O programa francês que acompanha pessoas condenadas por crimes ligados ao terrorismo após saírem da prisão, que começou em 2016, já acompanhou 70 ex-reclusos e nenhum reincidiu, mostra um estudo hoje divulgado.
"As conclusões do meu trabalho são bastante tranquilizadoras porque pude ver que nos programas em vigor a partir de 2016, das 70 pessoas condenadas por terrorismo que integraram essas iniciativas, apenas uma pessoa voltou à prisão e não por uma questão ligada ao terrorismo", disse Marc Hecker, diretor de estudos do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), em declarações à agência Lusa.
No entanto, o autor do estudo "Jihadistas uma vez, jihadistas para sempre? Um programa de desradicalização visto do interior", vê com prudência os resultados.
"Já temos alguma distância para medir os resultados. Claro que é preciso ser prudente porque ainda não passaram 10 anos e há casos em que a reincidência acontece vários anos depois de uma primeira ofensa", declarou Hecker, mencionando o caso de Chérif Kouachi, um dos autores do atentado à redação do jornal satírico "Charlie Hebdo".
Kouachi foi detido em 2005 antes de partir para a Síria, passou alguns anos na prisão e foi em 2015 que cometeu o ataque terrorista contra o jornal na companhia do seu irmão, Said.
Apesar de um longo historial de terrorismo em França, primeiro devido à guerra da Argélia e mais tarde com movimentos de extrema-esquerda e extrema-direita, a França teve uma resposta "tardia" à reinserção de pessoas condenadas por terrorismo.
"O início destes programas em França aconteceu de forma tardia. A França tem uma perspetiva securitária em relação ao terrorismo, baseada no trabalho da polícia e da justiça ao longo da história […] E também pelo Exército. A militarização acentuou-se ainda mais depois do 11 de setembro de 2001", sublinhou Hecker.
Agora com "programas estabilizados", as primeiras conclusões do estudo do IFRI mostram resultados encorajadores. O programa que existe atualmente em França chama-se Programa de Acompanhamento Individualizado de Reafiliação Social (PAIRS) e acompanha os detidos após a saída de prisão no âmbito social, psicológico e também ideológico