A importância do tema do ano: A Vacina contra a COVID-19


Começaram a ser administradas vacinas “para a COVID-19” no mundo. A fórmula desenvolvida pela farmacêutica Pfizer chegou ao mercado do Reino Unido esta semana e, em janeiro, tudo aponta para que chegue a território português.


É muito importante termos consciência que este é o tema da semana. Não é a TAP nem o que queiram inventar! Aliás, o tema do mês de dezembro deste ano também é este. Diria mais, o melhor assunto de 2020 é mesmo este e chega precisamente no último dos doze meses deste terrível ano.

Há que estudar, saber e conhecer de que estamos a falar. E a vacina e vacinação, infelizmente, tem poucas vozes com capacidade de o fazer, publicamente, por isso todos somos necessários. A mensagem política tem confundido mais do que esclarecido e, talvez só agora, os especialistas do medicamento estejam a ser chamados a terrenos (ainda bem!) para elucidar uma população já muito cética em relação a muitas coisas. 

Informar é necessário e esclarecer, face à indefinição dos órgãos políticos, tornou-se urgente. Devemos analisar um conjunto de notas importantes sobre esta matéria.

Primeira nota: Porquê já estar a vacina no Reino Unido e não cá?

Existem vários mecanismos de introdução de medicamentos no mercado. Importa referir que cada país tem o seu próprio órgão regulamentar, em Portugal temos o INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.) e, por exemplo, no caso que interessa, o Reino Unido tem a MHRA (Medicines and Healthcare products Regulatory Agency). Paralelamente há a Agência Europeia do Medicamento, a EMA (European Medicines Agency), que centraliza processos, mas já lá iremos. Foquemos em dois dos mecanismos que ocorrem neste momento e que têm causado conversa a mais para o pouco que há a discutir. Há o processo «Nacional» em que a agência regulamentar do país aprova a autorização para aquele país, como ocorreu no Reino Unido via MHRA face à vacina da Pfizer para a COVID-19. Depois, e vivemos esse mecanismo cá, há o processo «Centralizado» em que a EMA aprova a autorização de introdução no mercado para o espaço económico europeu. Nesta nota, fica esclarecido, espero, o porquê de já estar a ser administrado no Reino Unido e ainda venha a chegar a Portugal.

Segunda nota. As vacinas das farmacêuticas são iguais e há uma melhor?

Falamos, claro e à cabeça, por ser a primeira, da vacina introduzida no mercado britânico, da multinacional farmacêutica Pfizer. Esta vacina tem uma estratégia inovadora, no entanto, a finalidade é a mesma que qualquer uma que venha posteriormente: Educar o sistema imunitário para que crie defesas e responda ao vírus SARS-CoV-2 que origina a doença COVID-19.

À data, temos disponibilidade e aprovação da vacina da Pfizer e a da outra multinacional farmacêutica AstraZeneca. São diferentes, como só podia ser, mas ambas são seguras e de eficácia comprovada. Não há a questão de “qual é melhor?”. Ambas têm estratégias diferentes mas ambas são eficazes. A vacina que é administrada pela Pfizer utiliza um excerto, muito curto, de código genético do próprio vírus SARS-CoV-2, envolvido numa gotícula de gordura, que é entregue ao nosso sistema imunitário sem que tenha qualquer matéria biológica do vírus ativa.  É uma técnica inovadora, como se diz e escreve em todo o lado, e bem verdade, mas importa referir que esta técnica “inovadora” tem mais de uma década de estudos e ensaios clínicos. Foi testada antes, não há perigo nem risco algum. É segura.

A vacina da farmacêutica AstraZeneca, tendo o mesmo objetivo, tem uma forma diferente de educar o sistema imunitário. Utilizando o adenovírus (causador de constipações, por exemplo), derivado de uma estirpe isolada a partir de uma espécie de macacos, que é introduzido já parcialmente inibido no organismo humano. Este vírus não é replicativo, pelo que entra nas nossas células e acaba por desaparecer. No entanto, e a sua finalidade é esta, incute a produção de resposta ao vírus SARS-CoV-2 quando o nosso sistema imunitário o reconhece. Assim, em contacto futuro com o vírus, temos capacidade imunológica presente.

Há, à data, três vacinas com eficácia comprovada cientificamente. Haverá mais. Garantir a eficácia é, sobretudo, saber que só esses valores superiores a 90% é que, não impedindo a infeção ou transmissão, permitem que o infetado não fique doente na forma severa como quem não está imunizado para a COVID-19.

Terceira nota. A imunidade de grupo, qual a importância?

A imunidade de grupo é fundamental para quebrarmos este ciclo pandémico que vivemos, mas, porém, talvez não da forma como que tem sido apregoado a nível global. A importância da imunidade de grupo, pós vacinação, prende-se em sabermos que a transmissão do vírus não vai ocorrer, que vamos quebrar as cadeias de transmissão e que dessa forma o vírus SARS-CoV-2 não se vai implementar e proliferar. Não era, como foi dito em tempos, quase um “apanhem todos COVID-19 que ficam com imunidade e corre bem depois”. Nada disso. Em Portugal, para atingirmos este estado de imunidade de grupo, falamos de vacinar cerca de 70% da população nacional, aproximadamente 7 milhões de pessoas. Porém, temos de ter atenção que estas percentagens não são independentes da faixa etária. Há a população dos +65 anos, há os de idade compreendida entre os 50-65 anos e ainda há as crianças e as gravidas (populações para as quais ainda não houve estudos). Tudo isto conta. Todos têm a sua especificidade. Não é “igual para todos”.

Mas, neste importante ponto, também conta a parte política assente no plano nacional de vacinação. Nesse plano é transmitido que sabemos a eficácia da vacina na população mais jovem, mas que não sabemos efetivamente na população idosa. E neste ponto é importante percebermos que, numa vacina já amplamente conhecida, como a da Gripe, por exemplo, a eficácia na população mais jovem ronda os 70% e que, a mesma vacina, para uma população mais idosa ronda apenas os 30%. Isto reflete bem a dificuldade de se apregoar a eficácia como uma verdade absoluta. Não é e não, não somos “todos iguais” na resposta imunitária.

E qual a solução? Em primeiro lugar, ao contrário da vontade política de demonstrar que não havia escolha de idades e que “todos seriam tratados por igual”, é preciso vermos que a oportunidade e estratégia nesta 1ª fase de vacinação está em torno da população mais idosa. Criando uma bolha nessa população para aumentar a probabilidade de imunização e consequente imunidade de grupo a partir da população mais sensibilizada. Numa 2ª fase, sim, ao contrário da mensagem política dita, entrarão as vacinas na globalidade populacional portuguesa.

Sabemos que existem 12 meses de ansiedade em torno desta doença, que haverá muita fricção em torno da vacina e pressão também, para adquirir a vacina, mas é nestes momentos que se afirmam as lideranças.

A liderança na saúde tem de ser clara e pragmática sem ziguezagues ou intenção de tentar agradar a todos. Não dá para o ser. Mais vale ser-se transparente. Mais vale esquecer os votos e pensar nas pessoas.

Quarta nota. Datas para uma dita “normalidade”?

Há poucos dias, felizmente, profissionais do Instituto de Investigação do Medicamento e outros farmacêuticos da entidade reguladora, vieram afirmar que é demasiado otimista afirmar-se que no verão de 2020 estará plena a imunidade de grupo em Portugal e o retorno à dita normalidade. Temos de ser conscientes dos problemas de abastecimento que existirão para qualquer vacina. Não falamos de 10 milhões de vacinas, falamos de todo um planeta e é normal que ocorram atrasos mesmo contando já com a vacina da AstraZeneca, da Moderna ou qualquer outra. Dizem os entendidos, e os estudos de monitorização e cálculo assim o apontam, que provavelmente no natal de 2021 estará atingido este estado de imunidade. Temos de ter atenção, e numa altura em que se tenta colar a mensagem de que “no verão está tudo bem”, que para atingir os tais 70% até ao dito verão significaria que todos esses 7 milhões de portugueses teriam de ter 100% de eficácia após a administração da vacina… Basta sermos realistas e não tão otimistas quanto o programa de vacinação do governo português. Apontemos ao natal de 2021.

Quinta nota. A velocidade da vacina na sua produção é segura?

É. Um processo tradicional, até atingir a fase de distribuição à população, demora em média 10 anos. Na produção de vacinas COVID-19 estamos a chegar a essa fase no início do segundo ano. A questão, dita pelo setor farmacêutico, não se prende por falta de controlo ou segurança, todas as etapas e ensaios clínicos, assim como estudos, foram executados e escrupulosamente cumpridos. Trata-se apenas de um processo mais eficiente e menos burocrata que o processo tradicional. O maior risco, fiquemos a saber, neste processo feito, é mesmo o investimento financeiro avolumado, sem garantias, dos Estados para o processo de estudo. A título de exemplo, houve 1.1 mil milhões de dólares entregues pelo Governo Americano para a produção da vacina da Moderna Inc. O Governo apostou sem saber ao que ia. Acreditamos hoje que adiantou verba para uma causa maior, e bem.

Sexta nota. A importância das Farmácias qual é? E culpa, têm?

As Farmácias são fundamentais neste processo. São mesmo importantes para a rede de saúde e têm de estar incluídas quer na administração e execução do plano de vacinação, assim como na importantíssima etapa de farmacovigilância. Mais que nunca, é importante incutir aos utentes/doentes a proximidade de transmitirem ao seu farmacêutico os efeitos adversos (cansaço, náuseas, etc.) de uma possível toma e a rede de farmácias gerar informação para as autoridades competentes e distribuidoras.

No entanto, já é público que, por vozes ligadas ao governo, que a primeira fase será apenas efetuada nos centros de saúde e não passará pelas Farmácias. Esperemos que as Farmácias entrem nas futuras fases, porventura na 3ª vaga. Seria uma grande solução.

Infelizmente, e muito injustamente, nos últimos dias houve a tentativa de se dizer que a ausência de Farmácias nesta fase é por suposta culpa na ausência de vacinas para a gripe, durante o pico de doença este ano. Nada mais errado. A culpa é de quem lidera e, nesse caso, não liderou via Governo Central esta matéria, afirmando categoricamente e publicamente que “haverá vacinas para todos” e, agora, por vozes de outros, tenta passar a pior das mensagens: A atribuição de culpas aos únicos que não têm culpa.

A última nota. A importância da monitorização.

Ao longo do plano de vacinação português, algo muito importante será monitorizar e extrair os dados da importância de vacinar (menor risco de doença, menor risco de transmissão). Em Portugal já existem, dos casos de doentes COVID-19 recuperados, números que demonstram que 50% desses doentes têm Anticorpos neutralizantes após infeção do vírus SARS-CoV-2. Agora, com a administração da vacina, é muito importante atuar nos restantes 50% (e todos os demais) para criarem imunidade e a desenvolverem. Para atingir esse “olimpo”, é fundamental o plano de vacinação olhar para a monitorização destas pessoas e não perder rasto.

Fica bem pensar na importância da DGS, do Instituto Ricardo Jorge e a forma como o Ministério da Saúde tem de ter capacidade de organizar o que agora começa para o bem de todos.

Por fim, a nota típica após vivermos o melhor mês de 2020: Vacine-se. Não só por si, mas por todos os portugueses e pelo planeta. Precisamos de derrotar a COVID-19 e esse é o único caminho.

 


A importância do tema do ano: A Vacina contra a COVID-19


Começaram a ser administradas vacinas “para a COVID-19” no mundo. A fórmula desenvolvida pela farmacêutica Pfizer chegou ao mercado do Reino Unido esta semana e, em janeiro, tudo aponta para que chegue a território português.


É muito importante termos consciência que este é o tema da semana. Não é a TAP nem o que queiram inventar! Aliás, o tema do mês de dezembro deste ano também é este. Diria mais, o melhor assunto de 2020 é mesmo este e chega precisamente no último dos doze meses deste terrível ano.

Há que estudar, saber e conhecer de que estamos a falar. E a vacina e vacinação, infelizmente, tem poucas vozes com capacidade de o fazer, publicamente, por isso todos somos necessários. A mensagem política tem confundido mais do que esclarecido e, talvez só agora, os especialistas do medicamento estejam a ser chamados a terrenos (ainda bem!) para elucidar uma população já muito cética em relação a muitas coisas. 

Informar é necessário e esclarecer, face à indefinição dos órgãos políticos, tornou-se urgente. Devemos analisar um conjunto de notas importantes sobre esta matéria.

Primeira nota: Porquê já estar a vacina no Reino Unido e não cá?

Existem vários mecanismos de introdução de medicamentos no mercado. Importa referir que cada país tem o seu próprio órgão regulamentar, em Portugal temos o INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.) e, por exemplo, no caso que interessa, o Reino Unido tem a MHRA (Medicines and Healthcare products Regulatory Agency). Paralelamente há a Agência Europeia do Medicamento, a EMA (European Medicines Agency), que centraliza processos, mas já lá iremos. Foquemos em dois dos mecanismos que ocorrem neste momento e que têm causado conversa a mais para o pouco que há a discutir. Há o processo «Nacional» em que a agência regulamentar do país aprova a autorização para aquele país, como ocorreu no Reino Unido via MHRA face à vacina da Pfizer para a COVID-19. Depois, e vivemos esse mecanismo cá, há o processo «Centralizado» em que a EMA aprova a autorização de introdução no mercado para o espaço económico europeu. Nesta nota, fica esclarecido, espero, o porquê de já estar a ser administrado no Reino Unido e ainda venha a chegar a Portugal.

Segunda nota. As vacinas das farmacêuticas são iguais e há uma melhor?

Falamos, claro e à cabeça, por ser a primeira, da vacina introduzida no mercado britânico, da multinacional farmacêutica Pfizer. Esta vacina tem uma estratégia inovadora, no entanto, a finalidade é a mesma que qualquer uma que venha posteriormente: Educar o sistema imunitário para que crie defesas e responda ao vírus SARS-CoV-2 que origina a doença COVID-19.

À data, temos disponibilidade e aprovação da vacina da Pfizer e a da outra multinacional farmacêutica AstraZeneca. São diferentes, como só podia ser, mas ambas são seguras e de eficácia comprovada. Não há a questão de “qual é melhor?”. Ambas têm estratégias diferentes mas ambas são eficazes. A vacina que é administrada pela Pfizer utiliza um excerto, muito curto, de código genético do próprio vírus SARS-CoV-2, envolvido numa gotícula de gordura, que é entregue ao nosso sistema imunitário sem que tenha qualquer matéria biológica do vírus ativa.  É uma técnica inovadora, como se diz e escreve em todo o lado, e bem verdade, mas importa referir que esta técnica “inovadora” tem mais de uma década de estudos e ensaios clínicos. Foi testada antes, não há perigo nem risco algum. É segura.

A vacina da farmacêutica AstraZeneca, tendo o mesmo objetivo, tem uma forma diferente de educar o sistema imunitário. Utilizando o adenovírus (causador de constipações, por exemplo), derivado de uma estirpe isolada a partir de uma espécie de macacos, que é introduzido já parcialmente inibido no organismo humano. Este vírus não é replicativo, pelo que entra nas nossas células e acaba por desaparecer. No entanto, e a sua finalidade é esta, incute a produção de resposta ao vírus SARS-CoV-2 quando o nosso sistema imunitário o reconhece. Assim, em contacto futuro com o vírus, temos capacidade imunológica presente.

Há, à data, três vacinas com eficácia comprovada cientificamente. Haverá mais. Garantir a eficácia é, sobretudo, saber que só esses valores superiores a 90% é que, não impedindo a infeção ou transmissão, permitem que o infetado não fique doente na forma severa como quem não está imunizado para a COVID-19.

Terceira nota. A imunidade de grupo, qual a importância?

A imunidade de grupo é fundamental para quebrarmos este ciclo pandémico que vivemos, mas, porém, talvez não da forma como que tem sido apregoado a nível global. A importância da imunidade de grupo, pós vacinação, prende-se em sabermos que a transmissão do vírus não vai ocorrer, que vamos quebrar as cadeias de transmissão e que dessa forma o vírus SARS-CoV-2 não se vai implementar e proliferar. Não era, como foi dito em tempos, quase um “apanhem todos COVID-19 que ficam com imunidade e corre bem depois”. Nada disso. Em Portugal, para atingirmos este estado de imunidade de grupo, falamos de vacinar cerca de 70% da população nacional, aproximadamente 7 milhões de pessoas. Porém, temos de ter atenção que estas percentagens não são independentes da faixa etária. Há a população dos +65 anos, há os de idade compreendida entre os 50-65 anos e ainda há as crianças e as gravidas (populações para as quais ainda não houve estudos). Tudo isto conta. Todos têm a sua especificidade. Não é “igual para todos”.

Mas, neste importante ponto, também conta a parte política assente no plano nacional de vacinação. Nesse plano é transmitido que sabemos a eficácia da vacina na população mais jovem, mas que não sabemos efetivamente na população idosa. E neste ponto é importante percebermos que, numa vacina já amplamente conhecida, como a da Gripe, por exemplo, a eficácia na população mais jovem ronda os 70% e que, a mesma vacina, para uma população mais idosa ronda apenas os 30%. Isto reflete bem a dificuldade de se apregoar a eficácia como uma verdade absoluta. Não é e não, não somos “todos iguais” na resposta imunitária.

E qual a solução? Em primeiro lugar, ao contrário da vontade política de demonstrar que não havia escolha de idades e que “todos seriam tratados por igual”, é preciso vermos que a oportunidade e estratégia nesta 1ª fase de vacinação está em torno da população mais idosa. Criando uma bolha nessa população para aumentar a probabilidade de imunização e consequente imunidade de grupo a partir da população mais sensibilizada. Numa 2ª fase, sim, ao contrário da mensagem política dita, entrarão as vacinas na globalidade populacional portuguesa.

Sabemos que existem 12 meses de ansiedade em torno desta doença, que haverá muita fricção em torno da vacina e pressão também, para adquirir a vacina, mas é nestes momentos que se afirmam as lideranças.

A liderança na saúde tem de ser clara e pragmática sem ziguezagues ou intenção de tentar agradar a todos. Não dá para o ser. Mais vale ser-se transparente. Mais vale esquecer os votos e pensar nas pessoas.

Quarta nota. Datas para uma dita “normalidade”?

Há poucos dias, felizmente, profissionais do Instituto de Investigação do Medicamento e outros farmacêuticos da entidade reguladora, vieram afirmar que é demasiado otimista afirmar-se que no verão de 2020 estará plena a imunidade de grupo em Portugal e o retorno à dita normalidade. Temos de ser conscientes dos problemas de abastecimento que existirão para qualquer vacina. Não falamos de 10 milhões de vacinas, falamos de todo um planeta e é normal que ocorram atrasos mesmo contando já com a vacina da AstraZeneca, da Moderna ou qualquer outra. Dizem os entendidos, e os estudos de monitorização e cálculo assim o apontam, que provavelmente no natal de 2021 estará atingido este estado de imunidade. Temos de ter atenção, e numa altura em que se tenta colar a mensagem de que “no verão está tudo bem”, que para atingir os tais 70% até ao dito verão significaria que todos esses 7 milhões de portugueses teriam de ter 100% de eficácia após a administração da vacina… Basta sermos realistas e não tão otimistas quanto o programa de vacinação do governo português. Apontemos ao natal de 2021.

Quinta nota. A velocidade da vacina na sua produção é segura?

É. Um processo tradicional, até atingir a fase de distribuição à população, demora em média 10 anos. Na produção de vacinas COVID-19 estamos a chegar a essa fase no início do segundo ano. A questão, dita pelo setor farmacêutico, não se prende por falta de controlo ou segurança, todas as etapas e ensaios clínicos, assim como estudos, foram executados e escrupulosamente cumpridos. Trata-se apenas de um processo mais eficiente e menos burocrata que o processo tradicional. O maior risco, fiquemos a saber, neste processo feito, é mesmo o investimento financeiro avolumado, sem garantias, dos Estados para o processo de estudo. A título de exemplo, houve 1.1 mil milhões de dólares entregues pelo Governo Americano para a produção da vacina da Moderna Inc. O Governo apostou sem saber ao que ia. Acreditamos hoje que adiantou verba para uma causa maior, e bem.

Sexta nota. A importância das Farmácias qual é? E culpa, têm?

As Farmácias são fundamentais neste processo. São mesmo importantes para a rede de saúde e têm de estar incluídas quer na administração e execução do plano de vacinação, assim como na importantíssima etapa de farmacovigilância. Mais que nunca, é importante incutir aos utentes/doentes a proximidade de transmitirem ao seu farmacêutico os efeitos adversos (cansaço, náuseas, etc.) de uma possível toma e a rede de farmácias gerar informação para as autoridades competentes e distribuidoras.

No entanto, já é público que, por vozes ligadas ao governo, que a primeira fase será apenas efetuada nos centros de saúde e não passará pelas Farmácias. Esperemos que as Farmácias entrem nas futuras fases, porventura na 3ª vaga. Seria uma grande solução.

Infelizmente, e muito injustamente, nos últimos dias houve a tentativa de se dizer que a ausência de Farmácias nesta fase é por suposta culpa na ausência de vacinas para a gripe, durante o pico de doença este ano. Nada mais errado. A culpa é de quem lidera e, nesse caso, não liderou via Governo Central esta matéria, afirmando categoricamente e publicamente que “haverá vacinas para todos” e, agora, por vozes de outros, tenta passar a pior das mensagens: A atribuição de culpas aos únicos que não têm culpa.

A última nota. A importância da monitorização.

Ao longo do plano de vacinação português, algo muito importante será monitorizar e extrair os dados da importância de vacinar (menor risco de doença, menor risco de transmissão). Em Portugal já existem, dos casos de doentes COVID-19 recuperados, números que demonstram que 50% desses doentes têm Anticorpos neutralizantes após infeção do vírus SARS-CoV-2. Agora, com a administração da vacina, é muito importante atuar nos restantes 50% (e todos os demais) para criarem imunidade e a desenvolverem. Para atingir esse “olimpo”, é fundamental o plano de vacinação olhar para a monitorização destas pessoas e não perder rasto.

Fica bem pensar na importância da DGS, do Instituto Ricardo Jorge e a forma como o Ministério da Saúde tem de ter capacidade de organizar o que agora começa para o bem de todos.

Por fim, a nota típica após vivermos o melhor mês de 2020: Vacine-se. Não só por si, mas por todos os portugueses e pelo planeta. Precisamos de derrotar a COVID-19 e esse é o único caminho.