A associação Quebrar o Silêncio recebeu 120 pedidos de apoio de homens e rapazes vítimas de violência sexual que procuraram apoio psicológico, o que dá uma média de dez casos por mês. Este número, avança a associação, representa um aumento de 21% nos pedidos de apoio face a 2019. “Todos os meses chegam até nós cerca de dez novos casos. São, na maioria, homens na casa dos 30 anos que sofrem em silêncio as consequências dos abusos de que foram vítimas. Muitos destes é a primeira vez que partilham a sua história”, diz Ângelo Fernandes, fundador da Quebrar o Silêncio.
Ao i, o responsável explica que “a violência sexual contra homens e rapazes é um tema tabu e, por isso, muitos destes homens acreditam que são um caso isolado e que estão sozinhos. À medida que na Quebrar o Silêncio vamos desbravando estas matérias e trabalhamos para a informação e sensibilização, acreditamos que a nossa mensagem vai chegando a mais homens e rapazes que foram abusados sexualmente e precisam de apoio”.
Ângelo Fernandes diz ainda que a associação sente que quando são acrescentados novos testemunhos no site da Quebrar o Silêncio, esse fator “contribui para aumentar a consciência e o reconhecimento de que um em cada seis homens é vítima de violência sexual. É um processo que contribui para o aumento de 21% nos pedidos de apoio que temos registado”, diz.
O responsável – também ele vítima de abuso em criança – garante que este é ainda um assunto tabu. “Há um tabu silenciador sobre o abuso sexual de homens e rapazes. Uma das consequências desse tabu é a promoção e manutenção do longo silêncio dos homens e rapazes vítimas de abuso. Como não se fala abertamente sobre estes temas, os homens sobreviventes acreditam muitas vezes que estão sozinhos e que o seu caso é um caso isolado. Esta não é a realidade: em 2020 recebemos uma média de dez novos pedidos de apoio de homens e rapazes vítimas de abuso sexual”, avança ao i.
Questionado sobre se há muitos homens que ainda não têm coragem de contar os abusos, o fundador da associação diz que a mensagem que a Quebrar o Silêncio quer passar “é que estes homens e rapazes não estão sozinhos. Não têm de viver e sofrer em silêncio e sozinhos com as consequências do abuso, podem contar com o nosso apoio para retomar o controlo da sua vida”.
Ângelo Fernandes acrescenta que muitos desses homens passam “20 ou mais anos a sofrer em silêncio, mas nunca é tarde para procurar apoio”.
A associação não tem dúvidas de que a pandemia pode ter influenciado alguns dos novos casos, uma vez que “para muitos homens, o trabalho e as atividades fora de casa são uma forma de gerir o impacto traumático do abuso” e o isolamento pode ter trazido a necessidade de contar. “Os momentos de confinamento impediram os homens de usarem estas estratégias, o que os torna mais suscetíveis”.
“Para alguns homens, o confinamento potencia ainda sintomatologia depressiva e o aumento significativo de ansiedade, chegando a ficarem em crise”, acrescenta.
Para este ano, a Quebrar o Silêncio vai continuar a expandir a atividade na área da prevenção da violência sexual, nomeadamente contra crianças, através de um conjunto de workshops dirigido a pais e mães e também com ações de formação para docentes.