À semelhança do que acontece com a maioria dos portugueses, a principal razão que move a classe política ao atravessamento da fronteira seria o vil metal: a falta dele no primeiro caso, a busca por maior abundância no segundo. A emigração de luxo tem carácter organizado quando coincide com actos eleitorais abertos à participação dos cidadãos eleitores – serve de exemplo a quinquenal migração em direcção ao Parlamento Europeu. Noutros casos, a migra depende da conjugação de vontades, formalmente de Estados e dos respectivos Governos, resultando bastas vezes a escolha do alvedrio de alguns, poucos, governantes.
A forçar a emigração está, muitas vezes, uma situação de desemprego, já concretizada ou em vias disso. A classe política também é atingida pelo flagelo, por exemplo, por via da defenestração promovida por um chefe político insatisfeito, mais sensível ao clamor da oposição e dos fabricantes de opiniões ou não crente na velha máxima de que um governo, como qualquer telhado alto, tem de ter um pára-raios, ou seja, alguém que seja aos olhos do mundo um péssimo ministro. Mais difíceis de gerir são as defenestrações causadas por eleições, sobretudo se antecipadas contra a vontade do Governo em funções. É difícil alinhar o ciclo eleitoral nacional com as vacaturas de postos de trabalho no estrangeiro. Por essa razão há quem, como Mário Centeno, tenha sido forçado a ir para fora cá dentro.
Cumprindo o dever de informar a todos por igual, damos em seguida nota das vagas que irão abrir em breve. Portugal, país de emigrantes, nunca viu um seu nacional como secretário-geral da NATO. O incumbente teve o seu mandato prorrogado para evitar que Trump recrutasse para a função um Dr. Strangelove. O lugar vaga a 30 de Setembro de 2022, pelo que a escolha deverá ser feita ainda em 2021. Stoltenberg foi escolhido por Merkel, que tratou de convencer Obama. Cessando Merkel funções no final deste Verão, será Biden a ter de alinhar os candidatos europeus. David Cameron já sonhou com o lugar, supostamente prometido pelo colega e, não obstante, amigo Boris Johnson, mas a defenestração de Mark Sedwill às mãos do Brexit fez surgir mais um candidato britânico. A disputa do cargo de SG da NATO tem sempre um candidato italiano. Desta vez há quem tente exportar Renzi para Bruxelas na esperança vã de conferir alguma estabilidade à coligação que sustentará o próximo Governo, tentativamente encabeçado por Draghi.
Também em 2022, no final de Junho, vagará o lugar de presidente do Conselho Europeu. O incumbente poderá ter o mandato renovado, mas a pertença de Charles Michel à família liberal não lhe dá garantias de renovação. O lugar, criado pelo Tratado de Lisboa, terá, segundo os mentideros de Xelas, sido pensado para Merkel, mas foi sempre ocupado por personagens com muito menos poder. Um primeiro-ministro em funções, moído pela governação de um pequeno país, poderá sempre tentar convencer os seus pares a darem-lhe um prémio pelo comportamento como bom europeu.
O secretário-geral da ONU termina o mandato a 31 de Janeiro de 2021. Guterres anunciou já a vontade de cumprir um segundo mandato. A eleição de Biden terá dissipado qualquer possibilidade de veto por parte de um dos membros permanentes do Conselho de Segurança. Guterres será reeleito, o que, para as gentes de pouca fé, poderá limitar as possibilidades de migração de outros políticos portugueses para cargos internacionais.
Escreve à sexta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990