1. Quando, a partir de meados do século passado, o plástico se generalizou, achou-se que estávamos perante uma benfeitoria extraordinária para a humanidade. E estávamos de facto. Muita coisa se tornou possível através da utilização de compostos plásticos em todas as áreas. O plástico possibilitou milagres. Permitiu construir soluções impensáveis e de baixo custo que trouxeram progresso e desenvolvimento. Ao ponto de estar rigorosamente em todo o lado. Por mais que se tente o contrário, vai continuar a estar e a ser indispensável. No entanto, a sua utilização intensiva tornou-se num fator de poluição perigoso e mortal para a subsistência da vida humana e animal, destruindo fauna, flora e quase todos os ecossistemas. Apesar dos esforços que agora se fazem para conseguir reduzir, reciclar e reutilizar, andamos a correr mundialmente atrás de um prejuízo enorme que nos vai matar, se não o controlarmos, o que já não parece possível. Neste momento, o plástico é um veneno que nos intoxica lenta e irreversivelmente. Há, é certo, uma consciência ambiental mais desenvolvida em alguns países desenvolvidos. Mas, o mundo mais pobre não tem como alcançar metas de sustentabilidade, porque a prioridade ali é sobreviver. É extraordinária a capacidade humana de gerar coisas geniais que depois têm efeitos perversos. Os carros elétricos são agora a grande moda e a via do futuro. A verdade, porém, é que as baterias e a extração de minérios para as fabricar poderão causar problemas tão grandes ou até maiores do que os provocados pelos combustíveis fósseis. E como há países que nunca conseguirão converter as suas frotas em menos de 40 anos, corremos o risco de somar diversos tipos de poluição, agravando ainda mais o impasse.
2. A este ritmo negativo, nós humanos, podemos durar um século ou dois, se tanto. Somos demais. Gastamos demais. Estragamos demais. E pensamos pouco, porque temos medo de enfrentar a verdade. Ninguém está verdadeiramente disponível para mudar de vida em termos de consumo ambiental, por mais bicicletas que usem e vegetais que ingiram. Todos os dias estamos pior. Todos os dias fazemos mais proclamações de princípio. E todos os dias acordamos, persistindo nos mesmos erros e no mesmo modo de vida. Sabemos todos que vamos bater na parede e que a história só pode acabar mal. Os sinais positivos existem, mas são ínfimos face à dimensão do problema. Estão muito limitados às sociedades avançadas e mais ricas. Limpa-nos a consciência, mas não ajuda o ambiente do ponto de vista global. Uma angustia para quem tem netos e filhos, aliada a uma incapacidade objetiva de inverter as coisas, além de uma manifesta falta de vontade.
3. Há uns vinte anos, andávamos todos eufóricos com as redes sociais. Dizia-se que eram a salvação da comunicação, a garantia da liberdade individual, o fim do condicionamento do pensamento pelos média. Era a libertação que tornava cada pessoa um ser livre, único e capaz de passar a sua mensagem de comunicação, ao denunciar abusos, ao desenvolver o seu negócio e as suas habilidades. É verdade. Mas, hoje, estamos a ver que, apesar de serem isso tudo, as redes são também uma forma de nos controlar, através de algoritmos, de nos manipular por via de notícias falsas, de nos condicionar na nossa pesquisa, tornando-nos mais dependentes do que alguma vez fomos de entidades que nos querem moldar. As redes serviram para o bem e para o mal. Chegámos agora a um momento em que se entendeu, por maioria parlamentar, criar uma espécie de controlo do que é aceitável e politicamente correto nesse universo, sendo que os grandes grupos, como o Facebook, já têm os seus censores e delatores. A internet e as redes sociais são simultaneamente geniais e perversas. As regras que o Parlamento aprovou legislação para o cumprimento de regras digitais têm um potencial censório. No fundo trata-se de criar um padrão do que é politicamente correto, de forma a combater os extremismos. Percebe-se a ideia, mas ela é em si mesma uma forma de condicionamento do pensamento e do exercício da liberdade de expressão. E isso é algo tão inadmissível quanto as ideias que se pretende combater. “Não há machado que corte a raiz ao pensamento” nem à sua livre expressão seja em que plataforma for. A exceção só pode, repete-se, ser aplicada através dos verdadeiros tribunais e por razões já tipificadas na lei atual.
4. O verão está a chegar. A “silly season” é já hoje um ritual que tem como um dos grandes momentos as entrevistas a personalidades em poses fantásticas, com fatos de banho coloridos, chapéus chiques e, algumas que ainda podem, a emanarem sensualidade, como dizem as revistas especializadas. Explicam onde passam férias, o que vão ler, o que vão comer, respondendo ao inevitável questionário de Proust adaptado. Haverá amores novos, poses com e sem fotoshop, algumas separações e guerras de audiências entre canais de televisão. Haverá mesmo na crise pandémica, umas festas de princípio, de meio e de fim de verão, com champagne, sushi e gin cheio de coisas lá dentro. Haverá ricos, novos ricos, falidos ricos que não pagaram aos bancos e haverá também penetras sem pedigree. Na política, nos tribunais, na banca entraremos na mansidão sonolenta do calor. Há que ter cuidado porque a oportunidade é boa para alguns governantes publicarem mais uns diplomas que favoreçam um ou outro grupo económico ou determinem novos regulamentos e consequentes custos para o “totó” contribuinte. Teremos certamente uns episódios pandémicos bons e maus, com reparos aos exageros dos turistas, se é que daqui até ao pleno das férias não vamos ter de fazer marcha atrás e fechar-nos novamente em casa. Vamos acreditar que não e que vai mesmo correr tudo bem.
Escreve à quarta-feira