Depois das restrições anunciadas há uma semana para o encerramento obrigatório dos espaços culturais até às 22h30, na noite de sábado, com o decretar do estado de emergência que vigora já a partir desta segunda-feira e o recolher obrigatório anunciado para os próximos 15 dias nos 121 municípios mais afetados pela pandemia, o setor cultural viu-se confrontado com uma nova limitação: aos sábados e domingos, o recolher obrigatório que durante a semana tem início às 23h começa logo a partir das 13h. No setor, o dia de ontem foi passado a estudar, de novo, novos horários de programação ajustados a mais uma nova restrição e o cenário que vai começando a desenhar-se, apurou o i, é o de uma nova realidade com sessões de cinema e de espetáculos durante as manhãs de sábado e domingo.
Depois de uma rentrée que se fez em força em setembro sobretudo nos teatros, os festivais continuam neste mês de novembro a suceder-se ou a realizar-se mesmo em simultâneo. A decorrer estão a Festa do Cinema Italiano por várias cidades e, em Lisboa, no Cinema Ideal, o segundo momento de programação do Doclisboa. Hoje tem início em Coimbra a 26.ª edição dos Caminhos do Cinema Português, dia 20 de novembro arranca mais uma edição do festival de cinema Porto/Post/Doc. Ainda antes disso, já no próximo dia 13 arrancam outros dois festivais em simultâneo: o Leffest – Lisbon & Sintra Film Festival, de Paulo Branco, e, no campo das artes performativas, o Alkantara Festival.
Assim que a notícia chegou ao Leffest, a venda de bilhetes foi suspensa para que o programa pudesse ser redesenhado. A venda de bilhetes é retomada na manhã desta segunda-feira já com os horários reajustados – e, segundo confirmou o i, com sessões a realizarem-se no Nimas e no Tivoli BBVA, em Lisboa, e no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, nas manhãs de sábado e de domingo, num horário que permita o cumprimento da nova imposição de recolher obrigatório a partir das 13h. Para acomodar a impossibilidade da realização de mais do que uma sessão diária por sala aos fins de semana, que até sábado não estava prevista, o festival vai prolongar-se por mais três dias, até dia 25. “Já estávamos a contar com um recolher obrigatório, não estávamos a contar com esta limitação a partir das 13h. Já tínhamos imensos bilhetes vendidos”, disse António Costa, da Medeia Filmes e do Leffest. Os bilhetes para as sessões que já não irão poder realizar-se poderão ser trocados a partir da manhã desta segunda-feira.
Para o Nimas, que estará entre 13 e 25 de novembro ocupado com a programação do festival, não está excluída a hipótese da realização de sessões matinais caso a imposição de recolher obrigatório se prolongue nos termos em que foi anunciada para lá das duas semanas pelas quais vigora.
Ao i, também David Cabecinha, codiretor artístico do Alkantara, que arranca no mesmo dia, adiantou estar a ser estudada a possibilidade da apresentação de espetáculos no horário da manhã. “Estamos a estudar reformulações dos horários e dos dias de apresentação dos espetáculos sem comprometer os projetos artísticos e tentando ao máximo que os horários sejam comportáveis para aquilo que são os horários de trabalho das pessoas”, afirmou, alertando para uma questão adicional que se coloca no caso dos teatros:a da preparação e montagem dos espetáculos. “Há algumas informações que ainda estão em falta, que só vamos conseguir saber quando conhecermos o diploma amanhã [segunda-feira]. Não é muito óbvio se as equipas podem continuar a trabalhar à tarde e à noite aos sábados e domingos, o que tem algumas implicações nos tempos de montagem. Mesmo que não pudéssemos ter as apresentações públicas, poder continuar no teatro a trabalhar facilitava os tempos de preparação”, alertou. “E, sim, estamos a considerar uma coisa que não faz parte do nosso ritmo que é ter espetáculos aos fins de semana de manhã, que normalmente é um horário destinado a projetos para famílias. É uma possibilidade que estamos a ponderar. Isto no fundo tem a ver com a possibilidade de acesso a projetos e com a possibilidade de concretizar, de finalizar e poder ficar com projetos partilhados. Não é de todo óbvio que de repente seja viável ou exequível cancelar as apresentações agora e achar que vamos conseguir fazê-las daqui a uns meses, as programações não funcionam assim. E porque é essencial também para os artistas conseguir ter os seus trabalhos finalizados, porque os pagamentos também estão dependentes dessas apresentações. Há uma precariedade que não se pode perpetuar por falta de condições para se fazer os espetáculos àquelas que seriam as horas normais”.