Milan-Inter. Um assunto por resolver entre fanfarrões e chaves de fendas

Milan-Inter. Um assunto por resolver entre fanfarrões e chaves de fendas


O Derby della Madonnina está marcado para domingo, às 14h. O primeiro de todos data de outubro de 1908 e acabou com a vitória do Milan.


Milan é Milan e mais nada. Assim mesmo, à inglesa, porque foi fundado por um inglês chamado Alfred Edwards em dezembro de 1899. Já o Inter é bem mais italianamente Football Club Internazionale a despeito de ter vindo ao mundo após uma cisão dentro do Milan e que levou à criação do clube em março de 1908. “Si chiamerà Internazionale, perchè noi siamo fratelli del mondo”. Ficou Inter.

Sete meses tinham passado sobre o desentendimento entre irmãos e ei-los que entram em campo para se defrontarem pela primeira vez na história, no dia 18 de outubro, disputando a Chiasso Cup, uma taça oferecida pela comunidade italiana do cantão de Ticino, na Suíça. Com mais tempo de treino colectivo, o Milan levou a melhor sobre o irmão mais novo e venceu por 2-1.

A rivalidade pode durar há mais de cem anos e a base desse antagonismo pode ter-se vindo a perder ao longo das décadas. Mas um facto é indesmentível: nos primórdios do futebol milanês, cada clube tinha a suportá-lo uma massa social diversa. O Inter era o clube dos bauscia, um termo milanês que se pode traduzir com fanfarrões ou vaidosos, exatamente porque tanto os seus dirigentes como os seus principais adeptos faziam parte da alta-burguesia da cidade.

Por seu lado, os apoiantes do Milan tinham a alcunha de casciavid, um termo igualmente milanês que quer dizer chave de fenda e que atira para as suas raízes operárias e para os muitos trabalhadores das fábricas da região que todas as semanas seguiam os jogos da equipa. Mas, já que falamos de alcunhas, elas não se ficam por aqui. Habituados a demandarem o Estádio de San Siro montados nas suas motoretas ou vespas, os interistas têm igualmente o apodo de motorettas; por seu lado, os milanistas ficaram com o cognome de tramvee, por optarem pelos transportes públicos, como está bem de ver.

Hoje em dia, tais provocações diluíram-se consideravelmente. O futebol democratizou-se por toda a parte, já não existem propriamente clubes de ricos e clubes de pobres. Além do mais, a Juventus esmagou de tal forma a concorrência no calcio que um Milan-Inter não vale meio tostão furado comparado com os grandes dérbis dos anos-50, 60, 70 e 80.

Domingo. No domingo, pelas 14 horas, Milan e Inter voltam a encontrar-se. Desta vez, e com inequívoca surpresa, ocupam os dois primeiros lugares da Série A, o Inter em primeiro com 50 pontos, o Milan logo a seguir com 49. Entretida com exibições pífias, umas atrás das outras, a Juventus arrasta-se pelo quarto lugar, com 42 pontos, embora com um jogo em atraso. Motivos mais do que suficientes para que o famoso Derby della Madonnina ganhe um entusiasmo suplementar. O nome do derby vem da pequena estátua de Nossa Senhora que enfeita o topo da catedral de Milão e é um dos maiores pontos de devoção dos milaneses.
Até hoje, para a Série A, que teve o seu início em 1929, a vantagem do Inter sobre o Milan é substancial: em 173 jogos, 66 vitórias contra 52, com 55 empates pelo meio. No total de jogos oficiais, isto é, a contar para todas as competições, o Inter também leva vantagem: em 227 jogos, 83 vitórias contra 77 e 67 empates gravados nos registos. Curiosamente, os dois grandes rivais de Milão têm o mesmo número de títulos de campeões de Itália: 18 para cada um. A quilómetros de distância da Velha Senhora, como se calcula, que vai nos 36. Esta época, e a despeito da incapacidade da Juve de impor o futebol irresistível que nos vinha habituando, não podemos deixar de considerar a equipa de Turim novamente favorita ao scudetto. Mas pela primeira vez há muito tempo Milan e Inter entram em San Siro com a ideia de que um deles sairá de lá no primeiro posto. E isso não deixa de ser um alívio profundo para os adeptos de uns e de outros que penam e de que maneira pela ausência de títulos. Muito provavelmente, teremos um derby renhido como há muito não tínhamos.