11 de maio de 1938. A grande caçada aos pilha galinhas…

11 de maio de 1938. A grande caçada aos pilha galinhas…


A polícia lisboeta resolveu lançar uma operação para pôr na ordem os patifes da cidade. Veio à rede um pouco de tudo, desde o rapazola que roubava gabardinas o brutamontes que decidiu, por uns tostões, agredir a dona de um café.


De um dia para o outro, a polícia deitou mãos ao trabalho e tratou de arrumar no seu devido lugar uma belíssima quantidade de patifes. Mário Macieira Geraldes, por exemplo, solteiro, estucador, natural de Lisboa, de 24 anos, e morador na Travessa das Flores, foi apanhado a roubar uma gabardina numa loja da Baixa, ainda por cima num dia de sol intenso e de um calor de ananases. Procedimento habitual – esquadra/auto. Outro rapazola dado ao interesse pela propriedade alheia, de seu nome António Rodrigues Ferreira, solteiro, 19 anos, aprendiz de eletricista, entretinha-se a forçar a fechadura de um automóvel estacionado na Rua de Arroios quando foi surpreendido por uns senhores impecavelmente fardados que lhe puseram impecavelmente fim à malfeitoria.

Assim eram os jornais do tempo e, convenhamos, tinham páginas bem interessantes no que à criminologia diz respeito. Geralmente enfileirados, com a data prevista para apresentação ao juiz, ficávamos a saber quais os pilha galinhas no ativo que estavam, a pouco e pouco, a passar a uma fase de reforma. Maurício Kadroch Elvas, casado, 50 anos, natural de Marrocos e sem residência conhecida, teve a má sorte de ser encontrado no interior de residência conhecida mas que, como está bem de ver, não era a sua. Sem explicação conveniente para o facto, foi conduzido a um lugar menos confortável e com grades nas janelas.

Américo Ferreira Quelhas, casado, 27 anos, marceneiro, teve uma disputa séria com um cliente cujo nome não veio impresso nas páginas do periódico consultado. O queixoso reclamava da imperfeição de umas cadeiras com pernas mais curtas do que as outras, levantou a voz, e o esquentado Quelhas foi-lhe aos fagotes sem cerimónias. Acontecia muito; e ainda acontece. Somos um povo que perde as estribeiras com facilidade. Por agressão a Carolina Santos Ferreira, residente na Rua Alexandre Braga, em Lisboa, Mário Morais Antunes também teve de se explicar. Os argumentos eram fracos. Não passavam de tostões ao balcão de um café, palavrão puxa palavrão, e a senhora levou um estalo que a deixou de faces rubras ainda que não de vergonha. Vergonha passou Antunes na esquadra das Fontainhas. Os agentes não lhe deram descanso e teve de passar as passas dos Algarves, até porque era useiro e vezeiro em agressões a mulheres. A besta seria presente ao Décimo Juízo Criminal – 1ª Secção. O juiz, esse, não tinha o mínimo de piedade para com gentalha do género. Mário ficou a sabê-lo da pior das maneiras.