Cansados da apatia económica e social

Cansados da apatia económica e social


O nepotismo, a falta de regras meritocráticas e a profunda incompetência que paira pelo país constituem a base da responsabilidade por sermos, efetivamente, o país menos desenvolvido da Europa.


No contexto da sociedade e da política portuguesa, invariavelmente assistimos a um excessivo, abrangente, incompreensível e continuado conjunto de casos assentes em comportamentos e atitudes bem reveladoras de um arrepiante desprezo pelas normas de bom senso ético, moral e legal. Ao invés, esses casos são mais facilmente explicados à luz do nepotismo, da falta de regras meritocráticas e da profunda incompetência que paira pelo país. São essas características que dominam muitas das tomadas de decisão e, por conseguinte, constituem a base da responsabilidade por sermos, efetivamente, o país menos desenvolvido da Europa – com menor rendimento per capita, com menor produtividade e que, segundo o respetivo observatório internacional, apresenta maiores indícios de corrupção. A teia de instituições públicas que interferem, travando de forma burocrática a velocidade do desenvolvimento da sociedade e da economia portuguesa, existe para servir a necessidade que os partidos políticos têm de distribuir lugares pelo vasto grupo de pequenos interesses que à volta deles gravitam. Há muito que se perdeu a lógica da estratégia política orientada para o desenvolvimento e para a sustentabilidade da economia. As fragilidades económicas de Portugal são evidentes e são consequência direta da ausência de rumo e visão de longo prazo para a criação de riqueza.

A facilidade com que os laços familiares constituem critério nas nomeações para o Governo, instituições europeias, direções-gerais, assessorias e empresas com contratos com o Estado é a mais forte demonstração de ausência de pudor com que o Partido Socialista assume práticas que em nada correspondem à essência do socialismo – nepotismo e trapaça generalizados sem qualquer pudor, tendo por consequência a fragilidade da competência do Governo, tão evidente nas medidas, nos discursos, nas posturas e nos resultados das políticas (ou ausência delas). É o conforto não meritocrático que o sistema nepotista proporciona o grande responsável pelo atraso da economia nacional.

À imagem da frágil reputação internacional que Portugal carrega quando de sustentabilidade, criação de valor e geração de riqueza se trata, também na grande região metropolitana de Lisboa é evidente o desnorte e a incompetência na condução das políticas locais. A forma retalhada como em Lisboa se tomam medidas completamente idiotas, desgarradas e sem sentido estratégico (o investimento em ciclovias, apertando a já difícil circulação automóvel, é a última das imbecilidades supremas) faz com que Lisboa tenha gradualmente vindo a perder competitividade internacional e qualidade de vida. Sintra, detentora de uma beleza estrondosa, tem estado ao abandono e não há, além dos planos para um novo hospital, nada de relevante a apontar no marasmo que tem caracterizado os anos de governação socialista. Amadora é invariavelmente mencionada pelas piores razões, não se observando quaisquer intervenções ou medidas políticas no sentido de reequilibrar a instável coesão social que ali se vive. Ao contrário destas histórias de incompetência e irresponsabilidade, Oeiras continua na rota do sucesso económico e social. Se o país tivesse os mesmos índices de crescimento e desenvolvimento socioeconómico de Oeiras, estaríamos hoje nos lugares cimeiros da Europa – uma verdadeira aldeia gaulesa no panorama nacional no que a coesão social, criação de riqueza, geração de valor e qualidade de vida diz respeito.

Um conselho aos lisboetas, sintrenses e amadorenses: inspirem-se na história e no trabalho de Oeiras e exijam competência na condução dos destinos das vossas terras porque os socialistas que vos governam, de socialistas e competentes nada têm.

A mim já me falta a paciência para a continuada apatia económica e social que se instalou em Portugal. Poderíamos ser muitíssimo melhores!

 

CEO do Taguspark e professor da Escola de Gestão do ISCTE