Calor. Termómetros em Seattle e Portland atingem recordes

Calor. Termómetros em Seattle e Portland atingem recordes


46.6 graus no Canadá, e mais uns quantos termómetros a bater recordes em cidades como Portland e Seattle, do lado dos Estados Unidos, são a mais recente e bizarra aventura que os norte-americanos e os canadianos estão a enfrentar. Uma onda de calor está a causar sérios problemas na costa Oeste dos dois países, habituados a…


Seattle (no estado de Washington) e Portland (no estado de Oregon) são duas cidades norte-americanas conhecidas, especialmente, pela chuva. A típica imagem das localidades no noroeste dos Estados Unidos mostra habitualmente os centros urbanos cobertos por cinzentas nuvens e uma precipitação constante… mas o ano de 2021 está cheio de surpresas e deixou os habitantes desta região a recordar com saudade a chuva a que estão acostumados. É que, ao contrário da habitual temperatura relativamente fria que se faz sentir nos meses de junho, também chamado de “junheiro” (por volta dos 20 graus Celsius de máxima) nesta zona do país, bem como do outro lado da fronteira, este ano trouxe consigo uma extrema onda de calor, em que as temperaturas chegaram a ser mais altas do que em locais como o Dubai, Las Vegas ou a Índia, e em que o próprio asfalto das estradas ou os cabos dos pitorescos elétricos começaram a ceder ao extremo calor. Negócios, escolas e outros locais foram obrigados a fechar, e algumas localidades sofreram até quebras no fornecimento de energia, devido ao aumento provocado pela instalação de unidades de ar condicionado.

É uma imagem bizarra para quem conhece o noroeste norte-americano, berço do grunge rock, com as suas melodias e letras carregadas de crises existenciais e drama adolescente, fortemente influenciado pela chuva e ambiente cinzento. Aliás, se os Nirvana, Soundgarden ou Pearl Jam estivessem, neste momento, nessa região do país, provavelmente estariam demasiado ocupados a tentar manter-se à sombra ou a nadar nas piscinas municipais.

 

Efeitos do calor

O aumento das temperaturas nesta região colocou em risco a própria saúde dos residentes, que estão pouco acostumados a esta realidade, e que nunca tinham visto os termómetros atingirem tais dígitos. Em Seattle, por exemplo, apenas 44% dos lares tem ar condicionado, segundo os dados do Governo norte-americano. Muitos foram obrigados a recorrer aos ‘centros de refrigeração’ instalados em ambas as cidades. As vendas de unidades de ar condicionado, ventoinhas e gelo também dispararam, causando escassez destes produtos nos supermercados e lojas.

Como forma de resposta, o Governo do estado do Oregon decidiu pôr fim às limitações de lotação em lugares como piscinas municipais, cinemas e centros comerciais, que estavam em vigor como medida de controlo da pandemia da covid-19. e que servirão agora para permitir aos cidadãos refrescar-se no meio desta extrema onda de calor. Ainda assim, as autoridades de Portland acabaram por fechar uma das suas piscinas, precisamente devido às altas temperaturas, que tornavam insuportável o trabalho dos colaboradores na manutenção das ditas piscinas.

O aeroporto da mesma cidade atingiu a barreira dos 46 graus Celsius na noite de segunda-feira, o que marcou um novo recorde de temperatura na cidade, batendo os 44.4º C registados… no dia anterior.

Já em Seattle, a barreira dos 40 graus Celsius foi também ultrapassada recentemente. Aliás, nunca tinha a cidade marcado, durante três dias seguidos, temperaturas acima dos 37º C.

Mas em termos brutos de temperatura, o prémio foi para a pequena cidade de Lytton, do lado canadiano da fronteira, onde os termómetros registaram temperaturas de 47.9º C, o que marca a temperatura mais alta alguma vez registada em todo o Canadá, batendo um recorde que datava de 1937, quando a região de Saskatchewan registou 45º C.

 

Calor faz aumentar visitas às emergências

A onda de calor que está a abalar esta região começou já a fazer estragos na saúde e no bem-estar dos norte-americanos e dos canadianos que aí vivem. Em Portland, as autoridades de saúde do condado de Multnomah (com cerca de 700 mil habitantes) reportaram, até à manhã de segunda-feira, 43 situações de emergência relacionadas com o calor, deixando as ambulâncias “sobrecarregadas devido à demanda”, como revelou a CNN, citando o Departamento de Polícia do mesmo condado.

“Normalmente, esperaríamos cerca de 1 ou 2 visitas por doenças causadas pelo calor no mesmo período”, disse à CNN Kate Yeiser, coordenadora de comunicações do condado de Multnomah. “As visitas neste fim de semana representam quase metade das visitas por doenças causadas pelo calor que normalmente vemos durante todo o verão”, acrescentou ainda.

Para agravar a situação de saúde na região, o calor não só fez aumentar o número de visitas às emergências, como também colocou um novo obstáculo aos esforços de vacinação contra a covid-19, bem como aos programas de testagem, já que muitas clínicas de vacinação e centros laboratoriais colocados no exterior tiveram de fechar devido às extremas temperaturas.

 

Colheitas em perigo

“Estamos em águas inexploradas”, explicou BJ Thurlby, presidente da Northwest Cherry Growers, ao Seattle Times. Referia-se o presidente da cooperativa agrícola à corrida que os agricultores desta região estão a fazer para colher a maior quantidade de fruta – principalmente cerejas, uma das principais exportações – que conseguirem, com receio que a onda de calor venha a estragar as colheitas deste ano. Uma corrida que, segundo conta o mesmo jornal, começa de madrugada e tem de ser interrompida à hora de almoço, devido às insuportáveis temperaturas que se fazem sentir nos campos.

 

Ondas de calor mais cedo e mais intensas

As causas por trás desta intensa onda de calor podem ser várias, e a principal culpada terá sido a pressão de ar quente que se colocou por cima da região, e que se estende desde a Califórnia até ao Ártico, começando a ameaçar o interior dos Estados Unidos, onde o estado do Idaho está já em alerta.

Ainda assim, alguns cientistas apontam o dedo ao aquecimento global como o principal causador, não da onda de calor em si – como foi referido, já em 1937 se registavam temperaturas anormais – mas sim do facto de surgirem cada vez mais cedo, de serem cada vez mais intensas, e de terem períodos de duração cada vez maiores. É esta, pelo menos, a opinião de David Philips, um climatologista do Environment Canada, uma instituição que funciona junto do Ministério do Meio Ambiente canadiano. Citado pelo The New York Times, Philips apontou o dedo também a outra preocupação: a extensão das altas temperaturas durante a noite, o que, afirma, é a principal causa de mortes nestas ondas de calor.

“Estas são as ondas de calor dos nossos avós”, começou por explicar o climatologista, relembrando que o fenómeno não é novidade. “Agora, no entanto, é diferente, por causa da componente humana”, referiu ainda, acusando os vários estudos que apontam para uma relação entre a atividade humana, a emissão de dióxido de carbono e o aumento global da temperatura, bem como do surgimento mais madrugador destas ondas de calor.e longos períodos de chuva.