Johnny Deep. Da luz da ribalta à escuridão das drogas

Johnny Deep. Da luz da ribalta à escuridão das drogas


Após ter sido acusado de espancar mulheres, Johnny Depp concentra-se agora na recuperação da sua outrora prestigiada reputação.


O Tribunal de Recurso de Londres recusou o pedido de Johnny Depp que pretendia contrariar o veredicto do ano passado que o acusou de espancar a mulher. Para contestar isso, o ator foca-se agora numa ação judicial a decorrer nos Estados Unidos com o intuito de recuperar a sua reputação.

No dia 25 de março os juízes do Tribunal de Recurso de Londres rejeitaram o pedido de recurso de Johnny Depp confirmando que o julgamento foi “pleno e justo” e declarando que será bastante improvável que o juiz da primeira instância dê importância às novas considerações da acusação sobre o caráter da atriz e sua ex-mulher, Amber Heard. O casal separou-se em 2016 e depois do difícil divórcio iniciou-se uma batalha jurídica que se alastra até hoje aquando da acusação da atriz sobre a faceta abusiva do artista.

Em novembro do ano passado, o juiz do Supremo Tribunal Londrino, Andrew Nicol, deliberou contra a estrela que tinha interposto uma ação de difamação caluniosa contra o The Sun por este ter publicado um artigo em que Johnny Depp era rotulado como um “espancador de mulheres”.

Conhecida a decisão do tribunal, o advogado do ator declarou que se iria passar a concentrar no caso que Depp moveu contra Heard nos EUA em 2019: o ator apresentou um processo por difamação no valor de 50 milhões de dólares, mais de 40 milhões de euros, contra Heard num tribunal da Virgínia depois da publicação de um artigo de opinião que Amber Heard escreveu no The Washington Post. No texto, a atriz, atualmente com 34 anos, falou sobre violência doméstica, embora não tenha apontado o nome do ex-marido uma única vez. Segundo a Sky News, o julgamento que estava previsto arrancar em maio, foi adiado para abril de 2022.

O caso de difamação já prejudicou a carreira de Johnny Depp, uma vez que lhe foi pedido que se afastasse da saga Fantastic Beasts, o spin-off dos livros e filmes de Harry Potter.

 

Da música à representação

John Christopher Depp II, mais conhecido por Johnny Depp, nasceu em Owensboro, nos EUA, no dia 9 de junho de 1963. Conhecido como um dos maiores ícones de Hollywood e um dos homens mais sexys do mundo, a sua primeira paixão foi a música. Aos 12 anos ganhou a sua primeira guitarra começando a tocar em várias bandas de garagem, o que o fez acreditar que a sua carreira passaria pelos palcos de música. Criou, aos 16 anos, a sua banda The Kids, que mais tarde virou Six Gun Method, tendo entretanto ido viver para a Florida com a família. Pouco depois da sua chegada, em 1983, conheceu a maquilhadora Lori Anne Allison, com a qual esteve casado durante dois anos. Foi Lori quem o apresentou a Nicolas Cage que, por sua vez, o incentivou a experimentar a representação com a ida ao casting daquele que seria o seu primeiro filme, A Nightmare on Elm Street, em 1984. Esse filme foi a alavanca que precisava para a entrada no mundo do cinema e entre 1987 e 1991, Depp fez parte do elenco principal da série 21 Jump Street. A verdade é que sempre se mostrou diferente dos jovens atores da altura, decidiu desde o início que não queria ser apenas uma celebridade, mas também uma figura cultural. Para isso, começou a aparecer em entrevistas na televisão onde comentava os seus personagens de uma maneira inteligente e entusiasmada. Como foi o caso da série policial 21 Jump Street.

Este trabalho, além de lhe ter oferecido bastante notoriedade, transformou-o num ídolo juvenil e num símbolo sexual. Foi no ano de 1990 que protagonizou o tão famoso filme Edward Scissorhands [Edward Mãos de Tesoura]. Além de ter sido considerado pelos críticos o melhor filme da década de 90 e ter dado a Depp muito reconhecimento e prestígio, foi este o filme que marcou o início de uma das parcerias mais importantes do cinema, entre ele e o diretor Tim Burton, com quem acabou por trabalhar em inúmeros filmes. Desde o diretor maluco em Ed Wood, ao chapeleiro louco de Alice no País das Maravilhas, passando pelo sanguinário barbeiro de Sweeney Todd ou o vampiro pálido e anacrónico de Dark Shadows. A sua galeria de criaturas lunares grotescas elevou-o ao posto de um grande ator expressionista. Ainda na década de 1990, trabalhou com cineastas como Emir Kusturica em Arizona Dream, Jim Jarmusch em Dead Man e Roman Polanski em The Ninth Gate.

Uma carreira exigente, improvisada, muitas vezes aclamada pela crítica, mas longe de fazer dele um “caixa eletrónica” para os estúdios. “Antes de Piratas das Caraíbas, conheci vinte anos de fracassos comerciais (…) Os filmes em que atuei não tiveram sucesso, a não ser um sucesso de estima; Ed Wood não foi um sucesso de bilheteira, mas foi um filme importante para mim”, confidencializou em entrevistas.

 

O lado romântico

Johnny era também conhecido como um romântico. Depois do seu primeiro casamento com Lori Anne Allison, aos 20 anos, o ator desenvolveu o hábito de pedir em casamento. Ficou noivo de Winona Ryder, namorou Kate Moss, Sherilyn Fenn, Jennifer Grey, e casou-se mais duas vezes, com Vanessa Paradis em 1998 até 2012, com quem teve dois filhos, Lily-Rose Melody e Jack e, mais recentemente, com Amber Heard, protagonista da polémica judicial atual. O casal casou-se em 2015, mas cedo começaram as acusações sobre o caráter agressivo e alcoólico do ator.

Enquanto estava noivo de Winona Ryder o ator tatuou “Winona Forever” no seu braço, mas depois do fim do namoro, mudou a tatuagem para “Wino Forever”, “bêbado para sempre”. Da mesma maneira tatuou “Slim” na sua mão, nome que chamava à última esposa, Amber Heard. Após o divórcio, mudou-a para “Scum” e mais tarde para “Scam”; com um grande símbolo vermelho que representa a anarquia.

 

Alguns dos grandes êxitos

Foi em 2002 que o artista regressou à glória planetária interpretando o tão singular capitão Jack Sparrow. Tornando-se, no início de 2010, o ator mais bem pago depois de Leonardo DiCaprio. Um sucesso paradoxal que o transformou num ator poderoso. O filme foi um sucesso comercial faturando quase 700 milhões de dólares em bilheteira, mais de 500 milhões de euros, além de ter sido aclamado pela crítica, e levado Depp à sua primeira nomeação ao Óscar, na categoria de Melhor Ator, em 2004. Em 2007, foi para as telas do cinema o musical Sweeney Todd onde Depp assumiu o personagem principal, o barbeiro assassino que para além de ter recebido inúmeras críticas positivas, fez com que o ator recebesse a sua terceira indicação ao Óscar, e ainda ganhasse o seu primeiro Globo de Ouro.

Em 2010 foram lançados mais dois dos maiores sucessos de bilheteira da sua carreira: Alice no País das Maravilhas e O Turista. Na sua oitava parceria com Tim Burton, Depp deu vida ao Chapeleiro Maluco, neste filme tanto a direção de arte como a atuação de Johnny foram consideradas deslumbrantes pela crítica profissional e também pelo público.

 

Álcool, drogas e perda de identidade

Não foi apenas o veredicto do juiz que dizimou a reputação de Depp. Há muito tempo que a sua vida tem sido extremamente excêntrica e cheia de vícios. Já em 2009, a Vanity Fair, revista americana sobre cultura pop, moda e política publicou o que, em retrospeção, parece ser um sinal de mudança de rumo, na qual o escritor descreveu como era viajar no barco cuidadosamente projetado de Depp para a sua ilha particular no Caribe. “A sua vida é grotescamente exagerada e crassamente previsível”, escreveu. Com Depp a falar sem parar sobre Thompson e Richards e partilhando o conselho que Brando lhe deu sobre como comprar uma ilha: “O dinheiro não compra felicidade, mas compra um iate grande o suficiente para navegar até lá”, declara. Há também testemunhos sobre jatos particulares cheios de cocaína ao pequeno almoço, além de todas as acusações e dos vídeos que revelam o lado mais agressivo do ator, consequente, segundo a ex-mulher, das drogas e do álcool. Outrora conhecido pelas suas interessantes entrevistas onde regalava os jornalistas com pensamentos eloquentes sobre a vida, os seus encontros mais recentes com a imprensa deram muito que falar. Em 2018, numa entrevista para a Rolling Stone, o ator afirmou ao jornalista Shephen Rodrick que a sua fortuna de 650 milhões de dólares, mais de 500 milhões de euros, havia acabado, acusando os ex-gerentes de roubo. Contudo alguns dos seus gerentes alegaram que este gastava 30 mil dólares, quase 26 mil euros, por mês em vinho. O jornalista foi convidado a passar tempo com o artista durante três dias e Rodrick descreveu-o como “alternadamente hilário, astuto e incoerente”, com um “olhar assustado”. “Se a sua vida atual não é uma cópia perfeita dos últimos dias de Elvis Presley, é um fac-símile decente”, escreveu.