Na passada semana tive a oportunidade de participar e intervir numa sessão de apresentação pública online do projeto H2020 – AURORAL, que se iniciou em 1 de janeiro deste ano depois de ter sido aprovado pelo júri europeu, em competição aberta com outras duas dezenas de projetos apresentados por consórcios europeus.
Este projeto, liderado pela Região Alentejo, tem como foco a arquitetura de ecossistemas digitais abertos e regionais unificados para comunidades inteligentes e aplicações em larga escala em áreas rurais mais amplas. Os parceiros institucionais e empresariais alentejanos estão de parabéns pela demonstração de competência técnica e organizacional demonstrada. A opção da região por estabelecer uma representação permanente em Bruxelas revelou-se, mais uma vez, uma decisão acertada, frutuosa e inspiradora para outras regiões do país.
Vertendo a designação técnica para uma linguagem mais percetível, o projeto liderado pelo Alentejo visa dotar as regiões rurais europeias de um ambiente digital integrado que permita que os seus cidadãos e empresas acedam a serviços comparáveis aos das regiões económica e demograficamente mais densas. Conta com 25 parceiros de dez países e 11 regiões-piloto. O orçamento global é de cerca de 15 milhões de euros, cabendo à região líder uma fatia que se aproxima dos 3 milhões.
Acompanhei este projeto no quadro do meu mandato e das minhas áreas de trabalho no Parlamento Europeu, que, tal como ele, cruzam o desenvolvimento sustentável, a transição energética e a transição digital inclusivas. O seu sucesso será importante para que as políticas europeias de recuperação e resiliência conduzam a uma transformação do tecido económico e social, mais convergente, mais equitativo e mais próximo dos cidadãos e das suas comunidades.
Ao participar na apresentação do projeto AURORAL não pude deixar de recordar a semente que constituiu o projeto Alentejo Digital, que liderei no contexto do Programa Integrado de Desenvolvimento do Alentejo – PROALENTEJO, na segunda metade da década de noventa do século passado. O Alentejo Digital foi, no tempo em que foi lançado, um programa pioneiro em Portugal e na Europa. Colocou o Alentejo no mapa da nova indústria e dos novos serviços, melhorou a literacia digital na região e a fibra ótica que disponibilizou ajudou a atrair investimentos diferenciados e de alto valor acrescentado.
No discurso de boas-vindas ao presidente do Conselho Europeu, por ocasião do concerto de abertura da presidência portuguesa da UE, António Costa usou a amarração em Sines do cabo submarino de fibra ótica América Latina-Europa e a cimeira com a Índia como marcas da identidade global e inspiradas pela permanente descoberta de novos caminhos que definem a nossa forma de sermos portugueses na Europa e no mundo.
Numa das mais emblemáticas modas do cante tradicional alentejano, ao romper da bela autora sai o pastor da choupana (para apascentar os rebanhos e os amores). No tempo de confinamentos em que vivemos, esta “aurora” alentejana e europeia que agora desponta é uma razão de esperança para a região, para o país e para todos os que acreditam e atuam para conseguir que a digitalização seja, primeiro que tudo o mais, um instrumento ao serviço das pessoas e da melhoria da sua qualidade de vida.
Eurodeputado