Covid-19. Em  15 dias, novembro  já ultrapassou  as mortes de abril

Covid-19. Em 15 dias, novembro já ultrapassou as mortes de abril


Mês de novembro já ultrapassou as mortes por covid-19 registadas em abril. 820 tinha sido o maior número num mês, mas em apenas duas semanas, novembro chegou às 837.


Nunca se tinha registado um tão elevado número de infeções a um domingo. 6035 foi o número de novas infeções registadas ontem, sendo que mais de 4000 aconteceram na região do Norte. 76 pessoas morreram, mais 21 do que no dia anterior, fazendo assim com que o número de óbitos registados desde o início do mês, ultrapasse o mês que até agora tinha tido a mais elevada taxa de mortalidade, abril. Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, acredita no entanto que a letalidade está a diminuir, ou seja, para o mesmo número de infetados existem menos mortes. Como explicação acredita que “apesar não existir nenhuma cura, melhoramos a gestão clínica dos casos. Além disso, é também possível fazer uma mais eficaz deteção dos casos”.

Portugal está há três dias consecutivos com mais de 6000 casos diários, o que está a preocupar os profissionais de saúde. No Norte, “estamos a assistir a uma falência das respostas hospitalares”, assume João Paulo Carvalho, presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros (SRNOE). Ontem estavam mais de 200 doentes covid internados no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa e o Hospital de São João está sem vagas para doentes que precisassem de ECMO (aparelho usado em doentes críticos, que permite a oxigenação do sangue em casos de falência respiratória em que a ventilação mecânica não é suficiente).

São vários os hospitais pertencentes à ARS Norte cujos recursos, físicos e humanos estão a escassear. João Carvalho afirma ao i, que as 700 camas disponíveis de que o Governo fala para os cuidados intensivos, não são uma verdade absoluta, “estão a enganar a população”. O enfermeiro explica que para que essas camas estejam disponíveis, e podendo eventualmente chegar às 900, é necessário que se transformem unidades de recobro e de cuidados médios em “supostas unidades e cuidados intensivos”. Mas os doentes não precisam apenas de camas e de máquinas. Precisam também, e especialmente, de profissionais de saúde especializados nos serviços em que estão a trabalhar. João Carvalho revela que o que está a acontecer é que, no caso da sua área em específico, enfermeiros de outras unidades estão a cuidar de doentes de covid em cuidados intensivos. “Para se ser um enfermeiro de cuidados intensivos com autonomia e competência, tem de se estar ali durante pelo menos dois ou três anos”, afirma o enfermeiro. E continua: “Não é ‘vamos abrir aqui uma unidade de cuidados intensivos’ e os enfermeiros de anestesia ou de outro sítio qualquer vão tratar destes doentes”.

Para o enfermeiro é necessário que a comunicação feita pela DGS seja mais eficaz e que as medidas impostas passem além do papel e do “obrigatório mais ou menos”. O profissional acredita que é normal que a população esteja cansada da pandemia e que não perceba as mensagens que são constantemente contraditórias. “As touradas podem ter público mas o futebol não. Fecha-se o comércio tradicional mas não fecham as grandes superfícies”, continua João Carvalho, “as pessoas estão cansadas da pandemia, de indecisões e das falhas na comunicação. É um erro gravíssimo em termos de comunicação dizer às pessoas que está tudo bem”, afirma o enfermeiro que sente diariamente a pressão a que os hospitais da ARS Norte estão sujeitos. Também Ricardo Mexia assume que “a coerência na comunicação é a chave” e que tal não está a acontecer.

A partir de hoje, outros 77 concelhos juntam-se aos 121 previamente sinalizados pelo Governo devido ao elevado risco de contágio. As medidas continuam a passar pelo recolhimento obrigatório a partir das 23 horas, quando não existe uma justificação para se estar na rua. O objetivo do Governo é que se diminuam os contágios em contexto familiar e social, que representam 68% dos novos casos.

No entanto, se alguém estiver na rua no horário em que é proibido, não é sujeito a nenhuma multa. O presidente da SRNOE acredita que, enquanto as regras funcionarem como uma recomendação, em vez de uma obrigatoriedade, não vão ser cumpridas. “Quem não cumpre, tem de ser condenado”, afirma João Paulo Carvalho, “as pessoas estão constantemente a infringir regras e não lhes acontece nada”.

Relativamente à comunicação da DGS, acrescenta “não podemos ter a senhora diretora-geral da Saúde a falar como se estivesse a falar para as suas orquídeas. Eu quero é saber se ela sabe controlar uma pandemia e até hoje já mostrou que não sabe”.