O cancro do rim é um problema de saúde global. Ligeiramente mais frequente nos homens do que nas mulheres, é geralmente diagnosticado entre os 50 e os 70 anos de idade. Em 2020, mais de 430 mil pessoas foram diagnosticadas com cancro do rim em todo o mundo. Só em Portugal, representa aproximadamente 2% de todos os tumores malignos, estimando-se que surjam cerca de 1192 novos casos e aproximadamente 500 mortes anualmente.
O tabaco, a hipertensão arterial e a obesidade são os principais fatores de risco conhecidos para a doença. Neste sentido, manter uma alimentação cuidada e evitar fumar são medidas importantes que podem evitar o seu aparecimento.
Na sua grande maioria, os doentes com cancro do rim são assintomáticos, sendo habitualmente diagnosticados em exames médicos de imagem de rotina. No entanto, a persistência de dor lombar acompanhada de sangue na urina pode ser uma manifestação da doença e merece avaliação clínica precoce.
O fácil acesso a meios auxiliares de diagnóstico, como por exemplo a ecografia, tem resultado num aumento significativo do diagnóstico de tumores renais. Alguns destes tumores têm um comportamento que não provoca dor, raramente desenvolvem metástases, sendo pouco agressivos e não necessitam de tratamento, enquanto outros têm um comportamento mais agressivo e os doentes necessitam de terapêutica, como, por exemplo, serem submetidos a cirurgia para remoção do rim.
Os diferentes tipos de tumores do rim, bem como os diferentes estádios da doença, têm motivado intenso estudo sobre este cancro, o que tem resultado em diferentes opções terapêuticas, que variam desde a simples observação, sem necessidade de tratamento, passando por abordagens minimamente invasivas mais inovadoras, como a crioterapia, a ablação de tumores por radiofrequência, ou de tumores renais por laser, a cirurgia minimamente invasiva – robótica e laparoscópica – até à terapêutica sistémica com anti-angiogénicos e imunoterapia em estádios mais avançados de doença.
Todas estas opções, no que diz respeito aos desenvolvimentos tecnológicos, permitem a aplicação de métodos de diagnóstico e abordagem terapêutica através de cirurgias minimamente invasivas e de terapêutica médica como novos medicamentos, mais específicos e menos tóxicos.
Um dos maiores desafios da medicina atual, cada vez mais personalizada, específica e com grande diferenciação técnica, reside no escasso envolvimento dos doentes na tomada de decisão sobre a sua doença. Verifica-se a necessidade de chamar a atenção para o cancro renal como um problema de saúde significativo e crescente, providenciando aos doentes com cancro do rim uma informação correta e transparente acerca da doença.
Em Portugal, existe uma associação de doentes com cancro do rim (AC RIM), que se formou desde a reunião mundial do IKCC (International Kidney Cancer Coalition), organizada, em Lisboa, em 2019 pela CUF. O IKCC tem por objetivo ajudar as organizações nacionais de doentes com cancro do rim, servindo doentes e famílias em todo o mundo, possibilitando-lhes obter as informações necessárias de modo a terem um papel ativo no entendimento da sua doença. A nível mundial tem ajudado a aumentar a consciencialização sobre o cancro renal, salientando as necessidades não satisfeitas dos doentes, as lacunas a nível da investigação – e promovendo o acesso e a qualidade do tratamento e dos cuidados.
Em Portugal, a AC RIM tem dado voz aos doentes portugueses com cancro do rim e tem de forma muito dinâmica criado o “impulso” necessário para o envolvimento dos doentes portugueses na sua doença. Os seus elementos têm contribuído de forma ativa para o aumento da consciencialização sobre o cancro do rim, salientando as necessidades não satisfeitas dos doentes, as lacunas a nível da investigação e as dificuldades de acesso a terapêutica, promovendo sempre a informação e o apoio aos doentes e suas famílias.
Sendo hoje reconhecida a importância das associações de doentes na melhoria dos cuidados de saúde, estas organizações encontram-se atualmente envolvidas no processo de investigação clínica e de criação de políticas de saúde – garantindo que a perspetiva global do doente seja considerada. O seu papel é também fundamental para dar voz aos doentes em fóruns de discussão científica e social, de modo a encontrar as melhores respostas para as necessidades sentidas.
A CUF Oncologia e a Associação de Cancro do Rim de Portugal (AC RIM) organizam um encontro virtual, no próximo dia 30 de junho, a propósito do Mês do Cancro do Rim, para uma conversa sobre o cancro do rim, um tipo de cancro raro, muitas vezes diagnosticado por acaso. Neste encontro virtual, o primeiro encontro de doentes da Associação, irão juntar-se especialistas, doentes e cuidadores, indústria farmacêutica e sociedade. O encontro será realizado através da plataforma Zoom e com transmissão em direto na página de Facebook da CUF. Convido todos a acompanharem esta iniciativa, porque a informação é fundamental também na saúde.
Ricardo Leão é coordenador de Urologia do Hospital CUF Coimbra