A direita dificilmente vai voltar a ser o que era, pelo menos nos próximos anos, com o sucesso eleitoral de André Ventura e a entrada em cena na política portuguesa de um partido com as características do Chega. O resultado nas presidenciais reforça a convicção de que André Ventura veio baralhar o sistema político com o crescimento do populismo em Portugal.
Primeiro é preciso um olhar atento aos resultados deste domingo. Ventura ficou em terceiro lugar com mais de 11% dos votos, o que corresponde a quase meio milhão de votos. Em 11 distritos do país conseguiu mesmo ultrapassar Ana Gomes e ficar em segundo lugar.
Portalegre foi o distrito em que o candidato apoiado pelo Chega conseguiu mais votos, ou seja, cerca de 20%. Em Beja e Évora, André Ventura também ficou em segundo lugar, com mais de 16%. Nestes dois distritos do Alentejo ultrapassou o candidato comunista João Ferreira, que ficou em terceiro lugar.
Curiosamente, é nesta região que o líder do Chega consegue alguns dos seus melhores resultados. Em Moura, no distrito de Beja, por exemplo, ultrapassou os 30%.
Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda, Santarém, Leiria, Castelo Branco e Faro foram os outros distritos que deram o segundo lugar ao candidato do Chega. Na Madeira, onde Marcelo Rebelo de Sousa obteve uma vitória esmagadora com 72%, o candidato do Chega também ficou à frente de Ana Gomes.
O crescimento do Chega preocupa os partidos tradicionais e, entre os sociais-democratas, há quem defenda que estes resultados devem levar a direção do PSD a abrir uma reflexão sobre estes novos fenómenos. Guilherme Silva, ex-líder parlamentar do PSD, afirma, em declarações ao i, que a direita “tem obrigação de refletir sobre o crescimento notório do Chega”.
Para este social-democrata, Rui Rio “deve ter essa preocupação como prioridade”, porque é preciso “perceber as razões desse crescimento, à custa do PSD e do CDS, e reconquistar esse eleitorado”.
Pedro Rodrigues, deputado do PSD e crítico da atual direção, vai mais longe e considera que “o crescimento exponencial dos partidos à direita do PSD resultam de uma reação dos portugueses à dificuldade que o PSD tem sentido em mobilizar, representar e galvanizar os mais dinâmicos setores da sociedade portuguesa”.
Num nota enviada à agência Lusa, o ex-presidente da JSD afirma que o resultado das eleições presidenciais revela a incapacidade da atual direção para construir uma “oposição assertiva e alternativa de esperança para Portugal” e “apontar um caminho claro e determinado que se distinga do desgoverno socialista”.
PSD distancia-se do Chega Na noite eleitoral, Rui Rio preferiu desvalorizar o crescimento do Chega. O presidente do PSD rejeitou classificar o resultado de Ventura como uma “votação expressiva” porque “ele não consegue sequer o segundo lugar em termos nacionais”.
No dia seguinte, David Justino, na TSF, distanciou-se o mais possível do partido liderado por André Ventura. “A posição do PSD sobre isto é muito clara. É muito clara ao dizermos que com este Chega é impossível conversar. É impossível entendermo-nos seja sobre o que for”. O vice-presidente do PSD considerou mesmo que André Ventura representa “o pior que há na política”.
Movimentações à direita O primeiro dia a seguir às presidenciais ficou também marcado por movimentações à direita. Pedro Santana Lopes abandonou a Aliança e pode estar a preparar o regresso ao PSD.
Carlos Guimarães Pinto, ex-líder da Iniciativa Liberal, anunciou a criação de um movimento político juntamente com Mesquita Nunes, ex-vice-presidente do CDS e crítico da direção liderada por Francisco Rodrigues dos Santos.
O Instituto +Liberdade, que será lançado no dia 12 de fevereiro, pretende ser “uma organização sem fins lucrativos, independente e apartidária” com o objetivo de promover “os valores da democracia, da economia de mercado e da liberdade individual”.
Carlos Guimarães Pinto, que liderou a Iniciativa Liberal até às eleições legislativas, será o editor executivo, Carlos Moreira da Silva o presidente do conselho de curadores, e Adolfo Mesquita Nunes o presidente da mesa da assembleia-geral.
Lídia Pereira, eurodeputada do PSD, Ana Rita Bessa, deputada do CDS, e Pedro Santa Clara, professor universitário e empresário, são outros nomes que integram o novo movimento.