Chelsea-Real. Os azuis de Londres e aquele sonho branco e lindo…

Chelsea-Real. Os azuis de Londres e aquele sonho branco e lindo…


Em 1971, em Atenas, os londrinos conquistaram o seu primeiro troféu europeu (a Taça das Taças) batendo o Real Madrid no jogo de desempate por 2-1.


Se 1971 foi um ano único na história do Chelsea, o Real Madrid continua a ser para os londrinos um clube mágico, logo agora que se preparam para o enfrentar para as meias-finais da Liga dos Campeões, com a primeira mão marcada para hoje, em Stanford Bridge.

Quando as duas equipas se bateram pela primeira vez para as taças europeias, havia um troféu em jogo. Bem bonito, por sinal, e é uma pena que tenha desaparecido – sorte a do Sporting que conseguiu guardar um no seu museu. Final da Taça das Taças de 1970-71. Dificilmente não se atribuiu favoritismo aos espanhóis. Já tinham ganho seis Taças dos Campeões Europeus, comandados pelo antigo jogador Miguel Muñoz estava numa fase de reconstrução que englobava gente de qualidade como Pirri, Manuel Velásquez, Amancio, Miguel Perez, e ainda contavam com a experiência do tremendo Francisco Gento.

Nesse final de tarde do Estádio Karaiskakis, no Pireu, porto de Atenas, os ingleses surgiam, como os próprios gostam de dizer, como under-dogs. Assim abaixo-de-cão, se quisermos colocar a expressão à portuguesa. A sua experiência internacional era escassa. Apenas três presenças na Taça das Cidades com Feira, mas apesar de tudo aingindo uma meia-final, contra o Barcelona (2-0 e 0-2, seguido de um desempate, em Camp Nou, que não correu nada bem – 0-5).

Desta vez tratava-se da Taça dos Vencedores de Taças, e o percurso do Chelsea até à final de Atenas acabou por ser mais tranquilo do que poderiam imaginar: Aris Salónica (5-1 e 1-1); CSKA de Sófia (1-0 e 1-0); Brugge (0-2 e 4-0 após prolongamento); e Manchester City (1-0 e 1-0). Foi com o peito inchado de orgulho que os rapazes de Dave Sexton, também ele um jovem técnico subiram ao relvado.

O sonho branco. No dia 19 de maio de 1971, o Karaiskakis rebentava pelas costuras com adeptos vestidos de azul e outros de branco, vindos de Inglaterra e de Espanha, aos quais se juntavam os festivos gregos emborrachados por garrafas de retsina.

A partida foi equilibrada, ainda que durante mais tempo dominada pelo Chelsea. De repente, aos 56 minutos, Peter Osgood, uma das grandes figuras da história do clube e que chegou a vestir a camisola de Inglaterra, fez jus ao seu espírito de combate próprio dos grandes pontas-de-lança. Recebeu uma bola a meia-altura e disparou em volley, de primeira, para o um golo espetacular. O Real tremeu, deu a sensação de poder estar à beira do KO, mas exactamente no minuto 90, Zoco inventou o empate que conduziu a um prolongamento sensensaborão.

Dois dias mais tarde, o Karaiskakis voltou a encher para o jogo de desempate. Mais forte fisicamente, os londrinos não deixaram fugir a oportunidade de arrecadarem o primeiro troféu europeu da sua história: dois golos, de Dempsey (33m) e Osgood (39), contra um de Fleitas (75), fixaram o resultado. Gente como o guarda-redes Peter Bonetti, John Boyle, David Webb, Peter Houseman e Allan Hudson, entraram com todo o direito pelos portões dourados do futebol britânico. Curiosamente, Chelsea e Real Madrid só se encontraram por três vezes. Estas duas de que demos conta e na Supertaça Europeia de 1998.

Foi a primeira vez que a taça se disputou num jogo apenas e não no ida e volta que se impusera até então, e o encontrou teve lugar no Mónaco, no Estádio Luís II. Na época anterior, o Real vencera a Taça dos Campeões e o Chelsea repetira o sucesso na Taças das Taças. Insípido, como têm sido a grande maioria das supertaças, o que nos faz pensar a que propósito ainda existem e que tipo de competitividade as envolve, o encontro terminou com vitória dos ingleses por 1-0, golo de Poyet aos 83 minutos.

Hoje, Chelsea e Real voltam a estar frente a frente, pela quarta vez na sua história. Para já não há taça em disputa. Mas é bem visível no horizonte próximo.