. O mesmo é dizer que se o emissor é único, com a sua terminologia, método e técnica pedagógica, os recetores são vários e diferentes. Cada aluno é um recetor único condicionado pelas suas capacidades linguísticas, percetivas, de compreensão e de abstração. Daí a primeira complexidade do processo pedagógico: um mestre, vários discípulos. Contudo o ensino condicionado por todas as suas valências, necessidades e exigências tem ainda uma finalidade comum: dotar a sociedade de indivíduos capazes de a compreenderem e descobrirem o seu papel no interesse comum. E esse papel pode ser ilustrado, representado pela solidez do saber teórico, porém capaz de resolver questões práticas e concretas.

A tarefa é árdua apenas porque com tamanha complexidade o foco fica perdido. Os alunos entram num concurso de competições e ambições e a vontade de aprender fica pelo caminho. Tudo porque a valorização do trabalho não é tida em conta nem é aplicada num problema real, autêntico, que motiva o entendimento profundo de um determinado campo do conhecimento.

O ensino prático deve aparecer como o chapéu de toda a evolução tecnológica e, pelo menos nas suas características mais gerais, como inevitável. A ideia de responsabilidade, de utilidade, de cooperação em prol de ideias concretas não substitui a teoria clássica, pelo contrário, complementa-a, comprova-a constantemente, torna-a útil para a produtividade do indivíduo.

Tudo isto começa pelas brincadeiras de criança com a contagem de legos e paus para aprender os primeiros números e perceber quantos bombons se podem comprar com dois euros, para uma dimensão alargada e adaptada aos projetos desafiadores de engenharia.

Na verdade é pela observação e manuseamento do brinquedo ou engenho que nasce a curiosidade para o compreender, construir, modificar, melhorar.

É a praxis que abre caminho para a academia e não o inverso.

Por isso é desejável um novo modelo de ensino académico permeado pela realidade prática dos tecidos empresariais da indústria de modo a que os estudantes mantenham o fio condutor que os motivou a procurar conhecer o engenho.

Não há dúvida que seremos melhores profissionais errando no protótipo de avião que construímos. Lançá-lo ao ar, vê-lo cair e trabalhar até que voe sem nunca cair. É um sentimento de valorização, de confirmação para com o que ambicionamos, é um conforto pela utilidade do nosso esforço.

E tal como a qualidade do desempenho prático será seguramente melhorada com a presença dos princípios que enformam a teoria, a Universidade reduzirá os riscos de formar Engenheiros de pontes incapazes de propor soluções para uma ponte em vias de ruir.

E assim entraremos no Ano Letivo 2021/2022 no Instituto Superior Técnico, com o compromisso de uma aprendizagem contínua focada no ensino prático, partilhada e conjunta pelas várias valências que a escola oferece nas áreas da Engenharia e Arquitetura. Para podermos olhar para a Instituição como uma escola que nos prepara para a inovação, para a nossa própria realização profissional.

É o desejo dos alunos que tudo isto se concretize num paradigma novo capaz de dar sentido à maneira como se aprende. Refletir se o fio tem apenas um início e um fim, um professor a narrar uma aula para um aluno sentado, ou se permite uma flexibilidade à construção do saber.

Sempre na convicção de que o “aprender fazendo” estará no eixo principal das atenções do Técnico: importa aprender fazendo, aprender errando, mas sobretudo aprender.

 

 Aluna do Instituto Superior Técnico, Vice Presidente Aluna do Conselho Pedagógico.