Estamos em abril, aquela altura do ano em que muitos procuram fazer revisionismos e sarar feridas de uma revolução que trouxe à tona o melhor e o pior de muitos.
Naturalmente há quem procure vir defender que a revolução era evitável porque existiam sinais de esperança.
Porém, o primeiro grande sinal de impossibilidade de reforma acontece, em bom rigor, num momento anterior, quando a esperança na transição para uma democracia de modelo europeu ocidental cai com a inviabilização das reformas propostas por Sá Carneiro, enquanto membro da Ala Liberal.
Esse facto, porém, parece não condicionar o “milagre económico” português, como lhe chamou a revista Time num artigo em 1973, servindo como derradeiro sustento à narrativa da viabilidade do sucesso de um regime que, claramente, não conseguia ver o nó górdio em que se encontrava. A revolução foi a espada que o cortou.
Essa revolução ganhou força com o cocktail explosivo que se seguiu à crise petrolífera de 1973 (com a enorme crise financeira mundial subsequente) e pelos custos (aqui não só económicos, mas também emocionais) da guerra do Ultramar. Ambos foram determinantes para travar o milagre económico português e a “Primavera Marcelista”.
Sem a intervenção dos moderados da Ala Liberal, que haviam abandonado a Assembleia no início de 1973, o país mergulhava na dicotomia entre extremos. A extrema-direita que era a marca de uma governação de 41 anos, e uma extrema-esquerda alimentada por um PCP, orientado pela então União Soviética que defendia um ideal de expansão mundial de um marxismo revolucionário.
Estes extremos conduziriam o país a um momento de enorme esperança, com o 25 de abril, seguido de um período de enorme instabilidade e quase guerra civil.
Porém, se o 25 de novembro representou o fim dos que pretendiam transformar o 25 de abril numa revolução marxista, com a implantação de um regime comunista em Portugal, não conseguiu travar o fanatismo daqueles que, não conseguindo implementar uma sociedade marxista em Portugal por via militar, tentaram fazê-lo pela via do terrorismo.
Ficaram conhecidos como as Forças Populares 25 de Abril (FP-25) e semearam o terror e a morte nas ruas de Portugal, tendo como figura de destaque aquele que havia sido apontado como um herói de abril: Otelo Saraiva de Carvalho.
As FP-25 foram responsáveis por 13 mortes, ora por assassinato, ora por retaliação às ações das forças de segurança e investigação criminal em Portugal. Tudo isto se descreve numa única palavra: criminosos.
A ideia que pautou esse período foi a de que o país precisava de amnistiar esses criminosos em nome da pacificação e da reconciliação nacionais. Também para isto tenho uma palavra: inaceitável.
A democracia não se constrói minando os esforços de uma justiça que pretende ser o garante do cumprimento das leis junto dos seus cidadãos. A democracia não se cumpre quando agentes das forças de segurança, as mesmas a quem recorremos para a nossa proteção, são assassinados sem escrúpulos ou são impedidos de concretizar os seus trabalhos de investigação policial e criminal.
Os indultos e as amnistias significaram uma machadada no percurso que abril queria, de liberdade de expressão, respeito pelas instituições do Estado e respeito pela iniciativa privada e pelos resultados do trabalho de todos.
Foram FP’s que de populares tiveram muito pouco e que, na realidade, muito atentaram contra a normalidade popular.
Por isso considero que as FP-25 representaram uma das maiores manchas nas conquistas de abril. E os indultos e amnistias que branquearam a sua ação, o verdadeiro atentado aos ideais de abril.
Presidente da concelhia do PSD/Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela