Durante os últimos meses, uns por causa do teletrabalho, outros por causa do ensino à distância, temos tido de lidar mais estreitamente com a tecnologia. Uns gostam disso, outros nem por isso. Eu não gosto especialmente, pois não tenho, ao contrário de outras pessoas, um fascínio especial por aquilo que não compreendo. E há coisas na informática que não entendo mesmo.
Poderia dar muitos exemplos, mas julgo que basta um só: as impressoras. Há uns tempos, a impressora lá de casa estragou-se porque usámos um tinteiro de marca branca compatível. Disse “estragou-se”, mas talvez fosse mais correto dizer “estragaram-na”, pois suspeito que terá sido uma espécie de sabotagem da própria marca, uma vingança pela nossa pequena “traição”.
Pois bem, veio o confinamento e, por causa do ensino à distância, tivemos de comprar uma impressora nova. Até que um dia o tinteiro de cor acabou (mas não havia problema, porque só precisávamos de imprimir a preto e branco… achávamos nós).
Ao fim de algum tempo, a impressora começou a fazer greve. Ou chantagem: recusava-se a imprimir enquanto não lhe déssemos o tal cartucho de cor. Pusemos-lhe o cartucho de cor. Mas houve um dia em que eu precisei de fazer um print e ela por qualquer razão recusou-se na mesma.
Há uma grande discussão nos dias que correm sobre a inteligência artificial e os perigos das máquinas inteligentes. Cada vez mais complexas e sofisticadas, podem adquirir vontade própria e, quem sabe, rebelar-se contra os seus criadores.
Mas já a estupidez artificial vejo ser pouco discutida, embora abunde por aí.
É que, por mais que nos esforcemos a tentar convencer uma máquina a fazer algo de perfeitamente razoável (como a imprimir um papel) ou explicar-lhe algo óbvio (que não precisa de um cartucho de cor para imprimir a preto e branco), ela não se deixa comover. É como certas pessoas teimosas (e não especialmente inteligentes) que não arredam pé da sua posição.
Diria, pois, que mais do que da inteligência artificial, tenho medo da estupidez artificial. Sobretudo quando está na mão de uns espertalhões – eles sim, inteligentes – que nos enganam à força toda.