Um roteiro pelos museus inesperados de Portugal

Um roteiro pelos museus inesperados de Portugal


Com a comemoração do Dia Internacional dos Museus a aproximar-se, o i dá a conhecer alguns dos museus mais inesperados do país.


No dia 18 de maio comemora-se por todo o mundo o Dia Internacional dos Museus. A iniciativa, que remonta a 1977, tem por objetivo a consciencialização do público sobre o papel dos museus no desenvolvimento da sociedade.

A raiz etimológica da palavra museu remonta à Grécia Antiga – o Mouseion era o templo das nove musas. Filhas de Zeus e Mnemosine, a deusa da memória, as musas estavam ligadas a diversos ramos das artes e das ciências e o seu templo era um local dedicado à contemplação e ao estudo científico, literário e artístico.

Foi precisamente nos templos, mas também nos túmulos, e depois nos palácios, que se formaram as primeiras coleções de objetos preciosos.

Só muito mais tarde, porém, a palavra ‘museu’ começou a adquirir o significado que hoje lhe atribuímos. “O museu nasceu em Roma no início do último terço do século XV, quando uma coleção de antiguidades tidas por emblemas da cidade e que pertenciam ao papado foi depositada por um sumo pontífice no Capitólio, no palácio das autoridades municipais”, escreveu Krzystof Pomian em Le Musée, une histoire mondiale. 

Ainda assim, costuma ser atribuído ao Museu Ashmolean, em Oxford, o título do primeiro museu aberto ao público. Fundado em 1683, teve na sua origem o gabinete de curiosidades do seu fundador, Elias Ashmole.

Só quase 100 anos depois abriria outro dos mais antigos museus do mundo, os Uffizi, em Florença, que reuniam as sumptuosas coleções de arte dos Médici formadas ao longo de quase três séculos. Na data da sua morte, Ana Maria Luisa de’ Medici legou as obras ao Estado da Toscana para “poderem ficar como decoração para o Estado, para a utilidade do público e para atrair a curiosidade dos estrangeiros”. Estas últimas palavras parecem especialmente premonitórias, tendo em conta as intermináveis filas de turistas que se formam à entrada do museu florentino.

Em Portugal, o primeiro museu foi fundado por D. Pedro em 1833, em pleno Cerco do Porto, para abrigar obras dos mosteiros e conventos da cidade. Chamava-se Museu Portuense de Pinturas e Estampas e viria a dar origem ao Museu Nacional Soares dos Reis.

Seguir-se-ia o Museu Nacional de Arte Antiga. Criado na sequência da Exposição Retrospetiva de Arte Portuguesa e Espanhola, em 1882, que obteve um sucesso retumbante, abriu portas no Palácio Alvor dois anos depois.

Embora o museu seja visto eminentemente como uma instituição do século XIX, o grande boom deu-se já na segunda metade do século XX. Krzystof Pomian calculou que em 1520-1620 havia dez museus no mundo; em 1620-1790 esse número subiu de dez para 100; em 1790-1870, de 100 para 1000; em 1870-1960, de 1000 para 10 mil; e em 1960-2010, de 10 mil para 80 mil. Hoje estima-se que existam cerca de 85 mil museus no mundo. Os Estados Unidos da América são, de longe, o país recordista, com 35 mil, mais mil do que na Europa (34 mil). Segue-se a Alemanha com seis mil. A Rede Portuguesa de Museus inclui atualmente 176 instituições.

Museu de Lanifícios
Covilhã

Numa época em que o fulgor de outros tempos dá lugar ao abandono, e numa região com pergaminhos, o Museu dos Lanifícios preserva o património associado à indústria dos têxteis e em particular da lã. Criado para salvaguardar a Real Fábrica de Panos fundada pelo Marquês de Pombal em 1764, compõe-se de diferentes núcleos: além dessa manufatura, as Râmolas de Sol (onde eram secados e estirados os fios), a Real Fábrica Veiga (onde estão patentes máquinas, equipamentos e utensílios, documentos, matérias-primas e produtos têxteis) e o Arquivo Histórico.

Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho
Estremoz 

Antes de ser museu, funcionou como hospício de caridade, escola régia, escola primária masculina e escola industrial e comercial. Hoje alberga uma coleção de forte componente etnográfica, com especial enfoque na olaria e no barro figurado de Estremoz, elevado a património da humanidade em 2017. Exibe também a reconstituição de uma casa típica alentejana e uma coleção de arqueologia composta por estelas funerárias medievais e peças que vão do calcolítico à romanização.

Museu Fernando de Castro
Porto

A partir do lado de fora não é possível adivinhar a atmosfera no interior desta casa. É preciso entrar para perceber o porquê de, logo no seu tempo, ter sido considerada um verdadeiro museu. Foi lá que residiu Fernando de Castro, negociante, poeta, caricaturista e sobretudo colecionador de peças nacionais e internacionais que vão do século XVI ao XX. Além das obras de pintura antiga, peças de cerâmica, vidro e torêutica, merecem atenção os pormenores em talha dourada proveniente de igrejas e conventos, ao estilo barroco.

Casa dos Patudos
Alpiarça 

No leito de morte, em 1929, o abastado político republicano José Relvas legou a Quinta dos Patudos e praticamente todos os seus bens ao município de Alpiarça. Nesta grande casa ribatejana encontra-se uma requintada coleção de mobiliário, porcelanas, tapeçaria e pintura, que leva o visitante numa viagem desde os finais da Idade Média até aos inícios do século XX, mas também a lugares remotos, através dos núcleos de obras da Índia, Pérsia, China e Japão. 

Museu Nacional Ferroviário
Entroncamento

Vizinho da Estação Ferroviária do Entroncamento, o multipremiado Museu Nacional Ferroviário acolhe exposições temporárias e uma coleção permanente de locomotivas a vapor, diesel e elétricas. As estrelas da companhia são La Liliputienne – a “locomotiva brinquedo” oferecida pelo Rei de França à família real portuguesa, o luxuoso Comboio Real Português e o Comboio Presidencial, mas há muito mais para descobrir. A partir de equipamentos, ferramentas, vestuário, entre outros elementos, o museu documenta a história ferroviária de Portugal.

Museu Carlos Machado
Ponta Delgada

É em Ponta Delgada, na Ilha de S. Miguel, que se situa o mais antigo museu do arquipélago dos Açores. Fundado em 1876 pelo professor e naturalista Carlos Maria Gomes Machado, possui um raro espólio de coleções etnográficas, de mineralogia, botânica e zoologia – incluindo curiosidades naturais como um bezerro com duas cabeças. No antigo Colégio dos Jesuítas, um excecional exemplo da arquitetura barroca portuguesa, foi instalada em 2006 a preciosa coleção de arte sacra do fundador, com destaque para as imagens de marfim.

Museu Marítimo
Ílhavo

Os portugueses adoram bacalhau – e nada como visitar o Museu Marítimo de Ílhavo para ficar a conhecer a história deste peixe, a sua importância na região e a gesta dos homens que o pescaram nas distantes águas do Norte. Fundado em 1937, em 2001 o museu foi renovado em profundidade e ampliado, passando a contar com o navio-museu Santo André, antigo arrastão bacalhoeiro. Para cumprir a sua missão de preservar a memória dos homens, dos navios e das campanhas marítimas, conta também com um Centro de Investigação e Empreendedorismo do Mar (cujo arquivo pode ser consultado online). E ainda há um aquário para visitar. Depois do encerramento ditado pela pandemia, o museu reabre portas precisamente a 18 de maio.

Museu do Ar
Pêro Pinheiro

Quer ver de perto um avião de combate? Quer entrar a bordo de um icónico DC3, ‘Dakota’, de fuselagem cromada, para saber como se viajava pela TAP nos anos 30 e 50? Às portas de Lisboa, em Pêro Pinheiro, terra de pedra lioz, encontra-se o Museu do Ar, instalado na Base Aérea n.º 1. Aqui poderá conhecer a história da aviação em Portugal, desde os primórdios, como a passarola de Bartolomeu de Gusmão ao moderno caça o F-84, sem esquecer os heróis da aeronáutica nacional. OMuseu do Ar conta ainda com outros dois polos, um em Alverca (que esteve na sua origem, em 1971, só depois se expandindo para Pêro Pinheiro) e outro em Ovar.

Museu da Música Mecânica
Pinhal Novo 

Em Arraiados, Pinhal Novo, o antigo professor Luís Cangueiro constituiu uma invulgar coleção de instrumentos de música mecânica, como fonógrafos, gramofones e outras curiosidades. Com uma área de cerca de mil metros quadrados, o edifício consiste numa caixa totalmente fechada: o visitante terá a oportunidade de entrar nessa grande “caixa de música”, explorar e ouvir como soam centenas de instrumentos mecânicos, distribuídos por cinco galerias.

Museu da Dermatologia Portuguesa Dr. Sá Penella
Lisboa

Situado em Lisboa, este museu não é para todos…. Macabro para uns e fascinante para outros, exibe mais de 250 máscaras de cera que exibem os efeitos de algumas doenças da pele. Os moldes, obtidos diretamente dos rostos dos doentes, foram encomendadas à Sociedade das Belas Artes nos anos 30 e 40 do século passado. Até os cabelos, os pelos e as pestanas são naturais. Sediada no Salão Nobre do Hospital dos Capuchos, esta singular coleção é amiúde visitada por estudantes de Medicina.

Casa Veva de Lima
Lisboa

A Casa Veva de Lima proporciona uma janela para o mundo de Eça de Queirós:na verdade, é o Ramalhete da adaptação d’Os Mais para o cinema. Outrora pertencente à escritora Genoveva da Lima Mayer, conhecida pelas suas festas, tertúlias e saraus muito falados na Lisboa dos anos 20 e 30, a decoração caracteriza-se pela exuberância e dramatismo. Uma cápsula do tempo que nos apresenta a uma das mais excêntricas lisboetas de sempre: Genoveva de Lima Mayer chegou a ter um leopardo bebé como animal de estimação.

Museu da Polícia Judiciária
Loures

Situa-se na mesma quinta em Loures onde se encontra a escola da Polícia Judiciária e exibe um impressionante acervo de artigos relacionados com o mundo do crime: armas, dinheiro falso, obras de arte roubadas e retratos de criminosos. Um dos objetos mais procurados é a faca com que o padre espanhol Juan Fernandez Krohn tentou assassinar o Papa João Paulo II em Fátima, em 1982. Muitos visitantes também querem ver a cela subterrânea supostamente usada pelas FP25 para esconder reféns raptados.