A mulher que levou a Mona Lisa à União Soviética durante a Guerra Fria

A mulher que levou a Mona Lisa à União Soviética durante a Guerra Fria


A ex-diretora do Museu Pushkin, na Rússia, Irina Antonova, morreu aos 98 anos.


Durante 52 anos, entre 1961 e 2013, Irina Antonova foi a diretora do Museu Estatal Pushkin de Belas Artes, em Moscovo, tornado-se a pessoa mais velha e a ocupar este cargo durante mais tempo no mundo, morreu, no passado dia 30 de novembro, de insuficiência cardíaca provocada por complicações relacionadas com o coronavírus, anunciou ontem o museu onde a russa de 98 anos dedicou mais de uma década.

“Irina Antonova dedicou 75 anos da sua vida ao Museu Pushkin e tornou-se um verdadeiro símbolo”, pode ler-se na nota publicada no site oficial da instituição. “Nos anos da sua liderança, o Museu tornou-se o mais importante espaço cultural do país e recebeu amplo reconhecimento internacional”.

Antes de liderar Pushkin, Antonova, estudante de História da Arte e especialista na arte renascentista italiana, começou a trabalhar neste espaço em 1945 “sem qualquer tipo de intenção de criar uma carreira”, escreveu o Moscow Times.

“Quando vim pela primeira vez ao museu, não pensei que iria ficar aqui por muito tempo. Estas paredes são feitas de pedra, e sempre tive falta de ar aqui. Como é que era suposto viver nesta casa de pedra para o resto da minha vida?”, cita o site.

No entanto, as “paredes de pedra” deste edifício viriam a ocupar uma grande parte da sua vida depois de, em fevereiro de 1961, Nikita Khrushchev nomear Antonova para ocupar o cargo de diretora do museu.

Arte para todos O legado de Antonova estará para sempre marcado pela sua incansável luta contra um sistema político conservador e encerrado sobre si mesmo para exibir as maiores obras de arte de todo o mundo.

A diretora do Pushkin foi responsável por “abrir o mundo ao povo soviético”, escreve o New York Times, promovendo exposições de conceituados artistas ou de tesouros, como os do tumulo de Tutancámon. “Quando estreámos esta exposição estava preparada para ser despedida”, recordou em entrevista à Forbes, falando de uma exposição, de 1974, de grandes coleções de obras do impressionismo francês ou de artistas modernos. “Sabia que havia muito perigo nisso. Mas era impossível manter [os quadros] de Picasso, Matisse, Léger, Van Gogh, Gaugin nos cofres durante mais tempo”.

Como conclui o Guardian, “acabou por não ser despedida”, e continuou a liderar o Pushkin durante uma “idade de ouro”, que recebeu, durante a tensão da Guerra Fria, o quadro da Mona Lisa, cuja única condição para a sua exibição foi o facto de ser exposto atrás de um vidro antibala.

O “reinado” de Antonova chegou ao fim depois de confrontar o Presidente russo, Vladimir Putin, com a tentativa de reviver o Museu Estatal da Nova Arte Ocidental destruído por Estaline em 1948. Depois deste pedido ser rejeitado, a diretora do Pushkin acusou todas as pessoas de serem contra a reconstrução do museu de “estarem na mesma linha de Estaline”. Pouco depois desta controvérsia, Antononova foi substituída por Marina Loshak.