“Mas o capitalismo não cai por si, tem de ser derrubado pela força. Também aqui a prática confirma as grandes teses do marxismo-leninismo relativas à revolução, à teoria da luta de classes, ao papel das massas e da sua luta como motor da revolução…”
Albano Nunes, membro da comissão central de controlo, xxi Congresso do PCP
A afirmação que cito acima podia ter sido proferida há um século mas, na verdade, tem apenas uma semana, uma vez que foi uma das muitas intervenções no último congresso do PCP, realizado entre 27 e 29 de novembro deste conturbado ano de 2020.
O maior partido comunista da Europa comunitária, com 8,25% dos votos nas últimas legislativas, 17 deputados eleitos e, desde 2016, com influência no Governo graças a um acordo de apoio parlamentar, não renega, antes proclama, os princípios inscritos por Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, escrito em 1890:
“Os comunistas não ocultam as suas opiniões e objetivos. Declaram abertamente que os seus fins só serão alcançados com o derrube violento da ordem social existente. Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a perder, além dos seus grilhões. Têm um mundo a conquistar.
Proletários de todos os países, uni-vos!”
Estamos, pois, na segunda década do séc. xxi, três décadas depois da queda do Muro de Berlim e do fim da União Soviética. O comunismo ruiu como um castelo de cartas, salvando-se na China graças a uma habilidosa transformação económica: a instituição do capitalismo controlado pelo Estado – que no caso chinês significa Partido Comunista –, resistindo em Cuba e vivendo tranquilamente no Vietname, num modelo semelhante ao chinês.
De regresso a Portugal, é um partido comunista a perder eleitores, eleição após eleição, que reclama pela revolução nos moldes marxistas-leninistas. Isto é, um confronto entre classes exploradas – proletariado e campesinato – e a burguesia capitalista.
Olhando para a sociedade portuguesa, não ignorando, obviamente, a existência de desigualdades gritantes, é pura ficção querer pintar o quadro com aquelas cores.
Eduardo Lourenço, agora desaparecido, escreveu em 2002:
“Com a queda do muro de Berlim e o fim da experiência soviética, o socialismo como mito e a Esquerda que dele vivia, tornou-se um envelope vazio. Pior do que isso, o seu conteúdo, agora sem emprego histórico concreto, foi integrado, na medida do possível, na mitologia do Capitalismo, única prática universal da humanidade, como patologia dela ou versão de sonhos que só o Capitalismo concebe e alcança”.
Aguardem então os comunistas portugueses pacientemente pelos “amanhãs que cantam”, embalados por Marx, Engels e Lenine, uma vez que Estaline parece já não constar da constelação.
Jornalista