Enfrentamos riscos vários ao nível da vida humana e da economia, e não será certamente fácil a um Governo tomar decisões nos tempos que correm. São tempos carregados de incerteza e desconhecimento. É, contudo, e nestas circunstâncias, apropriado entendermos que a história nos tem mostrado, vezes sem conta, que é precisamente nas situações de crise que se avalia a real qualidade dos líderes, dos governantes e dos estadistas. O que observo por parte do Governo português é, lamentavelmente, poucochinho, muito poucochinho.
Com um nível mínimo de exigência na estratégia e visão teria sido fácil evitar a total confusão que se instalou nos processos e na comunicação. As figuras que a ministra da Saúde e a diretora da DGS foram diariamente fazendo frente às câmaras de televisão são bem demonstrativas da incapacidade de comunicar à população o que quer que seja. Quem não sabe comunicar não sabe motivar.
Mais recentemente, o primeiro-ministro veio reforçar o timbre e concluímos que estamos entregues a um grupo que só tem capacidade de comunicar de forma percetível no debate do escárnio e maldizer. O Governo revela uma enorme confusão na forma de pensar, uma trapalhada a comunicar e uma balbúrdia a implementar. Como se diz em Angola: uns “confusionistas”.
Pessoalmente, ainda não consegui entender a panóplia de medidas, e muito menos a lógica subjacente. As crianças não podem ir à escola nuns dias, mas podem noutros. Nuns dias não podem ter aulas online, mas noutros podem. Uns ficam obrigatoriamente em casa, mas outros podem reunir-se em congresso com centenas de pessoas no mesmo local. Podemos ir ao teatro na sexta-feira (porque o Governo defende a cultura), cheio de gente, mas no dia seguinte não podemos ir almoçar fora. Podem dezenas de pessoas estar em filas de espera à porta das lojas, podem autocarros cheios onde não cabem mais pessoas circular nas periferias e nos centros urbanos, podem os supermercados estar cheios por consequência dos horários mais reduzidos, mas quando chegar a hora de ir ao restaurante, já não é possível. É pura e simplesmente incompreensível à luz de qualquer lógica e coerência a forma arbitrária e casuística como se destrata o cidadão e a sua liberdade cívica. Este é um Governo que não soube educar de forma evolutiva uma população cumpridora e que não é capaz de comunicar de forma inteligente um propósito cívico. Mal estão os governantes que não sabem falar às suas gentes. Este é um Governo mal preparado e extremamente incompetente. Demonstra não ter pensamento estratégico. Navega ao sabor de nem entendemos bem o quê e revela estar apenas prioritariamente preocupado com a manutenção do poder. Prejudica a qualidade de vida dos portugueses; falta-lhe talento e criatividade para trazer o melhor que os portugueses têm para, em conjunto, ganharmos a batalha da pandemia e da economia. Pelo contrário, está a criar campo fértil para que a preguiça reforce de forma institucionalizada a sua presença na cultura portuguesa.
Caminho totalmente errado, próprio de inconscientes e desconhecedores de como a vida real funciona. A fatura deste desnorte serão, certamente, os mesmos de sempre a pagar – os que necessitam obrigatoriamente de trabalhar, o que até muitos desses o Governo consegue impedir.
Parece mentira, mas é verdade!
Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”