Há uns dias num debate na televisão sobre a lei imbecil cozinhada entre o PS e o PSD a propósito das listas independentes para as autarquias, João Miguel Tavares rematava com “o sistema é isto!” e eu pensei “este malandro roubou-me o título de um artigo…”.
Dias mais tarde, um filho meu afirmava a propósito das golpadas em preparação sobre o hidrogénio verde, o malfadado resgate da TAP ou a história tresloucada do Novo Banco, “estamos a ser roubados!”. Outro título bem verídico para um artigo de jornal…
Miguel Sousa Tavares, no Expresso, na sua crónica intitulada “5 anos a bazucar’’ insurgiu-se contra o facto de termos recebido da Europa nestas três décadas e meia 140 mil milhões de euros cujo resultado final é o de estarmos a caminho acelerado de sermos o mais miserável país da União Europeia, ultrapassado pelos países de Leste que entraram bem depois de nós e eram muito mais pobres. Lembrei-me então de escrever sobre ‘‘os bazuqueiros’’, mas bem podia ser sobre ’’os bazuqueiros ladrões’’, sobre ‘‘o sistema dos bazuqueiros’’, ou de como os bazuqueiros nos andam a roubar o futuro há 40 e tal anos.
Qualquer tema destes em que se pegue, tem um enorme potencial para nos indignar, não pela incompetência demonstrada, mas antes pela falta de vergonha e despudor com que quem nos governa nos tem roubado.
A maioria das pessoas tem uma incapacidade em entender o que quer dizer que a nossa dívida pública seja de 140% do PIB, ou seja qualquer coisa à volta dos 280 mil milhões de euros, mas é fácil, quer dizer que o Estado de Portugal deve quase uma vez e meia a totalidade da riqueza produzida num ano por dez milhões de portugueses e que esses dez milhões de portugueses vão demorar uma vida, uma inteira geração, apertando muito o cinto, a pagar o que o Estado deve.
Enquanto o país escorrega sem remédio para o último lugar da liga dos tesos, o Estado português gasta como se não houvesse amanhã, sem critério nem travão, engordando e reforçando um sistema socialista assente no setor público que puxa o país para trás e o impede de se desenvolver.
Governar à custa de dívida e sempre com negócios imbecis e ruinosos para todos mas muito vantajosos para alguns, tornou-se numa forma de vida, normal, para o Estado português. Tão normal que não gera qualquer espanto ou arrependimento e que, pelo contrário, um político pato bravo que calhou para nosso azar estar ministro nesta aziaga conjuntura, decidiu gastar para “salvar” a TAP qualquer coisa em largo excesso de 3.700 milhões de euros.
Independentemente da discussão sobre a valia intrínseca de ‘’salvar’’ a TAP, noto apenas que com 3.700 milhões se compravam – pagos e nossos – aí uns trinta aviões daqueles que a TAP usa. Deixava-se falir a TAP, destino normal das empresas insolventes, e a seguir o Estado, se quisesse, com 3.700 milhões criava uma nova TAP a partir do zero sem dívidas. Não que isso servisse de muito, porque sendo a TAP a TAP e o estado português o que é, rapidamente teríamos uma nova TAP insolvente… Assim, temos à partida uma TAP insolvente, com a diferença que lá estamos a gastar o que teria permitido salvar milhares de pequenas empresas que empregam bem mais de 10.000 trabalhadores e contribuem muito mais para a riqueza nacional e ao contrário da TAP, têm futuro.
Mas a TAP, esse novo Novo Banco, outro negócio público de uma imbecilidade assinalável e um sorvedouro de dinheiro inútil que nos sai dos bolsos tipo hemorragia sem remédio, é apenas um exemplo entre muitos das escolhas ruinosas que governantes cheios deles e do dinheiro dos portugueses decidem arrogantemente fazer em cada dia que passa.
O que neste momento se está a passar em Portugal, perante a impassividade dos portugueses, é mais uma daquelas fases trágicas em que o futuro do país está a ser destruído e há dias em que mais parece uma nova república soviética, como aliás as bandeiras que o partido comunista escarrou na face da cidade de Lisboa, entre o Marquês e os Restauradores, parecem indicar.
Como é que a mesma bandeira que presidiu aos genocídios na velha União Soviética, aos genocídios do Pol Pot no Camboja, que foi o símbolo de meio século de esmagamento da liberdade no Leste europeu, que agora preside ao esmagamento da liberdade em Hong Kong, uma bandeira sinistra que é um símbolo de terror e totalitarismo, pode ser hasteada às centenas na cidade de Lisboa, neste ano da graça de 2021?
A resposta é simples: para se poder manter no Governo e continuar a desgovernar Portugal, os socialistas precisam do apoio do partido comunista e estão na disposição de lhes ceder em tudo, desde que consigam lá ficar a tempo de agarrar a ‘‘bazuca’’ de dinheiro europeu que aí vem e lhes vai permitir uma vida airada, ainda que bem miserável para Portugal.
Por mal dos nossos pecados, que são muitos e o primeiro é o de votar nesta fauna, calhou-nos em sorte ter uma oposição que consegue ser pior do que o governo. Incapaz de traçar e propor uma política alternativa, serena e racional para o país, a oposição perde-se em jogos táticos e permite que o primeiro ministro Costa a transforme num brinquedo seu.
Se nada de novo e interessante acontecer, vamos chegar a 2023 com os ‘’bazuqueiros’’ no Governo e o país a arrastar sem remédio as suas maleitas velhas e relhas do favorecimento dos amigos, do capitalismo dos compadres, da corrupção pequena e grande, dos casos BES e Sócrates por julgar, da pequena miséria quotidiana dos portugueses dos quais os mais dinâmicos, preparados e empreendedores continuarão a emigrar, sem esperança à vista neste torrão pátrio à beira mar plantado.
Por cima de tudo, desfraldadas ao vento, não cem, mas mil bandeiras do partido comunista, que agora fez cem anos e há de fazer mil, como o reich do Hitler…
Advogado, subscritor do Manifesto «Por uma Democracia de Qualidade»