Esta crónica é sobre a decisão política daqueles que para isso foram eleitos ou democraticamente designados e não sobre a aplicação de qualquer algoritmo por mais sofisticado que seja. A inteligência é algo que não tem definição fácil. É uma capacidade cognitiva, de raciocinar, planear, decidir, pensar de forma abstrata, compreender.
A partir das múltiplas definições base de inteligência, a árvore conceptual ramifica-se quer para os domínios diferenciados como a inteligência emocional, a inteligência relacional, a inteligência coletiva ou a inteligência competitiva, entre muitas outras, sem esquecer a designada inteligência artificial.
Combinando todas as inteligências, que não são de mais para o exercício, a União Europeia, num momento em que acelera a todo o gás para a aprovação de um novo pacote legislativo para enquadrar a sua transição digital, tem que ter a capacidade de raciocinar, decidir e agir com inteligência, para maximizar vantagens e conseguir afirmar-se globalmente através de uma diferenciação competitiva conforme aos seus valores e princípios. Há vários anos que a aceleração tecnológica se verifica a um ritmo exponencial. Em muitos setores verificaram-se disrupções claras. No ecossistema digital existem cada vez mais sinais de que estamos na véspera de uma disrupção sistémica, ou seja, do momento em que os novos desenvolvimentos encaixam e geram um novo contexto para a vida em sociedade, para os negócios, para as interações sociais, para o exercício da cidadania.
Para a União Europeia, face ao processo de modernização legislativa e de investimento científico e tecnológico em curso, chegou o momento de definir em bases claras o seu posicionamento. Ambiciona ser líder? Acomoda-se a ser um seguidor próximo? Arrisca ser um desafiador de prioridades, metodologias e princípios de ação?
A liderança seria apetecível, mas não me parece alcançável de forma direta tendo em conta os desníveis de investimento e de proliferação de operadores dominantes. A desistência de liderar no caminho estabelecido pode ser um ato de bom senso, mas convoca a União para ousar traçar um caminho alternativo, atrativo para desenvolver parcerias com outros atores globais, sobretudo se conseguir desenhar um quadro regulamentar simples, mas robusto, que todos os operadores tenham que cumprir quando desenvolverem atividades nos seus territórios.
Em Roma sê romano e na Europa sê europeu, respeitando os valores da transparência, da proteção de dados, da interoperabilidade, do estado de direito, dos direitos humanos, da equidade no acesso, de um pacto de cidadania para um uso dos dados que sirva a investigação, as empresas, a boa governação, os consumidores e os utentes dos serviços públicos.
À sua dimensão, a União Europeia vai dispor também nos próximos anos de uma “bazuca para investir no digital”, englobando o programa Europa Digital, a parcela para as redes incluída no mecanismo europeu de conectividade e os 20% dos pacotes de recuperação que terão que ser canalizados para a transição digital. Que haja inteligência, determinação e bom senso na sua aplicação.
Eurodeputado